Finn estava concentrado nos códigos que apareciam na tela, mas tinha consciência de que estava sendo observado pelo namorado. Desviou o olhar do trabalho e encarou-o de longe. Minutos atrás ele tinha feito um suco verde no liquidificador e agora o tomava lentamente.
Ele estava nervoso porque na segunda-feira apresentaria alguns projetos num congresso para arquitetos. Gostaria de saber como ajudá-lo mas Leonard não parava quieto um segundo. Suas ações não tinham início e nem fim: caminhava pela casa cantarolando uma melodia, molhava as plantas e abria a geladeira sem parar.
Não conseguiu concentrar-se em terminar de organizar os códigos para o site, muito menos as contas de finanças domésticas e pessoais. Com um suspiro, mas sem ficar irritado e compreendendo a ansiedade do namorado, fechou o laptop e caminhou até a cozinha, onde serviu café preto com leite em uma xícara.
Leonard sentou-se à sua frente, no balcão da cozinha, com uma expressão nervosa.
━É um evento grande.
━Você já foi a outros eventos do tipo, não?
━Claro, mas eu sempre fico nervoso. O que eu faço, Finn? Já roí todas as minhas unhas, afoguei metade das plantas dessa casa, liguei para a minha mãe três vezes e acendi um incenso.
Finn bebeu do próprio café e respirou fundo, gostando do silêncio da casa, de onde podia ouvir os pássaros na rua piando, o vento fraco do final da tarde e o barulho das crianças na rua brincando. Sorriu com um pouco de tristeza ao pensar naquelas crianças e no quanto a própria infância havia sido diferente da maioria delas.
━No que está pensando? -o asiático perguntou, quebrando o silêncio com sua agitação e curiosidades características
━Nas crianças que estão brincando na rua.
━Como assim?
Finn pensou numa maneira de fazê-lo esquecer do evento e acalmar-se, ao menos por algumas horas. Colocou a xícara no balcão e caminhou até o sofá, no qual sentou-se de maneira confortável. Leonard o seguiu e sentou-se no meio de suas pernas, dobrando os joelhos para ficarem mais próximos ainda.
O loiro envolveu a cintura do namorado com os braços e beijou-o na nuca com carinho.
━Vai me contar algo sobre a sua infância? Estou empolgado. -Leonard deitou a cabeça no ombro de Finn e sorriu
━Não é uma história tão legal assim. Ouvir as crianças correndo me lembrou que eu nunca gostei muito de brincar quando eu era pequeno.
━Não? Como assim? -o asiático franziu o cenho
━Sempre fui muito tímido e sou filho único. Eu gostava de ficar sozinho.
━Então como você brincava?
━Eu gostava de montar quebra-cabeças e resolver cubos mágicos.
━Por isso você é assim quietinho. -Leonard sorriu com carinho
━Mas eu também gostava de ler. Então passava minhas tardes lendo. Se eu tivesse saído para correr na rua eu teria vários amigos agora. -suspirou, com uma expressão triste que quase partiu o coração do asiático.- Mas eu nunca soube como manter uma amizade, as pessoas se me achavam entediante.
Leonard apoiou o queixo no peito dele e ficou observando-o de pertinho. Reparou na sua expressão pensativa e nos olhos azuis, focados ao longe, na janela da sala. Os cabelos loiros ondulados pareciam mais claros sob a luz interior. Suas sobrancelhas moviam-se conforme ele falava.
Finn deu um sorrisinho rápido e fraco, como se lembrasse de alguma memória e Leonard o abraçou apertado pela cintura, querendo perder-se no cheiro dele, que naquele momento era de café. As roupas que o loiro vestia, um moletom cinza e uma calça jeans preta, tinham o odor característico do sabão em pó de lavanda que usavam e o asiático enterrou o rosto na barriga dele, por cima do tecido, fechando os olhos e inspirando profundamente o perfume.

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Cicatrizes
Chick-LitAs mudanças trazem novidades na vida dos casais, principalmente para aqueles que obtém seu prazer de maneira pouco "tradicional". Mas elas também criam conflitos rotineiros e o desejo de construir um futuro ao lado do parceiro. Por isso, a vida adul...