Marisol
No meu primeiro dia em minha casa nova, pedi um celular emprestado e telefonei para o Eugênio antes de ir dormir. Estou morando em uma cidade diferente e não seria agora que nos encontraríamos sempre... mas o lado bom é que os meus pais me disseram que eu poderia ir vê-lo nos finais de semana e não seria mais complicado para conseguirmos falar um com o outro.
- Como foi? – Eugênio perguntou, se referindo ao que aconteceu quando cheguei.
- Foi bem melhor do que eu esperava. – Respondi deitada na minha cama também nova, no meu quarto novo. Minha vida agora era uma tela a ser preenchida.
Na delegacia, minha mãe, a de verdade, me perguntou o que eu queria fazer antes de irmos para casa. Foi quando me dei conta de que iria embora com estranhos e tudo iria mudar. Ela disse que podíamos pegar minhas coisas ou que se eu preferisse, faríamos compras juntas. Por um momento pensei em pedir ao Eugênio para ficar na paróquia por enquanto, mas não achei que seria justo com as pessoas que tinham passado tanto tempo me procurando.
- Você sabe porquê eu estava com receio. – Falei. - Não sabia como eles eram, apesar dos dois terem sido bastante gentis quando ficaram ao meu lado durante as perguntas dos policiais.
- Entendo. – Eugênio respondeu.- Não é como se você tivesse tido um exemplo feliz antes.
Concordei.
- Obrigada por ter me tranquilizado. Só vim por conta do que me disse sobre ter conversado com meus pais por telefone durante a espera do resultado do exame e terem sido legais com você.
Eugênio riu.
- A sua mãe sempre me mandava áudios de "bom dia" perguntando como eu estava, pois o padre Carlos contou para ela sobre o ataque. Aliás, os gêmeos estão bem encrencados, pois o porteiro conseguiu filmagens da rua do prédio na hora em que eles apareceram.
- Fiquei tão preocupada e confusa com o que tinha acontecido...
- Desculpa. – Ele disse, com tristeza. - Não podíamos correr o risco de a Gorete desconfiar que estava sendo investigada e sumir com você. A resposta do laboratório demorou para sair e a polícia não podia emitir o mandato sem a confirmação.
- Entendo agora.
- Mas e aí, seus pais foram legais com você?
- Muito! – Respondi, sorrindo. – Quando nós chegamos, a moça que trabalha aqui me deu um abraço tão apertado! Ela tinha ficado trocado de turno para poder preparar tudo e participar da recepção. Estava com as filhas pequenas, que já tinham saído da escola e fizeram cartazes de boas vindas para mim com glitter e flores! Tinha uma mesa cheia de comidas gostosas também, comemos todos juntos e depois fiquei assistindo filme com as crianças.
- Que fofas! Parece que foi divertido. - Ele disse, animado. - Guardou um pedaço de alguma coisa para mim?
- Vou pedir para fazerem lanches quando vier aqui.
- Parece que o jogo virou! – Eugênio falou. - Da última vez fui eu que te fiz comer bolo.
Nós dois rimos, nos lembrando de como tinha sido bom quando eu fui até a paróquia.
- Queria ter ficado aí nos últimos dias de férias... – Falei com saudade. Mal tínhamos nos visto e já estávamos longe outra vez.
- Eu também. – Respondeu. - Mas é importante que passe o maior tempo possível com seus pais agora. E nós já combinamos de nos encontrar no sábado, vai passar voando! Nem vai perceber com tantas coisas para se atualizar.
- A primeira delas vai ser conseguir meu próprio telefone para nos falarmos mais facilmente. - Falei, decidida.
- Isso seria bom!
- Minha mãe disse que vamos comprar um amanhã. Espero que tenha tempo para responder todas as mensagens que irei de mandar de agora em diante!
Eugênio achou graça.
- Marisol, eu estou de FÉRIAS! Tenho horas livres de sobra!
- Até parece! – Fiz beicinho. - Suas aulas já vão voltar...
- Não importa. – Ele respondeu. - Sempre vou ter todo o tempo do mundo para você. E eu prometi que poderia me ligar quando precisasse, não foi?
- Foi...
- Pois é, vai se acostumando! Me avise quando tiver com seu número novo está bem?
- Está bem. – Eu disse, já com os olhos fechados, sonhando em como seria maravilhoso poder falar com ele quando quisesse. Senti minha boca se curvar em um sorriso.
- Boa noite, Sol. Hoje você se pôs, mas amanhã você renasce e a gente se fala outra vez.
Dei risada.
- Isso era ser uma piada?
- Foi ótima! – Ele se defendeu. - Você riu.
- Se está fazendo gracinhas é porque já está se sentindo melhor. – Respondi.
- É claro que estou melhor! No fim das contas a Helena tinha razão.
- Sobre o que?
- Você e eu. Ela me disse para confiar que tudo iria se acertar e agora parece que as coisas estão mesmo se encaminhando. Parece até mágica...
- Isso me fez lembrar que tenho que agradecer a todos eles depois. Mande um abraço para a Cíntia por mim.
- Vou te enviar o contato dela assim que estiver com seu telefone. - Falou. - Dessa forma, vocês duas podem conversar.
Fechei meus olhos de novo e bocejei, cansada.
- Você está com sono. - Ele percebeu. - Eu deveria parar de tagarelar para te deixar dormir. Talvez sonhe com alguma coisa boa.
- Tipo, você? - Perguntei.
Eugênio começou a rir.
- É. - Ele disse. - Tipo, você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Enrosca
Fanfiction🔹Destaque do @WattpadFanficLP🔹 Marisol é uma artesã adolescente que mora no interior do Brasil e tem um sonho: Ir ao show da sua cantora preferida, Taylor Swift, que está vindo ao país para trazer a sua nova turnê. Acontece que sua mãe nunca a dei...