2 MESES DEPOIS
O porteiro do meu condomínio era de longe a pessoa mais mal-humorada que eu já conheci. Mesmo morando ali há um tempo considerável, eu não tinha ganhado nem um sorriso dele até hoje.
Arrastei a mala pelos portões, sendo um desafio entrar com elas, celular em mãos e as chaves para liberar cada entrada. Deveria ter deixado a mala no aeroporto e falar que perdi. Teria me evitado muita dor de cabeça.
Entrei no elevador e suspirei, encostando a cabeça no espelho. Mesmo tendo feito quatro horas de voo eu não estava cansado. Ou estava, mas não conseguia me sentir assim. Minha mente estava desperta e meu corpo agitado. Uma hora da academia sem dúvidas ajudaria, cansando meu corpo e mente.
Sai no vigésimo sexto andar, arrastando a mala. Minhas chaves não tinham chaveiro, e estavam apenas presas juntas. A luz do corredor não acendeu quando passei. Quantas vezes ela já tinha queimado esse ano?
Foi difícil abrir a porta no escuro, a lua lá fora não iluminando os pisos brancos o suficiente. Entrei em casa soltando outro suspiro de alivio, jogando minhas chaves na mesa ao lado da entrada.
Dois meses fora e tudo o que eu precisava era do cheiro de casa para poder relaxar.
Uma luz se acendeu na sala, quase me fazendo dar um pulo paras trás. Soltei a mala, colocando a mão no coração.
— Quer me matar? — perguntei a Tekila, vendo-a sentada no meu sofá. — Como raios entrou aqui?
— O seu porteiro é um homem muito amigável.
Fiz uma careta. Ele gostava mais de uma estranha do que de mim? E pior, tinha deixado ela entrar na minha casa? Eu precisava ter uma séria conversa com o síndico sobre a real utilidade das chaves extras guardadas.
— Estou começando a achar que você pode ser uma stalker — falei, arrastando a mala até o quarto. Tekila permaneceu onde estava.
Eu tinha passado oito semanas fora, e só foi preciso dez dias para que Tekila e eu perdêssemos o contato. Nos primeiros dias até trocávamos mensagens, mas depois um simplesmente não tinha mais tempo para responder o outro.
— Como sabia quando eu voltava? — perguntei retornando para a sala.
— Instagram Storie.
— Ah.
Puxei meu boné, passando as mãos nos cachos castanhos. Eu precisava urgentemente cortar o cabelo, que já estava começando a ficar maior que o costume. Mais um pouco e a raiz lisa desceria para as pontas.
Tekila se levantou, descruzando as pernas e vindo lentamente até mim. Ela usava um justo vestido branco, que delineia exatamente cada curva do seu corpo. Com os cabelos pretos, a roupa fazia um grande contraste.
A única luz acessa no apartamento era a do abajur ao lado do sofá, e ela refletia nos olhos de Tekila, que brilhavam em azul. Aquela cor foi tudo o que eu pude ver por um instante.
— Adoro seus cachos — ela falou, olhando meu cabelo. Enrolou o dedo em uma mexa, se aproximando mais de mim. Ela cheirava a rosas e... Tequila. Não como se tivesse ingerido algum álcool, mas sim como se aquele apenas fosse seu cheiro, um perfume leve, mas que mesmo assim me deixava embriagado. — Sentiu minha falta?
Eu queria dizer que não, mas estaria mentindo. A semana que passei com Tekila me fez parar de observar coisas que antes me irritavam, tornando meus pensamentos mais leves. Sem pressão da fama, sem preocupar com fãs, sem deveres. Sim, eu tinha sentido falta disso.
Mas era muito mais. Passar a noite com alguém é algo que pode se acostumar muito fácil, e uma cama de casal se torna solitária após um tempo. Não pude evitar ficar pensando por diversas noites o que Tekila faria se estivesse viajando comigo. Enquanto eu estava preso em um quarto de hotel, ela sem duvidas estaria conhecendo a cidade, me arrastando para cima e para baixo. Ou então daria uma festa de duas pessoas em meu quarto, apenas nós dois.
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Tekila
Fiksi PenggemarEm uma noite na mais famosa balada de Miami, a Mynt Lounge, Joel conheceu Tekila, uma carismática atendente da casa noturna. Após aquela noite, eles passaram a se encontrar por situações que julgavam ser mera coincidência, apesar de Joel estar sempr...