Lágrima seca

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Uma lágrima seca se encontra perdida

na face do poeta que ainda acredita

mas teme a morte da vida como se entendia

respira por aparelhos em coma induzido

está mais sozinho ainda mais que nunca

porque hoje não tem liberdade nem opção

o poeta vê enxerga longe enxerga profundo

e sabe quando a dor se instala e exala fel

suas células cansadas suspiram silêncio

as pernas fracas não caminham alamedas

os braços ficaram sem abraços sem calor

a boca triste não beija não sorri não come

os olhos presos às paredes do confinamento

é um hiato prolongado recheado de sombras

o sol lá fora não aquece a chuva não molha

escuta os móveis que circulam e pensa sombrio

onde vão o que buscam agora que não é hora

deveríamos todos estarmos cegos mudos surdos

paralisados por um giro da lua que teima no céu

quiça mais que isso estado latente quase permanente

assim deveria ser assim deveria ser assim mesmo

radicalmente covardes um ato de coragem se abster

mas negam o fim negam a verdade negam a justiça

e todos irão pagar essa cruz que vermelha mata

aniquila sucumbe destrói rios riachos e destroços

milhares de casualidades nada casuais mortais

pais avós filhos amigos e inimigos banidos corrompidos

a era mais seca sombria e dolorosa do fim da solidariedade

umbigos egos ignorância e ostentação dos abestados abastados

o fim de um ciclo talvez uma nova história talvez não

resta só a lágrima seca um pouco de sal um grão de vida

réquiem ressurreição uma páscoa tardia até que um dia

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