O beijo

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- Quer dizer que voltou aos trabalhos? - Carlos indagou, se referindo ao jogo de pôquer. Helena riu e se lembrou dos dias de negociação no qual ela, Carlos e mais dois clientes do avô jogaram enquanto esperavam o fim de uma reunião na China.

- Voltei...E vou acabar com você.

Os olhos puxados de Carlos a observaram desconfiados. Carlos realmente não a esquecera. Assim como ela também não o esquecera. E não por bons motivos. Todos nós carregamos um passado nas costas, mas alguns precisam apagar o seu e começar novamente. Helena esperava que Carlos tivesse feito isso.

Passaram a jogar. E a cada rodada, Helena faturava. Já havia aumentado seu capital para o dobro, 800 mil reais .

A cautela se tornou visível na expressão do homem de olhos verdes quando ele já estava quase falindo. Embaixo de sua mão, apenas três fichas de 100 mil reais.Os dedos dele alisavam levemente as cartas expostas na mão. Por um breve momento, coçou a barba e semicerrou os olhos na direção dela.

- Joga logo – Helena pediu, as próprias pernas eram duas britadeiras debaixo da mesa. Um sorriso torto formou-se nos lábios dele, ela bufou e se espreguiçou na cadeira aveludada.

- Você está blefando... – Ele concluiu.

- Se tem tanta certeza, joga...Ou corre. – Um sorriso breve perpassou os lábios carmesim enquanto ela se manteve olhando desinteressada o visor do celular.

- Ainda bem que eu estou fora... vocês dois demoram para jogar – Carlos resmungou.

Uma ruga formou-se nos meios da sobrancelha do homem de olhos verdes quando ele pôs as cartas na mesa. Helena se endireitou na cadeira para ver o veredito.

- É isso ai! – Ela deu um pulo da cadeira e depois bateu na mesa as duas cartas que estavam na sua mão :um às e um rei contra uma dama e um às dele.

- Parabéns – Carlos reconheceu.

- Você é uma viciada. – O homem declarou enquanto Helena puxava todas as fichas para si.

- Outra rodada? – Carlos desafiou.

- Nem pensar! A hora de sair de um jogo é quando se está ganhando. – Helena exibiu um sorriso triunfante e se levantou - Rapazes - Ela fingiu um cumprimento cortês e se dirigiu para o balcão de bebidas.

Pessoas com ternos e vestidos longos perpassavam animados enquanto garçonetes e garçons os rodeavam oferecendo comes e bebes.

O balcão de drinks era obscurecido com a luz azul escura da prateleira de bebidas . O barman sorriu para Helena enquanto balançava um conteúdo num recipiente. Ele o depositou no copo longo e adornou com um guarda-chuva rosa.

- O que temos aí? – Ela se debruçou um pouco sobre o balcão preto enquanto se sentava no banquinho.

- Martini clássico – O homem estendeu o copo para ela.

- Mais um por favor– Uma voz conhecida disse ao seu lado.

Helena se virou e deu de cara com as covinhas do homem dos olhos verdes num sorriso zombeteiro.

- Não aceita perder ou veio pedir que eu o ensine jogar?

Ele gargalhou.

- Vim apenas à procura de um drink. – Sorveu um gole mínimo quando o barman lhe deu seu copo, preenchido com o líquido brilhante.

- Você é um péssimo mentiroso. – Ela virou o que restou do copo de Martini.

- Qual sua profissão? 

Pedaços do Meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora