Cicatrizes

Cuidados

Os pensamentos de Finn foram para longe conforme pilotava sua moto em direção ao estúdio de Vincent. Leonard tinha medo de andar na garupa e quase havia vomitado da última vez, lembrou-se com um sorrisinho que logo morreu. Suspirou com amargura quando a imagem de Ethan passou por sua mente. Jamais poderia competir com ele, que havia viajado o mundo, exposto seu trabalho em diferentes galerias e conhecido pessoas de todos os continentes. O sentimento de ser insuficiente não lhe era estranho, quando conheceu Archie sentiu-se da mesma forma.

Estacionou em frente a um prédio pequeno e simples. Desceram da moto e tiraram os capacetes.

━Por que está chorando? -a pergunta pegou-o de surpresa e reparou nas lágrimas das bochechas com vergonha. Secou-as rapidamente e sacudiu a cabeça, irritado por ser tão emocional

O aniversário tinha sido incrível e lembrou-se de que ainda precisaria ir à cafeteria buscar seus presentes. Deu um sorriso fraco, feliz por ter tido um aniversário tão legal, mas triste por todas as outras circunstâncias de sua vida. Perguntou-se por que havia aceitado vir até ali com Vincent e arrependeu-se da sua escolha... Na verdade queria estar dormindo. Queria dormir para sempre.

Vincent ficou olhando para o loiro com curiosidade. O olhar dele era tão triste que sentiu pena. De que forma poderia ajudá-lo? E por que queria ajudá-lo? A resposta era simples, pois ele tinha lhe ajudado a conseguir aquele emprego, mesmo que indiretamente. Também porque não conhecia ninguém na cidade e não seria ruim ter um amigo. Mas no fundo era porque não gostava de ver os outros tristes.

━Não é nada. -a boca tremeu ao responder e sentiu um vazio no peito

━A taça de vinho que prometi vai te deixar menos triste, prometo.

As sobrancelhas dele estavam arqueadas e Finn percebeu compaixão naquele olhar. Aquele recém-conhecido parecia gentil e atencioso, além de ter lhe dado uma cesta cheia de guloseimas de presente.

Finn estava prestes a entrar em seu estúdio e a ler um dos seus textos mais íntimos. Não havia mentido, realmente precisava de uma opinião sobre uma parte de seu manuscrito, mas ao vê-lo tão cabisbaixo no próprio aniversário, Vincent pensou em como poderia animá-lo. Sabia bem como era se sentir daquela maneira, perdido e angustiado.

Entraram no prédio e Vincent subiu um lance de escadas. O corredor era pequeno e estreito, portanto Finn o seguiu.

━O vinho é baratinho, mas é bom, espero que não se importe -Vincent sorriu e pegou um molho de chaves no bolso

Finn refletiu sobre o quão ridículo se sentia e em como havia sido feito de idiota por Leonard. Com um suspiro de quem sabia que nenhum sofrimento era eterno e de quem conhecia bem a tristeza, Finn ergueu a cabeça e a balançou para se livrar daqueles pensamentos. Era seu aniversário e havia passado uma tarde agradável rodeado de amigos e pessoas que se importavam consigo. Agora, estava ansioso para tentar fazer outro amigo, mesmo que as experiências passadas lhe alertassem para não ficar tão animado daquele jeito.

_____

Era um flat pequeno e desorganizado. Havia um cavalete num canto, próximo à janela, tinha um computador em cima de uma escrivaninha de madeira na outra extremidade, e a cozinha pequena, limpa e ficava na sala.

Quase pulou de susto ao sentir algo macio fazendo cócegas em seus pés. Quando olhou para baixo, viu um gato lhe encarando com curiosidade. Sua cauda balançava lentamente no chão e ele estava sentado, lhe olhando com desconfiança.

━Quem é você?

━Byron. Ele parece ter gostado de você.

Vincent lhe encarou com um sorrisinho alegre nos lábios carnudos. Aproximou-se e ajeitou as almofadas do sofá enquanto Finn observava o lugar.