Salve-me

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Quando fechou a porta do apartamento atrás de si, desmoronou. Tentou segurar as lágrimas com as mãos, mas eram tantas e desciam pelo seu rosto feito um rio desgovernado. Com a visão turva, caminhou a passos rápidos para o elevador.

Assim que pisou na gaiola de metal, a porta de seu apartamento se abriu. Não precisava se virar para saber que era Max. Helena entrou correndo no elevador e pressionou o botão do térreo várias vezes.

- Helena!

Ele apareceu na frente do elevador. Os olhos arregalados e os cabelos mais desgrenhados que o habitual. As mãos de Max tocaram nas portas de metais como uma súplica para que não fechassem.

- Vá embora! – Helena conseguiu gritar antes delas finalmente baterem e o elevador começar a descer.

Quando chegou ao térreo, correu para o estacionamento com Lorenzo. Não queria olhar para trás e ver se Max a estava seguindo, pois ainda que quisesse que ele fosse embora, o coração se retorcia por saber que jamais o veria novamente.

Eles entraram no carro, e Helena afastou as lágrimas antes de engatar a ré e partir cantando pneu. Algumas pessoas que passavam na frente do portão do estacionamento do prédio se assustaram.

Se sentia muito mal, uma mistura de desespero e pesar, mas sobretudo, raiva. Não de Max, mas de si mesma.

Meu Deus!

Se tivesse ouvido sua cabeça, tudo seria diferente. Sabia desde o início que não precisava de herança alguma, e se dissesse não se pouparia de viver toda a desgraça que seu coração e ambição insistiram em lhe arrumar. Mas não, pagou pra ver. E seu medo se concretizou de variadas maneiras, levando consigo sua amiga.

Tudo aquilo era sua culpa.

Ela pressionou os lábios sentindo os músculos queimarem sob o rompante da raiva. Helena fechou os punhos e socou o volante, acionando a buzina. Estava desgovernada, por dentro e por fora. E enquanto soluçava, o carro em alta velocidade avançava todos os semáforos.

O retrato retorcido de Max insistia em nublar a mente dela. Helena meneou a cabeça repetidas vezes para afugentar as lembranças, tantas vezes que não viu quando uma mulher atravessava a faixa de pedestres com uma criança.

- Aaaaaargh! – Gritou, quando no último minuto conseguiu desviar.

Seu carro passou por cima do meio fio e subiu o canteiro de flores. Helena pisou no freio um segundo antes de se chocar em uma árvore. Um barulho ressoou do banco traseiro, indicando que Lorenzo havia caído devido a freada brusca. Ela arfou levando as duas mãos à cabeça.

A sua volta as pessoas a encaravam assustadas. Helena não teve coragem de sair para se certificar que a mulher e a criança estavam bem. Não estava em condições de ajudar a si, quem dirá outras pessoas.

Ela olhou por cima do ombro para Lorenzo. O bichano gemeu com o impacto, mas ainda assim se levantou e se sentou novamente no banco.

Onde estava com a cabeça?

A face de Helena queimou. A vergonha da atitude negligente estampava seu semblante. Céus! Poderia ter machucado aquelas pessoas.

Ela engoliu em seco e se forçou a tirar o carro do centro das atenções, dirigindo tropegamente para fora do canteiro e seguindo o fluxo de trânsito da avenida.Helena tinha os olhos fixos no asfalto, seguindo por ruas e avenidas e pontes sem qualquer destino. 

A verdade era que não tinha pra onde ir. Sua casa estava fora de questão, pelo menos até que Max saísse de lá. Gabriela tinha sumido. Leandro... era melhor nem colocar o irmão naquela confusão, ele seria capaz de ter um troço ao saber da enrascada que jogara fora todos os seus esforços perante a festa de casamento.Um casamento que não ocorreria nem amanhã, nem nunca.

Pedaços do Meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora