Presa com ele

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As sucessões dos acontecimentos posteriores se passaram como flashes: seu corpo sendo levado, o sacolejo dentro de algo em movimento, as pernas sendo puxadas...e novamente, a escuridão.

O cheiro veio primeiro, e estava tão pútrido que a sobressaltou. Mas embora tentasse abrir os olhos, a cabeça estava pesada. Helena gemeu, levando as mãos à nuca.

- Helena? – uma voz sussurrou longe. – Helena?

Seus cabelos pareciam ser acariciados, como quem estivesse tentando fazê-la acordar de um pesadelo. Ela abriu os olhos, e os sentiu revirar aleatoriamente. Todo o corpo era um chumbo, deitado sobre algo duro que a pinicava.

- Helena? – a voz repetiu. Ela se esforçou para olhar na direção do som. Quando observou a sombra dos olhos verdes que a encaravam, lembrou.

Aturdida com as sequências de memórias, tentou sentar, se afastar ou se debater no colo de Max. Porém seu corpo não respondia aos comandos.

- Calma. – Max pediu.Ela falou algo, mas só saiu balbucios inaudíveis. Tentou de novo, com toda a força que poderia ter.

- F-fica...long-ee. de mim.

- Eu tentaria. – Ele riu secamente. - Mas no momento estou preso aqui junto com você, gatinha.

Aos poucos, seu corpo pareceu dar sinal de vida, acordando do torpor de alguma droga. Ela se sentou com a coluna meio mole, se sustentando com as mãos. Os olhos turvos piscaram para se acostumar a escuridão. Ao seu redor havia apenas...palha.

Por Deus. O que acontecera? E Max... ela virou-se para a sombra dele.

- Me perdoe, Helena...

- Hãm? - Indagou, um pouco aérea. O lamaçal em baixo da palha a fazendo balançar as mãos para limpar-se no tecido da roupa.

- Você estava certa.

- Sobre... – Ela queria que ele continuasse, mas no momento, tudo o que crescia dentro do peito era pânico. Sua cabeça se iluminou com a gravidade da situação – Ai meu Deus. Fui sequestrada! Quer dizer, nós fomos sequestrados! Meu deus... meu trabalho. E Lorenzo? Gabriela?

Seus ombros foram segurados. Mesmo não conseguindo vê-lo, sabia que Max a encarava.

- Calma, Helena.

- Você pede calma?! – Se levantou de supetão, desnorteada. – Me diga exatamente o que aconteceu, Max!

- Bom... – ele continuou sentado, os cotovelos amparados pelos joelhos. – Depois que você me mandou embora e correu da nossa casa...

- Minha casa.

- Sua casa. – Max concordou. – Eu tentei ir atrás de vocês, mas...Olha, Helena. Não importa o que aconteceu, não é? Nada vai justificar, mesmo... E você está certa, Carlos sequestrou a gente.

Helena perscrutou o local com os olhos arregalados. Estavam em um pequeno cubículo iluminado apenas pela lua, cujo brilho perpassava por um buraco retangular fechado por ferros perto do teto. A frente dela, grades longas os prendiam, como uma espécie de prisão particular.

Ela levou as mãos à cabeça novamente, segurando o impulso de puxar os próprios cabelos. Não...aquilo não podia estar acontecendo. Helena encarou as grades, uma adrenalina estranha subindo pela coluna.

Sem pensar duas vezes, ela se colocou nas grades, tentando balançá-las com o pouco de força que os músculos amolecidos lhe deram.

- Eu já tentei fazer isso. – Max suspirou, passando as mãos pelos cabelos que eram iluminados pela lua. - Você estava certa sobre Carlos. – murmurou num fio de voz. Ela o observou, e meneou a cabeça.

Pedaços do Meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora