Naufrágio

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Afundou em meio a seca do planalto
no asfalto negro a cinquenta e cinco graus
mergulhou a face na aspereza do piche entre pedras
sentiu a carne rasgar e o ranger dos ossos

A dor do tombo que leva todos ao martírio
dos sentimentos feridos e vilipendiados
um precipício próximo e nada incomum
era mais um a se ver vítima do concreto

Sem mais perspectivas ou ilusões chorou
na miragem da vida urbana e cívica
um dia sonhou com uma realidade possível
acreditou que entre os veículos havia um caminho

Morreu sozinho no tráfego dos corpos e almas
que se digladiam egoísmos e incompreensões
não há amor na metrópole cinza dos homens e mulheres
que são incapazes de aceitar, permitir e perdoar

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