Trem Transiberiano

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Malkovich embarcou em Paris

o trem tinha a direção de Moscou

Malkovich fez o que sempre quis

largou tudo e enfim viajou

Ao chegar na fria capital moscovita

Nastassja em sua cabine embarcou

o Trem Transiberiano inconteste apita

e o sonho de uma viagem longa começou:

Malkovich se encantou

com os olhos e cabelos escuros

de Nastassja que timidamente sorriu

sem delongas ele se apresentou

Malkovich, lhe amava contar histórias

Nastassja curiosamente deliciava-se ouvi-las

Por muitos dias e noites

quilômetros sem fim

ele cantava em prosa uma vida rica

com momentos de glória

e derrotas comuns

ela acenava, sorria ou franzia

e adjetivos apontava

que belo!

que singelo!

que triste!

que peste!

assim a Europa se foi

e a Ásia surgiu

os montes, estepes, tundras

o que fosse

decoravam as janelas

mas ele só tinha

olhos nela

e ela ouvidos nele

o Trem Transiberiano

apitava inocente

e não era consciente

do encantamento que havia

na cabine sessenta e seis

onde Malkovich se apaixonou

e Nastassja o beijou

em Vladivostok

viveram os últimos anos

de Malkovich

tiveram bons e maus momentos

sobreviveram felizes

aos doces tormentos

ela o ouvia e agora corrigia

ele a respeitava e aprendia

um romance burlesco

improvável

imprevisível

mas quem poderá dizer

as razões quentes que vem do coração

nos caminhos frios siberianos

Nastassja se lembra de Malkovich

com carinho

não se arrepende

nem um pouquinho

de ter naquele dia

embarcado em Moscou

sem saber que havia

na cabine sessenta e seis

o homem que queria

Malkovich

o contador de histórias

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