Consequências

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Cena 1
Rio de Janeiro, Capacabana 2020
Estão em cena Elisabeth, seu sobrinho Pedro, Dita, empregada há mais de vinte anos da família e Ernesto Garcia, novo proprietário da mansão.
ERNESTO(aperta a mão de Elisabeth)- Foi muito bom negociar com a senhora.
ELISABETH(tensa)- Igualmente. Amanhã mesmo desocuparei a casa para o senhor.
ERNESTO- Perfeito!
ELISABETH(para Dita)- Dita, acompanhe o senhor Ernesto até a porta.
Dita a obedece e acompanha Ernesto até a porta, que parece muito contente com a compra da mansão.
PEDRO(aproxima-se tristonho)- Eu sinto muito tia! Eu sei o quanto isso aqui significava pra senhora. A senhora e o tio Américo lutaram muito pra conseguir tudo isso.
ELISABETH- Desde a morte do seu tio a minha vida começou descer ladeira abaixo. Perdi dinheiro, perdi a minha família e agora a minha casa. Aos 67 anos vou ter que recomeçar de novo. Não sei se vou ter mais tempo...
PEDRO(pega suas mãos)- Eu estou aqui com a senhora. Eu prometi pro meu tio no leito da sua morte que iria cuidar da senhora.
ELISABETH- Você é como se fora um filho para mim, Pedro. Sempre tão prestativo, tão atencioso. O seu pai, o falecido Mariano irmão de Américo falava sempre que você seria um grande homem e um grande advogado quando crescesse. E hoje, vejo que ele tinha razão.
PEDRO- Eu lembro pouco do meu pai, aliás, dos meus pais...
ELISABETH- Quando eles morreram naquele trágico acidente de carro você tinha apenas cinco anos...
PEDRO- Vocês nunca me deixaram faltar nada. Me criaram como se fosse um filho, mas eu sinto tanta falta deles. No meu peito existe um grande vazio. Um buraco que jamais será preenchido.
ELISABETH- A vida é cruel meu filho. Mas não podemos sermos fracos. Temos que aprender levantar todas às vezes que caímos. A vida é feita de recomeços. Temos que sempre estarmos apitos para recomeçar. Pessoas se vão de nossas vidas, outras tantas entram é sempre assim. Ninguém consegue driblar o curso da vida. (pausa) Bem, eu vou para o meu quarto. Vou começar juntar as minhas coisas.
Cena 2
Água Santa, Minas Gerais.
Viviane caminha pelo campo indo em direção a plantação de girassóis.
Com seu olhar curioso, ela aprecia as belas imagens que a natureza a oferece e logo pega sua câmera que está pendurada no pescoço e começa tirar algumas fotos.
Na voz de Vinicius de Morais:
Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel
Roda, roda, roda
Carrossel
Roda, roda, roda
Rodador
Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor
Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel
Roda, roda, roda
Carrossel
Gira, gira, gira
Girassol
Redondinho como o céu
Marelinho como o sol.
Cena 3
Cai à tarde.
Após algumas horas no campo, Viviane está chegando em casa, onde encontra sua mãe Estelita sentada no sofá terminado de falar ao celular.
ESTELITA- Pode deixar que eu aviso. Tá, Tchau!
VIVIANE(aproxima-se e dá-lhe um beijo no rosto)- Falando com quem mãe?
ESTELITA- Com o seu namorado. Ele tá louco atrás de você.
VIVIANE(impaciente)- Que raiva do Leo! Eu não tô aguentando mais, mãe. Ele me sufoca! Quer saber onde estou, com quem estou, o que faço ou o que deixo de fazer. Eu não tô aguentando mais. Eu vou dar um fim em tudo isso. Eu não nasci pra viver sufocada. Eu nasci pra ser livre.
Viviane segue para o seu quarto.
Cena 4
Em seu quarto, Elisabeth está colando suas coisas dentro de uma mala e em meio a tantas coisas, ela encontra uma foto que tirou com o seu amado Santiago, um grande amor do passado.
ELISABETH(resmunga séria)- O passado está vindo bater na minha porta depois de tanto tempo. (pausa) Voltar pra Água Santa machucará muitas feridas que no peito ainda não foram cicatrizadas.
Elisabeth faz um flashback e relembra do dia em que deu a luz a uma menina em uma velha cabana de palha, onde se escondera por alguns dias do seu pai, um homem cruel e carrasco que prometera sua mão ao milionário Américo de Fiore.
ELISABETH(grita fazendo força)- Ah!
Depois de muitos esforços, a menina nasce, mas logo é tirada dos seus braços pela parteira mãe Da.
ELISABETH(emocionada)- Minha filha!
MÃE DA- A mãe já tá vindo pegá-la! É melhor você nem a vê.
De volta do flashback, Elisabeth enxuga as lágrimas e resmunga:
ELISABETH- Eu vou te encontrar minha filha. Eu vou te encontrar e desfazer todo esse mal que cometi no passado.
Elisabeth faz outro flashback e relembra quando a mulher chegara para pegar a sua filha, que é entregue por Mãe Da.
MÃE DA- A sua filha.
ESTELITA(a pega emocionada)- Como é linda!
ELISABETH(aos plantos)- Não.
MÃE DA - A senhorita se controle. Está noiva do senhor Américo de Fiore, e se o seu pai descobrir que estava grávida e que mantinha um caso com um qualquer,  ele não vai ter pena da senhorita. Pode até interná - la num hospício como louca. (para Estelita) Agora vá. Leve a menina e esqueça tudo isso que aconteceu aqui.
Estelita se retira com a criança recém - nascida nos braços.
Elizabeth volta do flashback e joga a foto dentro mala.
ELISABETH- Se você não tivesse sido covarde em fugir, eu não teria sido obrigada a dar a minha filha para uma estranha.
Cena 5
Em seu humilde estabelecimento, Santiago trabalha consertando sapatos masculinos e femininos da população do Vilarejo.
A sua volta, a quantidade de sapatos velhos e as cores escuras dos seus móveis e paredes revelam o peso da solidão.
Nesse momento, uma cliente adentra no estabelecimento.
CLIENTE- Boa tarde seu Santiago! Vim pegar a minha sandália que deixei aqui semana passada.
SANTIAGO- Boa tarde! Já está pronta.
Santiago levanta-se, pega a sandália e entrega-a.
CLIENTE- Quanto lhe devo seu Santiago?
SANTIAGO- Eu tive que colar e passar uma costura. Sendo assim, o serviço completo ficou por vinte reais.
Cena 6
Anoitece.
Viviane está voltando da padaria, quando então é surpreendida por Leo que agarra em seu braço.
LEO- Finalmente te encontrei!
VIVIANE- Que isso? Me larga!
LEO- Você está me fazendo de besta Viviane? Eu passo o dia todo ligando pra você e você não me atende. Pra saber notícias suas tive que ligar pra sua mãe. O que está acontecendo? Você anda me traindo? Você conheceu outro homem, foi isso?

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