Rafaella estava fabulosa naquele vestido preto cintilante. Suas costas estavam completamente amostra, em um decote que ia dos ombros até o final da coluna, o vestido longo colado em sua pele, valorizava todas as suas curvas. Não tinha a menor chance de passar desapercebida. Flashs de luz vindas das câmeras fotográficas vinham de todos os lados, e ela nem sabia para onde olhava ao fixar seu carão, que mudava de posição a cada segundo. Ela conversava com um sertanejo universitário que também estava no evento. Apoiada com uma mão no ombro do rapaz, os dois com certeza estampariam a próxima capa dos sites de fofoca.
Gizelly podia ver toda a chamada:"Rafaella Kalimann e Fulano de tal, novo casal, finalmente amor ou só mais uma aventura?"
O pensamento tirou um sorriso do seu rosto, "se ao menos soubessem..." pensou.
Agora o homem conversava em uma roda de outros casais, os flashs acabaram mas rafa continuou empoleirada nos ombros dele. O que fez com que Gizelly ascendesse uma luz de alerta na cabeça, ela tentava disfarçar o ciúmes com sarcasmo na maioria das vezes, mas era sempre um desafio.- Ih, desamarra... - Uma voz conhecida tirou Gizelly dos pensamentos, fazendo com quem ela encarasse a mulher que tinha descoberto seu esconderijo secreto na ponta do bar, onde ela pensou que poderia observar tudo e não ser vista. - Sim, eu te achei... eu sempre te acho. - Marcela respondeu, parecendo que lia os pensamentos de Gizelly. Sempre foi assim. Ela sempre lia Gizelly, parece que tinha um manual de instruções. Gizelly não disse nada, não ia adiantar tentar uma desculpa. A Marcela sempre sabia.
Marcela riu, apoiando suas costas no balcão, ficando na mesma posição que Gizelly e observou exatamente onde Gizelly olhava. "Hmf" resmungou enquanto dava um longo gole na sua bebida. Gizelly olhou de lado para Marcela, já começando a ficar fora do sério.
- O que foi? - Perguntou impaciente. - Eu achei que você não lembrava mais de mim. - Disse ironicamente e Marcela virou o corpo para ela.
- É praticamente impossível te esquecer, eu sei porque faz três anos que eu tento. E olha eu aqui. - Gizelly mordeu o lábio inferior ficando em silêncio, sabia que encontraria Marcela mais cedo o mais tarde. Elas tinham tido uma ultima conversa madura e definitiva a três anos atrás, mas certas coisas eram dificeis demais, Marcela ocupava um espaço gigantesco em qualquer lugar que estivesse e ela certamente não queria recomeçar uma DR já finalizada. Marcela leu ela novamente - Isso não vai dar certo, Gi. - Gizelly olhou confusa para Marcela, não queria falar disso. - Você vai se machucar.
- Com todo o respeito, Marcela, mas faz três anos que a gente não conversa. Você podia saber da minha vida antes, mas agora não faz a menor ideia do que está acontecendo.... - Gizelly disparou impaciente. - A menor..... - disse tomando um gole da sua cerveja.
- Ah não? - Marcela arqueou as sobrancelhas. - Eu te conheço muito bem. E só essa postura defensiva já é suficiente para confirmar a minha teoria.
- Que teoria Marcela? Não existe nada para teorizar....
- Ah não?
- Não! - Marcela soltou um sorrisinho. Ela sempre sabia como deixar Gizelly nervosa, ela sempre sabia tudo.
- Ok. - Marcela ficou em silêncio. Gizelly ficou irritada, ela sempre fazia isso e esperava Gizelly surtar. "ah pronto." pensou "eu não vou perguntar, eu não vou perguntar, eu não..."
- Que teoria Marcela?
Marcela se virou para Gizelly, que aguardava impaciente, e olhou fundo naqueles olhos escuros. Ela sentia muita saudade de Gizelly, se ela soubesse que perderia sua melhor amiga, teria trancado todos os sentimentos fundo no coração, nunca teria beijado Gizelly, nunca teria começado nada. Elas namoram por dois anos, mas Gizelly era ciumenta demais e Marcela era uma alma livre. Marcela queria ver o mundo, conhecer pessoas e amar sem limites, ser livre das amarras sociais. Ela amava muito Gizelly, mas acreditava que ninguém pertencia a ninguém e Giselly não era dona dela.
Gizelly era exatamente o contrário, se doava por inteiro para uma pessoa só, queria ser suficiente em todos os sentidos, queria conforto e estabilidade. Queria ser casa, morada, netflix, pipoca e carinho. O maior medo de Gizelly, era não ser suficiente para Marcela, era como se ela tivesse uma obrigação em ser suficiente, e essa expectativa machucava demais a ambas. Ela não conseguia compreender a necessidade de Marcela não se prender a ninguém. Quando ambas decidiram que a relação estava insuportável e anulando as identidades das duas, foi hora de terminar. A pior dor que cada uma delas poderia suportar, e que cada uma delas encarou da sua maneira. Marcela saiu para o mundo para trabalhar em causas sociais, como medica. E Giselly, por um tempo, se afundou em uma depressão. Dois anos depois elas se reencontraram, e conseguiram conversar para tentar manter uma amizade, um laço, mas ainda não era a hora certa. Elas não conseguiram voltar a ser apenas amigas e deixar o passado no passado, era muita história, muita carga, muita coisa, muita atração para apenas ignorar. O inevitável aconteceu, como sempre acontece, elas não se resistiram. Acabaram uma na cama da outra pelos meses seguintes. Até que um dia, depois de uma discussão sobre as mesmas e velhas questões, Marcela juntou suas coisas e foi para a África, trabalhar em uma missão. Então, três anos mais tarde, Marcela surge no evento que a atual "namorada" de Gizelly era uma das protagonistas. Só podia ser uma piada da vida.
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Ainda sem querer
Romance(Au: gicela/girafa) Gizelly, Marcela e Rafaella precisam enfrentar suas questões e dificuldades pessoais. Enquanto a vida se encarregará de entrelaçar o caminho das três, mais uma vez. Você pode correr, mas não pode se esconder do que precisa ser...