Capitulo Sete

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Os acontecimentos que seguiram adiante foram flashes rápidos pra mim. Minha mãe gritou de felicidade, meu pai socou o sofá, eu queria chorar com tamanha humilhação nacional e logo senti uma gritaria extrema vinda do lado de fora de casa. Eu queria estar ligada no 220, mas no momento, eu parecia estar em choque.
- FILHA VOCÊ CONSEGUIU- minha mãe me levantou do sofá e me abraçava como se aquela fosse a conquista da minha vida. - Não tenho palavras para dizer o quanto estou orgulhosa.
Então porque eu me sentia oca? Era pelo fato de entrado por dó? Ou pelo fato de que o que eu mais temia tinha acontecido? Ou uma junção dos dois?
A gritaria do lado de fora só aumentava e o público clamava pra que eu aparecesse. Eu queria fugir, na realidade queria me enfiar em um buraco e fingir que nada disso estava acontecendo.
- Vamos acenar para eles - minha mãe disse esperando alguma reação.
- Eu não quero - disse com a voz meio trêmula - não quero mãe.
Meu pai apertou meus ombros.
- Não sairemos do seu lado nem por um momento querida. Mas protocolos são protocolos. Se todas fazem, você precisa fazer também.
Eu estava muito aérea, mas mesmo assim fiz o que meu pai me disse. Afinal, ele estaria do meu lado. Os dias não estavam fáceis por essa competição idiota, mas sei que no fundo, ele seria o único que eu poderia contar.
Subimos as escadas para a sacada do meu quarto e minha mãe em ato teatral abriu a porta. Eu quis parar no meio do caminho e correr, mas meu pai apertou meus ombros mais uma vez, um gesto suave mas que dizia que estaria ali. Eu me aproximei mais da sacada e o que vi me deixou anestesiada. Uma multidão de pessoas se abarrotavam para ver quem era a escolhida de cotas da competição. Me surpreendi ao ver gente da mesma cor que eu, que eu nunca havia visto. Essas pessoas acenavam, e gritavam meu nome. Algumas até jogaram rosas na sacada de casa. Eu apenas ficava atônita, mas logo tratei de fazer o que minha mãe estava fazendo. Acenei para todas elas, e até peguei uma rosa e joguei de volta pata uma menina que chorou ao pega-la. Aquilo tudo era surreal. O que estava de fato acontecendo?
- Precisamos entrar - disse meu pai com uma voz serena.
Não pensei duas vezes. Acenei mais uma vez para todos e me retirei. Mesmo assim, a multidão gritava meu nome. Era tudo muito bizarro.
- Vamos esperar o comunicado oficial na sala. - disse meu pai olhando para mim. - Esse comunicado vai ser enviado especialmente para a família das selecionadas.
- Não quero ir pai...
OPA!! Minha voz está trêmula demais. O choro ameaçando vir.
- Sinto muito filha - disse meu pai me abraçando - é a Lei.
Repousei a cabeça no ombro do meu pai apenas por alguns instantes porque não queria chorar e não queria que minha mãe acabasse com o momento terno que estávamos tendo.
- Diz pra mim que você fez sua mala Elisabeth? - o tom autoritário da minha mãe cortava todo o clima.
- Claro - disse seca - Vocês não acham ridículo? A filha de vocês entrar por pena? Com um programa social...
- O que há de mal nisso? - disse minha mãe me fuzilando com os olhos - Se há um programa agora, porque não usar? De todo o jeito, você está lá...
- Mas não por quem eu sou!! - gritei - E sim por COTAS!! COTAS que me farão ser a COITADINHA DA NOVA AMÉRICA.
Queria chorar mas me contive. Minha mãe sentiu o clima e pela primeira vez decidiu não brigar, meu pai apenas assentiu e sentou-se na sala.
"ATENÇÃO JOVENS SELECIONADAS, ESSE É UM COMUNICADO OFICIAL DA NOVA ORDEM PARA A COMPETIÇÃO DAS NOIVAS.
SIGAM POR FAVOR ESSE PROTOCOLO, QUALQUER DESVIO NAS RECOMENDAÇÕES A SSGUIR, SERÃO ACARRETADAS A DESCLASSIFICAÇÃO DE QUALQUER UMA DE VOCÊS.
NOS FUNDOS DA CASA DE CADA UMA HÁ UM CARRO ESPERANDO POR VOCÊS. ENTRE IMEDIATAMENTE. NINGUÉM DEVEM VÊ-LAS.
FAMILIARES EM BREVE SERÃO CONVIDADOS AO CASTELO POR ODEM DO REPRESENTANTE THOMÁS, DADO A ISSO, A DESPEDIDA DE VOCÊS ACONTECE AQUI.
SENHORITA ELISABETH SMITH, A SENHORITA PRECISA SAIR EM OITO MINUTOS."
Como um flash mais uma vez, a TV desligou e ficamos nos entreolhando em silêncio.
- Creio que é isso não é? - disse minha mãe me abraçando. - Já te seguramos tempo demais por aqui.
Eu a olhei nos olhos. Minha mãe não chorava, mas nesse momento seus olhos marejavam. Eu a abracei forte. Mesmo com todas as diferenças desde que esse inferno havia começado, eu a amava. Ela é acima de tudo, minha mãe. Ninguém poderia pelo menos, tomar esse lugar.
- Eu te amo mãe - disse por fim me cedendo asl lágrimas.
- Também te amo Elisabeth - ela disse se segurando - Prometa que vai se comportar? Que vai pelo menos lutar um pouco por isso?
- Mãe...
- Prometa pra mim Liz - ela suplicava com os olhos - Não é sempre que podemos ser representadas e você sabe. Só prometa pra mim...
Suspirei e acenei.
Meu pai foi mais sucinto e breve. Não falou muitas coisas, mas não porque não estava sentindo o peso de tudo aquilo. Mas ele sempre foi assim, quando sofria ou ficava bravo, se retraia para lidar com isso depois. Sei que quando eu saísse, ele faria a mesma coisa.
A mala feita me esperava na porta dos fundos aonde a multidão não tinha acesso. Inteligentes eles foram. Tenho que admitir.
Mamãe me deu um último beijo no rosto e meu também. Queria poder ter dito mais coisas, mas no momento não havia nada que eu pudesse dizer, era uma escolha que eu tinha que enfrentar.
- Senhorita Smith - o guarda me cumprimentou - Está pronta?
Ele estava com o mesmo uniforme da última vez que estava em minha casa. Era o mesmo guarda.
- Claro - disse calmamente - como não estaria não é?
- Peço por favor, que entre no carro e não abra os vidros de modo algum. A viagem será longa até o destino do aeroporto. Chegando na capital de Nova Washington, o trajeto será feito de outro modo.
- Outro modo? Como assim?
O guarda sorriu enquanto eu entrava no banco detrás.
- É uma supresa do palácio para as senhoritas. Mas só posso dizer que... Bon não terem medo.
INFERNO - foi tudo que pensei. E o carro partiu.

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