Acordo sentindo dificuldade para respirar, está tudo de ponta cabeça, eu ainda estou dentro do carro. Minha visão está embaçada, não consigo sair do carro, na verdade não consigo me mexer. Olho para o meu lado esquerdo e vejo um carro capotado com um homem sangrando e desacordado, provavelmente ele foi arremessado para fora do carro. Eu causei esse acidente, meu Deus, será que ele está bem?
Passo minha mão de leve no topo da minha cabeça, onde está doendo muito, está sangrando. Olho para as minhas pernas, estão presas no painel do carro, mas ainda as sinto e tem um estilhaço de vidro no meu ombro, que está sangrando muito e a pressão que estou sentindo no peito é surreal, sinto como se alguém estivesse me esmagando, mal consigo respirar. Meu pontos abriram e minha barriga está sangrando muito, que droga.
Desse vez acho que realmente é o fim, tiros e logo em seguida um acidente de carro, como alguém sobrevive a tantos acidentes?
Vejo um homem com um telefone na mão, falando que tudo vai ficar bem, que ele já chamou a ambulância e que eu preciso continuar viva, que eu preciso respirar, minha família precisa de mim. Como se eu pudesse controlar isso.
Quando a morte vem, ela senta para te contar uma história, a sua história. Tudo que tenha te levado até onde está, todos os momentos que já marcaram sua vida, tudo passa diante dos seus olhos. A morte não é uma inimiga, eu não a vejo dessa maneira, eu a encaro todos os dias quando tento salvar a vida de um paciente.
Desta vez, eu sou o paciente, sou a pessoa que está pronta para ouvir a história que a morte tem para me contar, seja ela boa ou ruim, seja a minha última chance ou segunda. Eu estou pronta. Se realmente for o meu momento de ir, eu irei e está tudo bem.
Tento continuar respirando e me manter acordada, está cada vez mais difícil, minha visão está escurecendo e as pessoas ao redor do carro aumentam.
Como eu vim parar aqui?
***
Acordo pela segunda vez com uma onda choque percorrendo todo o meu corpo, acho que eu tive uma parada cardíaca. Tem um tubo de respiração na minha garganta, médicos conversado e se movendo rápido ao redor da maca. Eu estou assustada mas reconheço essa sala.
— Vai ficar tudo bem - Uma enfermeira me diz sorrindo. Eu sei que não vai, eu sei que estou quase morrendo, sei que quando falamos isso a um pacientemente em estado grave, queremos que ele se acalme, isso é importante, manter a calma e não deixar o paciente mais nervoso ou em pânico.
— É a Mia Carter. Ela é uma funcionária do hospital, temos que salvar a vida dela - No canto da sala observo o Doutor Jeff Thomas gritando com alguém, acho que nunca vi ele tão desesperado.
— Ela acordou doutor - A enfermeira fala e ele se vira imediatamente para mim
— Eu vou salvar a sua vida Mia, eu prometo - Fala um pouco emocionado.
Eu queria ter forças para responder, queria tirar esses tubos e agulhas do meu corpo. Tá tudo bem se eu for, está tudo bem se a morte decidir me contar minha última história.
Eu não tenho medo da morte depois do que vivi nesses últimos meses, aprendi a respeitá-la ainda mais.
— Vamos levá-la para a cirurgia. - Jeff fala em uma lado maca, antes de começar a mover. — Já avisamos sua família, eles já estão vindo, provavelmente vão chegar assim que a cirurgia acabar. - Ele respira fundo e começam a me mover para fora da sala de primeiros socorros — O Lucca Walker e o Enzo Connor já estão aqui. Mas o Daniel não, eu sinto muito - Ele fala triste para mim — Você já ficou desse lado da ala cirúrgica, já passou por isso. Eu espero que seja a sua última, vamos fazer de tudo para te salvar Mia, lembre de não entrar em nenhum lugar que tenha muita luz - Ele da um leve sorriso e entramos na sala cirúrgica.
Me sinto em casa, seria engraçado se minha última história fosse contada aqui. Este é o lugar onde eu tento mudar o curso de outras histórias, onde eu encaro a dona morte, é o meu lar a maior parte do tempo.
Os preparativos para a cirurgia começam e todos fazem tudo que podem o mãos rápido possível, cada minuto nessa sala de cirurgia importa para quem está deitado na maca, cada minuto perdido é um minuto que poderia ter sido devolvido ao paciente. Essa é uma profissão linda.
O anestesista me acomoda na maca, e sussurra no meu ouvido que eu não vou sentir nada e que seria bom que eu contasse do 5 ao 0, enquanto o sedativo faz efeito no meu corpo. E assim eu faço, respirando fundo e contando.
5
Me lembro do seu abraço, eu queria morar nele para todo o sempre, o conforto que eu sinto só no seus abraços nunca vou sentir em mais ninguém.4
Nunca vou esquecer o gosto da comida caseira que vocês faziam, o gosto da sua torta mãe, o gosto da sua comida pai. O conforto de voltar ao lar e ter todo o amor do mundo em uma só casa, em duas pessoas.3
Você sempre me defendeu mesmo eu sendo a mais velha, mesmo eu tendo que proteger você do mundo e seus perigos, você sempre será meu irmãozinho, sempre será minha coisa irritante.2
A todos que estiveram comigo na minha longa caminhada, a todos que me tocaram de alguma forma, a todos que me amam e me acolhem mesmo não tendo o mesmo sangue, eu os amo.1
Eu nunca vou admitir isso a você, mas eu estava começando a imaginar a nossa família e não a de quatro patas.0
Apago completamente
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Minha Doce Perdição (REVISANDO)
RomanceNÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS, PODE CONTER TRECHOS DE SEXO E LINGUAGEM INAPROPRIADAS!! TODOS OS DIREITOS RESERVADOS, PLÁGIO É CRIME ART.184 CÓDIGO PENAL!! "Minha vida pela sua, sem pensar duas vezes, com a cara e a coragem eu iria até o...