Dose 28: Desconforto.

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Me sentei, puxando a coberta para cima e passando os braços ao redor de Tekila, escondendo seu corpo nu.

Minha mãe parou na porta, chocada com a cena.

— Meu Deus, Joel! — ela falou, se virando e saindo do quarto, batendo a porta.

Olhei Tekila, que me encarava com a boca aberta sem acreditar no que havia acabado de acontecer.

— Puta merda — Tekila xingou, saindo de cima de mim. Ela se abaixou, procurando por suas roupas. — Conhecer sua mãe não estava nos meus planos! Muito menos assim.

Me sentei, agradecendo por já estar ao menos vestido.

— Vou sair pela janela — disse, indo até a enorme janela do meu quarto. — Será que eu aguento a queda?

— Claro que não! — Fui até ela, fechando a janela que abria.

— Me trancar no banheiro?

Fiz uma careta, lhe entregando sua calça.

— Joel, eu to falando sério — começou, passando um pé pelo jeans — nós não estamos no nível de sair conhecendo nossa família. Saco. — Se sentou na cama, colocando as botas que usava na noite passada.

Respirei fundo, me controlando para não responder. Ela estava sendo tão... Chata. Ok, minha mãe tinha vindo me ver no mesmo dia que Tekila está comigo, mas eu não tinha planejado isso. Nós não estávamos conhecendo a família um do outro!

— Eu só esqueci que ela chegaria hoje — expliquei, indo para o banheiro escovar os dentes.

Tekila me seguiu, olhando as escovas na pia.

— Você pode usar essa — falei, lhe entregando uma verde. Eu tinha aberto ela quando achei que tinha perdido a minha, mas acabei achando e nunca usei a aberta, apenas a deixava ali fazendo companhia para a outra.

Brava, Tekila pegou a escova e começou a escovar os dentes.

Eu quis muito rir.

Tekila parecia ser bem contra termos algo sério, mas agia como se já estivéssemos assim.

— Só para sua mãe não me conhecer com bafo — falou, lavando o rosto.

Confirmei com a cabeça, segurando um sorriso.

— Como eu to? — Abriu os braços, após arrumar o cabelo.

A olhei. Usava uma calça vermelha de couro sport e uma blusa preta curta. O cabelo preto estava preso em um coque, com fios fugindo e caindo pelo rosto, que estava completamente limpo, sem nenhuma maquiagem. Para mim, ela estava linda.

— Linda — respondi, a palavra fugindo antes de eu conseguir me segurar. Tekila ficou com as bochechas vermelhas. — Bom, vamos sair logo daqui antes que ela ache que a gente está transando.

Saímos do quarto, indo para a sala. Minha mãe estava lá com Gabriel, meu irmão. Ela parecia um tanto quanto... Atenta? Gabriel apenas tentava ligar minha televisão.

— Mãe... — Sorri, abrindo os braços e indo até ela. — Chegou mais cedo. — Ri de nervoso, a abraçando.

— Quis fazer uma surpresa para o meu filho. — Ela ergueu os pés para me abraçar.

— E conseguiu... — Me afastei, apontando para trás. — Mãe, Gabriel — chutei ele para prestar atenção — essa é Tekila, hm, minha... Bem, minha amiga.

— E sua amiga dorme com você? — perguntou meu irmão, olhando ela. Chutei a canela dele de novo, só que mais forte.

— Tekila?! — minha mãe a olhou confusa, sorrindo.

— É apelido — explicou, indo até minha mãe.

— Sou Patrícia.

As duas se cumprimentaram, e eu apenas encarei a rápida cena.

É, Tekila estava certa. Nós não estamos no nível de conhecer parentes. Aquilo foi estranho demais para mim. Levando em conta que eu nem mesmo sabia quando ela faz aniversário ou seu nome verdadeiro, não estávamos em nível para nada além de casuais ficadas.

Após também cumprimentar meu irmão, Tekila deu um giro, se preparando para ir embora.

— Bom, foi um prazer conhecer vocês — disse, sorrindo, exibindo os dentes brancos e perfeitamente alinhados. — Joel, eu te ligo, ok?

— Ok.

E então ela se foi.

— Namorada?!

— Não, Gabriel. — O empurrei para o sofá e fui para a cozinha. — Por que não avisaram que iam chegar de manhã? Eu tinha ido buscar vocês.

— Ah, tinha mesmo? — provocou minha mãe, se apoiando na bancada.

— Mãe...

— Desculpa. — Ela levantou as mãos. — Então, desde quando?

— Patrícia. Nós somos só amigos.

Ela sorriu, fingindo ser inocente.

— E desde quando?

Peguei um copo de água e respirei fundo, dando um grande gole antes de responder.

— Três meses — respondi, passando a mão na boca.

Eu tinha passado uma semana com Tekila antes de ir viajar por dois meses, somado ao tempo desde que voltei, dava quase três meses. Quase. Mas não era o tempo que estávamos juntos, sem duvidas não.

— Então, por que vieram mais cedo? — perguntei novamente, querendo fugir do assunto Tekila e eu.

— Seu irmão quer ir em uma palestra antes da abertura.

Ah, meu viciado e nerd irmão. Gabriel adora tecnologias, principalmente o que envolva jogos. Aconteceria uma grande freira em Miami esse final de semana, e ele implorou para minha mãe deixar ele vim. O combinado era eu ficar cuidando dele aqui, mas sabíamos que isso não daria certo, então ela veio junto.

— E ela vai começar daqui a pouco — ele disse, vendo a hora. — Mãe, podemos ir?

— Não podemos, não. Você nem comeu ainda.

— Eu como lá. Por favor! — Ele fez biquinho e puxou o braço dela.

— Bom, acho que já vamos então. — Minha mãe veio até mim, me dando um beijo na bochecha. — Consegue vim almoçar em casa hoje?

— Depende... Vai ter comida gostosa?

— Sim, vai.

Sorri, adorando o fato de ter minha mãe em casa por alguns dias. Ela sempre teve as melhores receitas, por mais simples que fosse. Comida de mãe é comida de mãe.

— Ok, então nos vemos no almoço.

— E o Gabriel e a feira dele?

— Ah, eu só quero ver a palestra hoje, não vai ter nada que eu queira ver lá ainda.

— Ok. — Dei de ombros. — Vou me arrumar, preciso sair. Vejo vocês no almoço.

TekilaOnde histórias criam vida. Descubra agora