Confio em você

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Um homem barbudo apareceu na frente da cela deles. Em uma mão tinha um revólver, na outra, uma bandeja.

- Que barulho foi esse? – Ele perguntou, perscrutando o local com o olhar. Helena estremeceu dentro do abraço de Max, que mantinha uma serenidade fora do comum. – Não vão responder? Ok... – O barbudo pegou o revólver, colocando-o na barra da calça jeans.

Quando o homem se arqueou, mostrando a bandeja que levava dois pães com mortadela,  Helena mordeu os lábios, sentindo a boca aguar.

- Para aprenderem a cooperar.... – Começou, tirando um pão da bandeja com aquela mão imunda. - Vão dividir a comida. – Ele deixou o pão rolar pelo chão sujo de terra e palha. E como se não bastasse, pisou, massacrando o pobrezinho com o coturno.

Quando o pão se tornou um pedaço de massa preta, o homem saiu marchando, seguindo pelo corredor e subindo a escada. Helena sentindo vontade de chorar ao encarar metade da comida emplastada no chão.

- Helena? – Uma mão passou na frente do rosto dela. Helena suspirou e se virou pra ver o que Max tinha a falar. – O que você viu lá fora?

- Vacas. – Ela disse com um fio de voz.

- Hein?

- Vacas e mato. Só tinha isso lá fora. – Helena se cansou de lamentar mentalmente pela comida.

- Estamos numa fazenda, então?

- Não sei, Max. Acho que sim. Onde mais teria vaca e mato?

Max se levantou com cuidado, e fazendo o mesmo trajeto de antes, foi até o buraco com ferros. Ele se ergueu facilmente, observando a paisagem rural lá fora.

- Pelo menos agora temos uma saída. – Murmurou ele, agora analisando a grade que tinha em mãos. – Se conseguirmos tirar a outra grade acho que podemos passar por aqui... – Max se sentou do lado dela novamente e perpassou um braço pelos ombros dela.

- Será que a gente vai conseguir, Max? – Ela pendeu a cabeça para descansá-la no ombro dele.

- Temos que tirar a outra grade e talvez fazer um plano...

- Se a gente fugir, eles podem nos encontrar.

- E se ficarmos, a morte será certa. – Max completou.

Helena ergueu as mãos, massageando as têmporas. O famoso trocadilho "se ficar o bicho pega, se correr o bicho come" era uma realidade adequada para aquele momento.

Ainda assim, tudo aquilo era tão estranho. Como Carlos, sendo contador e amigo de Max, não saberia do sistema de segurança do cofre?

- O que foi? – Max indagou, observando a mudança de expressão dela.

- Como Carlos pode não saber que seu sistema de segurança é complexo e exige a participação de Mathews?

- Não sei, Helena. Acho que eu nunca contei...além de que é possível que Carlos não deva ter dado crédito à importância de Mathews, que por mais que não trabalhe diretamente na empresa, é essencial. - Max deu de ombros, ponderando. – Quando meu pai faleceu e eu precisei reerguer a Velax, não tive dúvida alguma de que meu irmão também seria uma das chaves pra ter acesso ao cofre... afinal, a empresa do meu pai foi deixada como um legado para nós dois.

Helena esboçou um sorriso, feliz por saber da importância que ele atribuía ao irmão. Assim como ela conferia toda importância do mundo à Leandro, que inclusive devia estar dando um piti naquele exato momento por ela não ter comparecido ao dia de noiva no spa.

Só esperava que o irmão desconfiasse de que sua ausência estava envolvida com algo muito maior à qualquer aversão pelo matrimônio que ela já pudera ter. Porque agora...ali, presa com Max, já não guardava nenhum obstáculo à união. Fosse o casamento de mentira ou não, Helena não tinha duvidas de que Max era o melhor homem que poderia ter ao lado.

Pedaços do Meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora