Dose 4: Praia.

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Na manhã de quarta feira eu acordei com minha mãe me chamando. Ela não comentou nada sobre eu ter saído a noite e voltado no meio da madrugada, e eu não sabia se ela tinha descoberto. Achei melhor não comentar nada.

Ela e meu irmão mais novo tinham vindo passar uma semana comigo em Miami, mas já iriam voltar para California, e eu fiquei de leva-los ao aeroporto.

Um bom copo de café me ajudou a despertar após dormir poucas horas.

— Pegou tudo, dona Patrícia? — perguntei, colocando a mala dela no porta malas.

— Peguei tudo, senhor Joel. — Ela entrou no banco do passageiro na frente, e após abaixar a porta traseira dei a volta e entrei no banco do motorista. — Deixei a geladeira cheia, por favor, se alimente direitinho. — Ela passou o cinto e eu me inclinei, dando um beijo em seu rosto.

— Pode deixar. — Virei para trás, olhando meu irmão. — Tem certeza que não quer ficar?

— Aham — respondeu, também passando o cinto.

— Ok. Pegou tudo também, né?

— Peguei.

— Gabriel, pegou meu carregador? — perguntou mamãe, se virando para olhar o filho mais novo.

— Peguei.

A ida até o aeroporto foi rápida, e antes que eu notasse minha mãe e meu irmão já embarcavam. Nos primeiros anos longe de casa a parte mais difícil era ver eles indo embora, agora era não poder ir junto. Eu sentia tanto saudades de casa, que doía vê-los indo para lá sem mim.

Mas eu não podia voltar para a Califórnia agora, tinha compromissos da banda para cumprir. Iriamos sair em turnê em alguns meses, e precisávamos ensaiar e aprender coreografias.

Estava voltando para casa quando recebi uma mensagem no Instagram. Era Tekila, me convidando para ir à praia. Eu estava realmente tentado a simplesmente ignorar e ir embora dormir, mas após sair daquela forma ontem eu sabia que precisava me desculpar.

Dirigi até o endereço que ela havia mandado. Era um hotel a beira da praia. A avistei em frente a ele, sentada em uma mureta, balançando as pernas. Em uma camiseta amarela que era grande demais para ela, Tekila se parecia muito uma criança.

Estacionei o carro, deixando o celular dentro dele e sai, atravessando a rua e indo até Tekila. Antes de sair do carro eu notei em como ela olhava para os lados e checava o celular, sem nenhuma resposta minha ainda, mordendo o lábio enquanto balançava as pernas. Quando me viu, abriu um sorriso que fez qualquer sinal de cansaço em mim desaparecer e eu agradeci silenciosamente por ter ido até li.

Parecia que qualquer esforço valeria apenas para ver seu sorriso.

Respirei fundo, indo até ela. Pessoas passavam ao nosso redor, entrando e saindo do hotel, enquanto permanecíamos em frente a mureta da fachada, Tekila ainda sentada nela.

Me aproximei, ficando em sua frente, e ao olhar seus olhos eu fui tomado por uma onda de coragem que não esperava ter. Fiquei entre suas pernas, apoiando as mãos na pedra ao redor de onde ela sentava.

— Desculpe por ontem — falei, desviando os olhos de seu rosto. — Não deveria ter saído daquele jeito.

Tekila pegou meu rosto e o virou para ela, ainda o segurando enquanto falava, os dedos passando por minha barba.

— Tudo bem — respondeu baixinho. Seus olhos desceram até minha boca, subindo novamente para meus olhos. — Vai me beijar agora?

— Não.

TekilaOnde histórias criam vida. Descubra agora