NÃO ESQUEÇAM DE VOTAR
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Cheguei em casa perto da meia-noite e encontrei um Bob sonolento em cima do meu sofá. No auge da sua preguiça, ele bocejou e pensou em se levantar para vir em minha direção, mas mudou de ideia quando percebeu que eu já estava indo até ele.
Sentando-me ao seu lado, coloquei sua cabeça em minha coxa e acariciei atrás da sua orelha, sem conseguir tirar o sorriso idiota que esticava os meus lábios.
— A vida não é tão ruim, sabia disso, Bob? — perguntei como se ele pudesse me responder. Ele apenas olhou para a minha cara. — Sabe de quem eu sou amigo agora? Da Camila, aquela gostosona que você derrubou no calçadão em Copacabana. Quem diria que o destino a colocaria novamente em meu caminho, não é mesmo?
Ele continuou a me olhar com atenção por alguns segundos, em seguida, bocejou e farejou com interesse a minha coxa.
— Ah, você deve estar sentindo o cheiro da Gata. Não fique com ciúmes, ela até que é legal. Quem sabe um dia vocês não se tornem amigos também? — Acariciei sua cabeça e me levantei, ouvindo os seus passos atrás de mim. — Sim, eu sei que você não está acostumado a ouvir que eu sou amigo de uma mulher, mas ela é dura na queda e só me disse não. Apesar disso, ela é uma mulher maravilhosa e eu sinto que tenho que agarrar qualquer oportunidade para ficar perto dela. Louco, não é?
Não deixei de notar que não era apenas o destino ou a vida que eram loucos, eu também era, até porque, estava conversando com o meu cachorro e fazendo perguntas a ele. Apesar de essa ser uma constante em nossas vidas — Bob já estava acostumado a fazer parte dos meus diálogos —, o fato de estar compartilhando com ele o início de uma amizade com uma mulher era algo inédito e sentia que Bob estava um pouco surpreso com isso.
Ao virar-me para olhá-lo, no entanto, constatei que a surpresa já havia passado, pois ele se esparramou no tapete aos pés da minha cama e voltou a dormir como se eu não tivesse lhe contado o acontecimento do século.
— Obrigado pela sua atenção, Bob — murmurei e tive como resposta o seu ronco. — Cachorro ingrato.
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Deixei a sala de reuniões depois de ter decidido com a minha equipe a próxima campanha de marketing que faríamos para a divulgação da nossa nova plataforma digital de jogos. Seji, meu japonês gênio da computação gráfica, era o dono por trás de todo o software moderno e que ocupava pouco espaço nos celulares.
Antes que eu entrasse em minha sala, o parei no meio do corredor.
— Seji, só queria te agradecer mais uma vez. Você é foda, cara!
— Foda? — Ele repetiu com o cenho um pouco franzido, fazendo com que sua franja lisa e escorrida encostasse em seus óculos de grau.
Ao meu lado, Marta, minha diretora de marketing, riu.
— Ele quis dizer que você é incrível no que faz, Seji.
— Ah, sí. Incrível. Incrível é bon, né? — Ele perguntou com aquele sotaque carregado de quem estava aprendendo uma nova língua.