Cabo de guerra

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O homem que se apresentava à frente de Carmen não era apenas quem ela julgava ser o pai de Max.

Era nada menos que o homem mais poderoso de toda a ilha, uma das figuras mais influentes da Europa.

"Deus, Max é... Massimiliano Leon, o príncipe-herdeiro do reino..." E o homem muito mais alto que Carmen, que não era tão baixinha, com um impecável terno italiano, gravata de seda e sapatos pretos bem lustrados, além de óculos escuros que mantinham a expressão fechada em seu rosto, era o rei.

León IV, duque de Aragón. O rei de Azzurro.

- Guardas, vasculhem tudo. – os homens da Guarda Real entrariam na casa se Carmen não estendesse os braços, como se estivessem impedindo a passagem deles:

- Ninguém entrará em minha casa, nem mesmo a Guarda Real, sem um motivo!

- Você... – olhou a jovem de cima a baixo com desprezo. Aragón tinha pouca ou nenhuma paciência para marginais. – Está mantendo refém o herdeiro de Azzurro.

- E o senhor está invadindo arbitrariamente a minha casa com o apoio dos seus armários!

Logo se ouviram as vozes de Alma e Giorgio, sendo levados para fora da lojinha pelos soldados, o entorno totalmente coberto por outros membros da guarda, como se impedissem qualquer pessoa de se aproximar, evitando mais confusão.

- Por que meus pais estão sendo detidos, eles não tem nada a ver com isso!

- Fazem parte de uma quadrilha que sequestra crianças. Prendam a todos e joguem na Torre!

- NÃO!!!

A voz de Max surgiu do alto da escada, em desespero. Não ficaria escondido no quarto enquanto as pessoas que o trataram com tanto carinho seriam humilhados, punidos por um crime que sequer cometeram.

Ele correu até a porta da casa e disse, desafiando Aragón com o queixo erguido:

- Eu não fui raptado, eu fugi do palácio!

- Menino irritante! Prendam a todos!

- Eu fugi do palácio por sua maldade! E não pretendo voltar tão cedo, tirano!

Num impulso, Max passou por entre os dois adultos e correu em direção à floresta, ignorando os guardas. Carmen sabia que ele se perderia novamente em meio à relva e foi atrás dele, sob o olhar aterrorizado dos pais da jovem.

O que nenhum deles percebeu foi a rapidez com a qual Aragón também correu atrás dos dois, encontrando Max e Carmen no meio de uma frondosa árvore, ambos extenuados.

- Eu não vou voltar, Carmen, eu não quero... Olha, ele é cruel!

- Olhe pra mim, Max, olhe... – a jovem se abaixou para ficar na mesma altura do príncipe. – Não se preocupe, tudo bem? Nada de mal vai acontecer contigo...

- Não faça promessas que não pode cumprir.

A aparição do rei no meio da floresta, cujo vento forte balançava as folhas das árvores num frio impensado para o dia de sol que se iniciara naquela manhã, parecia vinda de um conto de terror. A voz dele, baixa e profunda, não tinha sentimento. Era seca, sem empatia. E como se estivesse em concordância com as palavras de Aragón, o tempo fechou, e o som do trovão arrepiou a pele de Carmen.

A professora levantou-se, protegendo Max com o próprio corpo. Não lhe importava que fosse o rei, o homem que com um gesto poderia enviá-la e toda a sua família para a temida Torre, a principal prisão de Azzurro, onde ficavam os piores criminosos do país. O menino atrás dela tremia, com medo daquele homem, e finalmente Carmen entendeu a razão pela qual o príncipe-herdeiro, criado em meio ao luxo de um castelo, preferiu fugir e se abrigar junto a uma família plebeia na Floresta Azul.

Coração de Rainha [livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora