VINTE E QUATRO

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Eugênio

- Já que a mulher que te criou era tipo a Nazaré Tedesco, acha que vão fazer um filme estilo aqueles do canal Lifetime sobre você? – Luan comentou com Marisol, depois de nos encontrarmos.

- Meu Deus, Luan. – Respondi. – Pare de ser sem noção!

- Não tem problema. – Marisol respondeu, apertando a minha mão, que ela segurava. – Foram os dias mais intensos da minha vida, mas já passaram...

- Está tudo bem, mesmo? – Perguntei, olhando para a expressão pensativa que ela tinha no rosto.

Tinha sido tudo muito estressante. Ficar longe da Marisol durante a apuração do caso foi uma tortura. Tive que me manter quieto, primeiramente por conta da ameaça que Gorete havia feito de que ia machucá-la e segundo, por conta do andamento das investigações. Fiquei sem saber como ela estava nesse meio tempo.

- Sim, eu só estava distraída. – Respondeu, olhando para mim e me beijou na bochecha. Luan rolou os olhos.

- Mas e agora? – Ele disse, enquanto entrávamos em uma das lanchonetes do shopping. - Como vão fazer com o namoro, vai ser à distância?

- Por enquanto sim. – Falei, caminhando até uma mesa no canto da parede, onde nos acomodamos. – Só tenho mais um semestre na escola e estou pensando em fazer faculdade na cidade da Marisol. O padre Carlos está entrando em contato com colegas de paróquias de lá, então caso eu passe no vestibular, talvez esteja de mudança também.

- Sério? Poxa, vou sentir sua falta, mas é óbvio que vai conseguir! – Respondeu. – Esqueceu que é um nerd?

- É verdade! – Marisol sorriu, olhando para mim. - Você vai nos visitar, não é, Luan?

- Quando der, eu vou sim. Quero saber se vai ter alguma menina gata na sua escola nova de riquinho...

Joguei uma bolinha de guardanapo nele.

- Seu interesseiro! – Eu disse. Luan jogou a bolinha de volta em mim, fazendo Marisol dar uma gargalhada. Ela colocou a bolsa no banco ao lado das nossas sacolas, tirou a carteira e se levantou.

- Guardem a mesa? – Pediu. – Vou pegar um milk-shake.

Ela pulou as minhas pernas e foi para a fila, enquanto eu e o Luan ficamos conversando. De repente ouvimos risadas na entrada da lanchonete.

- Está ouvindo? – Luan disse.

- O quê?

- O barulho do chocalho!

Virei à cabeça na direção da entrada e percebi que eram a Cássia e a Stephanie chegando e dessa vez trazendo o Valério com elas. Virei meu boné para frente e afundei no sofá de couro vermelho. Com sorte, talvez passassem direto e não me vissem sentado ali. Luan escondeu o rosto atrás do cardápio.

Eles rapidamente escolheram picolés e começaram a esquadrinhar o local procurando um lugar para sentar, até Cássia reparar na presença de Marisol, que voltava com um copo de plástico na mão. Cássia arregalou os olhos e andou até estar na frente dela, fazendo com que Marisol parasse no meio do caminho. A minha namorada fez uma expressão de que não tinha gostado de alguma coisa, mas estava tentando não transparecer.

- Você é a Marisol, certo? – Cássia perguntou. – Estou acompanhando o seu caso, meu pai é delegado. Ele levou um baque, sabe? Digamos que ele estava emocionalmente envolvido. Acredita que ele já foi namorado da sua "mãe"? – Ela mexeu os dedos no ar. – Eu sei, bizarro!

- Cássia! – Stephanie disse entredentes, cutucando a amiga com o cotovelo. Valério olhou para Marisol e sussurrou um "Oi" tímido.

- É mesmo? – Marisol respondeu. - Diga ao seu pai que eu agradeço pelos serviços.

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