Os poetas não dormem

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O que será dessa vez

o relógio já marca mais de uma da manhã

a goteira persistente irrita os nervos

o barulho da chuva lá fora molha os intestinos

pega a seda, enrola um cigarro e fuma

a cama foi abandonada, está de novo sobre o teclado

não tem absolutamente nada para dizer

apenas precisa escrever

sem razão aparente o sono não vem

os minutos passam juntos com os carros

a garganta arranha a fumaça já exagerada

a luz amarela do abajur e vermelha do computador

Espanha

não, nada de espanhol

só o lençol bagunçado

a mente ansiosa, entediado

de mais uma noite longa e molhada

os poetas não dormem

bebe mais um copo d'água

outro trago e o silêncio misturado

com o maldito som da goteira

outra noite igual a tantas outras

a mente que trabalha um verão

e atrapalha o sono frio

do dono destas palavras sem sentido

não sabe como encerrar o poema

já deu boa noite há muito tempo

engole seco o pigarro amargo

coça a cabeça vazia de ideias

esqueça, só mais um anoitecer

de poeta

e os poetas não dormem

falecem

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