Laços

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A casa continuava do jeito como se lembrava dela. Possuía os mesmos móveis claros e os mesmos quadros pintados por artistas famosos que Marc conhecia desde pequeno. Pelas paredes viu diplomas que que eles haviam colecionado ao longo dos anos, sua mãe como tradutora e intérprete, o pai como advogado. Quando entrou no próprio quarto ficou surpreso ao perceber que tudo estava igual a como se embrava.

Ouviu passos atrás de si e sentiu um toque delicado no ombro. Ao virar-se, deu de cara com a mãe. Não gostou de ter sido pego ali, mas continuou observando o antigo quarto, sentindo-se estranho ao saber que eles haviam mantido tudo como antes.

━Você lembra daquele troféu? -Adeline apontou para um troféu em formato de estrela- Seu primeiro prêmio na olimpíada de química. Nós ficamos muito surpresos, você se afeiçoou à matéria.

Marc não conseguiu esconder o sorriso que deu.

━E desapontados, imagino. -murmurou, pegando o troféu enquanto as lembranças inundavam sua mente

━Um pouco, admito. -Adeline riu baixinho- Seu pai queria que você tocasse piano também. Mas você sempre gostou mais da guitarra. -ela apontou para o canto do quarto

Os olhos de Marc seguiram seu dedo e descobriram a guitarra, esquecida há anos. Será que ainda sabia tocar?

Adeline, ao olhar para seu filho, tão deslocado e melancólico olhando para o quarto antigo, sentiu o coração apertar. Arrependia-se amargamente por tê-lo deixado. Deveria ter ficado ao lado dele. Mas estava tão triste pela morte da filha que precisou ir embora, afastar-se. Marc, mesmo que não quisesse admitir, lhe fazia lembrar de Rachel.

━Você lembra de quando nos contou que gostava de garotos também? -Marc franziu o cenho ao lembrar-se

━Da pior maneira possível.

Os pais haviam lhe visto com um amigo. Na verdade era apenas um colega, mas ele tinha ido dormir na casa de Marc, que começava a ter dúvidas quanto a sua sexualidade. Sentia-se atraídos pelas meninas da turma e elas por ele, visto que era dos mais populares na escola, mas toda vez que estava com os meninos no vestiário, reparava nos corpos deles involuntariamente. Quando viu-se sozinho com seu colega, decidiram experimentar. Ele também era popular na escola e sabia que não diria nada para ninguém. Quando tocaram no corpo um do outro, Marc soube imediatamente que também gostava de garotos.

Quando decidiram se beijar o pai entrou no quarto, com uma bandeja de sanduíches e suco. Ao vê-los vermelhos, suados e próximos demais, com as roupas amassadas, Jacques apenas desculpou-se por não ter batido e saiu sem deixar o lanche ali.

━É ele quem precisa falar conosco, Jacques, não nós. -Adeline lembrou-se de ter dito e o marido apenas assentiu, tentando processar as informações

Em seu quarto, após o amigo ter ido embora, Marc não soube como encarar os pais. Ao levá-lo até a porta, sentiu o olhar do pai em suas costas. Quando virou-se para ir até o quarto, querendo ficar longe dos pais para pensar, Jacques tossiu.

━Eu não me importo que você beije meninos. Mas não fale sobre isso quando estivermos em família ou em eventos.

Marc afastou-se, irritado, e disse:

━Bata na porta antes de entrar.

━Marc, não fale assim com o seu pai. -a mãe ralhou, com a voz num tom alto e Marc encarou-a desafiadoramente

━Vocês não se importam?

━Não, Marc. Contanto que você seja responsável.

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