Capítulo 4- Não é culpa tua

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~Curran Narrando~

Os meus olhos abrem com uma dificuldade imensa, todo o meu corpo dói, em especial as costelas e a cabeça. Consigo finalmente focar a minha visão extremamente turva até agora, estou numa ambulância deitado numa maca e a oxigénio, olho uma vez para a bombeira que me acompanha antes da dor se tornar insuportável e tudo ficar escuro.

~ Teagan Narrando ~

Estou desde de manhã no hospital à espera de notícias acompanhada da minha mãe, mas ninguém nos dizia nada, segundo parece ele teve que ser operado e não acordara entretanto, recusei-me a sair ou a comer o que quer que fosse, não estava decididamente a conseguir lidar com a culpa.

São 18:00 e a única coisa que vai na minha cabeça é a frase "Agora já só depende dele" dita pelo  médico à umas horas...O rapaz que teve força para ir contra um carro por mim tem que ter força para continuar a viver porra! Têm que ser...É por essa fé que tenho que me guiar.

- A senhora é a mãe do Curran Walters, estou correto?- perguntou um enfermeiro, diferente do que aqui tinha estado anteriormente.

- Sou sim. - respondeu a senhora loira sentada na cadeira à nossa frente extremamente alterada, afinal era mais que compreensível, esteve perto de perder o próprio filho.

- Ele acordou e poderá ir vê-lo de imediato. - ela levantou-se no mesmo segundo radiante e com as mãos no rosto para tentar enxugar as lágrimas, agora de felicidade que lhe escorriam cara a baixo.

O meu rosto encheu-se de algo semelhante, incomparável, mas semelhante, o meu coração batia mais rápido e os meus olhos choravam descontrolados agora no peito da minha mãe que me aconchegou nos seus braços.

- Querida?- quase dei um salto ao escutar a voz da mãe do Curran mais perto de mim, olhei de imediato para os seus olhos tentando disfarçar o quão cansados e inchados os meus estavam.

- Sim?- questionei trémula.

- És amiga do meu filho?- fiquei por meros momentos sem saber o que responder, mas acabei por escolher ser sincera.

- Sou, sou a razão pela qual ele está aqui...- gaguejei deixando as lágrimas correrem novamente.

- Como assim?- todo o meu corpo ficou coberto de medo. Era agora que ela me iria culpar por tudo.

- Ele atravessou-se à frente do carro para me salvar...- murmurei e para meu espanto recebi um sorriso misturado com um olhar cheio de tristeza.

- Se o Curran arriscou a vida para te salvar deves ser uma menina muito especial...- exclamou andando em direção à porta daquele quarto onde eu queria entrar com toda a certeza - Vou ter com ele e depois volto aqui para se deixarem o poderes ver, sim?

- Sim, obrigada...- disse eu antes de voltar a deitar a cabeça sobre o ombro da minha mãe.

Passou-se meia hora e mesmo compreendendo tudo como é mais que óbvio, a minha impaciência e ansiedade cresciam ao ponto de bater o pé freneticamente e não conseguir tirar os olhos daquela porta por mais que me tentasse distrair-me com a música nos fones ou com qualquer rede social, era incapaz.

Por fim ela saiu e eu levantei-me tremendo e andando na sua direção.

- Vai lá, querida.- pediu-me sorrindo.

- Disse-lhe que eu estava aqui?- perguntei nervosíssima recebi como resposta uma confirmação.

Agora toda a coragem para entrar desapareceu, o nervosismo cresceu e senti que ficaria novamente imóvel, mas então dei um leve toque na porta cheia de mil e um medos.

- Posso entrar?- questionei num fio de vós.

- Entra...- escutei uma voz rouca e arrastada responder do lado de dentro e assim fiz.

Olhei-o tão tristemente que senti que não tinha mais força para fazer nada, falar, mover-me, o que fosse. O meu peito doía, doía como nunca tinha doido, o choro incapaz de parar fazia os meus olhos arderem como se o Sol os queimasse, apenas consegui levar uma mão ao rosto para esconder esta triste e fraca figura.

Os cortes e hematomas espalhados pelo seu corpo, o braço partido, eram como murros que me davam na cara, a culpa é minha, a culpa é minha por ele estar assim PORRA!!

- Teagan para de chorar por favor...- implorou estendendo-me a mão esquerda.

- Desculpa...Não consigo...- solucei caminhando até ele ainda com a mão no rosto e assim que lhe foi possível pegou naquela que descansava junto à minha perna, puxando-me para que me sentasse na beira da cama e levando agora essa mesma mão ao meu rosto, secando-me as lágrimas com os dedos. - A culpa foi minha...

- A culpa não foi tua, para com isso miúda, eu salvei-te porque quis, porque achei que merecias e vires aqui, prova que estive bem. - disse com um sorriso passando a mão pelo meu rosto suavemente.

- Obrigado...- murmurei, sendo finalmente capaz de deixar escapar um sorriso, tímido, mas um sorriso.

O mundo trouxe-me até tiOnde histórias criam vida. Descubra agora