Entre grinaldas e preocupações

255 23 1
                                    

Helena olhou o próprio reflexo dentro do vestido branco de calda longa. A renda que compunha o tecido era cintilante, e brilhava tanto que a cada movimento distribuía flashes no espelho. A grinalda era uma mistura de flores e ramos esverdeados.

E o véu...Helena ainda não tinha palavras para descrever a leveza do tecido que lhe caia pelas costas e se espalhava pelo chão a sua volta.

Ela quase não se reconhecia emoldurada no sonho adormecido que graças a Max estava a um dia de realizar.

A imagem do irmão adentrou seu campo visual quando ele encaixou a cabeça no ombro dela e suspirou, limpando uma lágrima que descia pela bochecha.

- Você está tão... Ai, Hel... Nem sei o que dizer. Estou desnorteado na frente de tanta beleza. – ele murmurou baixinho enquanto pegava o véu dela e por tabela adornava a própria cabeça. Helena sorriu para o reflexo do irmão.

Ela realmente admitia que estava linda, mas ainda que seu sorriso transparecesse confiança, seus dedos trêmulos não mentiam, e estes seguravam com muita força o buquê estilo taça, repleto de rosas vermelhas. As flores que representavam tudo na sua vida: a paixão louca dela e Max; a paixão pela vida e pelo trabalho; as flores preferidas dela....e do avô.

Marcelo.

Helena sentiu os olhos marejarem ao se recordar do avô. Depois do que passaram e sofreram, tudo o que conseguia sentir era vontade de tê-lo por perto para realizarem aquele sonho juntos. Como ele bem dizia que seguraria a mão dela e a carregaria por todo o tapete em direção a próxima vida ao lado de um parceiro.

- Eu sei no que está pensando. – O irmão soltou um muxoxo. – E...não. Não vamos pensar no vovô agora. – Ele levantou um indicador. – É sério, Hel. Senão acho que sou capaz de chorar o dia inteiro, e ainda tenho muita coisa para resolver já que Gabi não está aqui.

O riso que ia brotando dela foi empurrado goela abaixo como se tivesse sido atingida por uma lufada de ar.

Desde o última dia em sua casa a amiga não aparecera mais. Simplesmente e do nada...puft. Desapareça como se nunca tivesse existido. Tudo o que restara foram as mensagens esporádicas, que ela tinha quase certeza de que não eram da amiga.

Helena conversara com o irmão diversas vezes sobre o paradeiro de Gabriela. É claro, não mencionara a investigação acerca da lavagem de dinheiro. Contudo estava tão preocupada que era capaz de acionar a polícia, mas Leandro tinha colocado na cabeça que Gabi fora atrás do amor por Carlos.

Na visão dela, Gabi até podia estar apaixonada pelo bandido...mas amar, a ponto de jogar tudo para o alto? Talvez. Nunca se sabe o tamanho da coragem de alguém apaixonado. Mas ainda assim tinha verdadeiras dúvidas. Carlos não era um homem simples, na verdade, ele era o perigo. E enquanto a amiga estava sumida, ele estava por ali, com a mesma carranca mulherenga de sempre, mas presente.

A única coisa que não a fizera se rebelar e cancelar o casamento era o fato de a última mensagem da amiga mencionar que estaria presente no grande dia.

Um estalo de dedos à frente do rosto a sobressaltou. Leandro revirou os olhos e suspirou. Ele sabia que falara em outra pessoa que também era motivo de tristeza, mas quando ia falar alguma coisa, uma cabeça masculina surgiu dentro da sala de prova do vestido.

-EI, BOY ! – Leandro berrou jogando o corpo na frente dela. - Sai já daqui! Dá azar ver a noiva antes da hora.

- Leandro... – Ela murmurou, tentando ver Max sobre o ombro do irmão.

- Calma... – A voz de Max disse de longe. – Eu tinha combinado com a gatinha que apareceria para deixar Lorenzo aqui.

- tsc...tsc....Vocês tratam esse cachorro como se fosse um filho. – O irmão sibilou estalando a língua. Helena escutou as patinhas de Lorenzo adentrarem o recinto.

Pedaços do Meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora