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Shawn Mendes

Passei a noite de sábado em um bar na Lapa com os meus amigos, mas resolvi não beber muito, pois tinha que almoçar com a minha família no dia seguinte — e só eu sabia como minha mamma ficava revoltada quando eu aparecia de ressaca. Mesmo assim, curti muito a noite, dancei com algumas garotas, beijei outras, mas, acabei voltando para casa sozinho, o que foi uma surpresa tanto para mim, quanto para Bob, que já ficava à espreita perto da porta, só esperando para cheirar e lamber a minha acompanhante da madrugada. 

Ao deitar-me na cama, morto de cansaço às quatro da manhã, encarei o teto e, ao invés de sentir o sono chegar, foi a imagem daquela mulher que veio a minha mente. Camila. Certo, ela não era a primeira mulher bonita que eu já vi na vida — e nem seria a última —, mas, de alguma forma, ela ficou marcada — pelo menos nesse final de semana, não poderia dizer que ela continuaria na minha memória daqui a alguns dias. Talvez, pela forma atípica como nos conhecemos, com Bob dando uma de louco e correndo pelo calçadão, ou, talvez, por causa do seu sorriso e do modo como disse "não" para mim sem pensar duas vezes. 

Sendo sincero comigo mesmo, acho que tinha sido uma mistura de todos esses fatores. Eu não me lembrava da última vez que Bob havia se esquecido de ser educado, muito menos da última vez em que eu havia levado um "não" com tanto entusiasmo. Não que eu me ache a última Coca-Cola do deserto, mas sei que tenho um charme, sei conversar, fazer rir, uso as horas de academia a meu favor, gosto de estar sempre cheiroso e bem-arrumado e isso acaba encantando as mulheres de alguma forma. Com Camila, não funcionou. 

Será que é porque eu estava suado da corrida? Eu não estava fedendo ou algo assim, mas talvez eu não estivesse tão atraente, o que era péssimo. Ela não havia me conhecido no meu melhor momento e nem iria me dar a chance de mostrar todo o meu potencial. Seu "não" ainda estava gritando no meu cérebro e senti um gosto estranho na boca ao pensar que, provavelmente, eu nunca mais a veria e nem teria a chance de conhecer o gosto da sua boca. 

— Uma pena, Camila — pensei em voz alta, virando-me no colchão. 

Aos pés da cama, Bob me olhou com uma orelha arqueada, como se dissesse: "ou, talvez, ela simplesmente não tenha se interessado por você".

Era possível, lógico que sim, eu não era um babaca ao ponto de pensar que era irresistível para todas as mulheres, mas ninguém gosta de admitir uma coisa dessas, sabe? Que a pessoa simplesmente não tenha se interessado. 

Resolvi continuar com as minhas próprias conclusões e olhei de novo para Bob, que ainda me olhava daquele jeito como se soubesse de tudo. 

— Vai dormir, seu fofoqueiro. 

Abanando o rabo, ele murmurou alguma coisa em sua língua de cachorro e se acomodou melhor em sua caminha, fechando os olhos. Eu fiz o mesmo e logo senti o sono me dominar.


***


Acordei um pouco antes das nove da manhã e resolvi tomar café da manhã com a minha mãe. Arrumado, coloquei Bob dentro do carro e o levei comigo, pois sabia como ele se esbaldava com os Pestinhas e os meus primos menores no quintal enorme da minha mãe. 

Assim que estacionei o carro, Bob desceu e, antes mesmo de entrar em casa, pude ouvir as vozes altas de mamma e minhas tias. Uma coisa que precisava ficar clara para qualquer pessoa que entrava em nossa família, era que todo mundo falava alto. Todo. Mundo. Sem exceção. 

Buongiorno — saudei, entrando na cozinha e vendo minha tia Graziella cortando cebola, minha tia Beatriz fazendo molho de tomate — sua marca registrada —, tia Eugênia mexendo em algo na panela e mamma começando a fazer uma massa para macarrão. 

COMPANYDonde viven las historias. Descúbrelo ahora