O rei e o pai

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Vamos ver quem é o fã de Whitney Houston neste livro...

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Oscar Benitez frequentava as reuniões do Parlamento Azzurrino sempre uma vez por semana – às sextas-feiras. Após a sessão da manhã, ele seguia de carro até o Palácio Real a fim de brifar o rei a respeito das conversas ocorridas no Legislativo e apoiá-lo na tomada de decisões que pudessem conversar com as leis e ideias que os deputados definiam dentro do parlamento.

O poder em Azzurro era um tanto diferente de outras monarquias. O primeiro-ministro, apesar de ter bastante poder, até mesmo de legislar com medidas provisórias, era subordinado ao rei, que era tanto o chefe de estado quanto o chefe de governo. Entretanto, o poder do monarca não era absoluto; ele era limitado pelo poder do seu ministro, escolhido a partir de uma lista que incluía nomes selecionados pelos quatro principais partidos da nação – o Blanco, que defendia os interesses da ilha de Aragón; os Reds, que representavam Siracusa; o Semayawī, partido mais importante de Axum; e os Independentes.

Os primeiros-ministros geralmente variavam entre os três partidos tradicionais, e era muito raro que o mesmo partido emplacasse dois representantes seguidos. Entretanto, Aragón decidiu mudar a situação cinco anos antes, optando por um nome dos Independentes – Oscar Benitez, uma escolha que torceu muitos narizes à época (especialmente do Blanco e Reds, que acharam "temerário" um homem negro como primeiro-ministro; mas ganhou o apoio do Semayawi), e que se provou bastante acertada: em sua trajetória como primeiro-ministro, que chegava ao quinto ano com chances de reeleição, uniu inimigos antigos, fortaleceu a segurança do país, ajustou as contas e apresentou vários projetos ao legislativo focando na diversidade racial, de gênero e sexual em empresas, serviços públicos e universidades.

Boa parte da fama de Aragón como "monarca mais progressista da Europa" vinha também da liberdade que Benitez recebia em impor seu estilo e ideias em Azzurro.

Mas naquele dia, o briefing que Oscar passaria a Aragón nada tinha a ver com suas ideias – e sim, com o que os parlamentares falavam sobre seu rei.

- Os parlamentares creem que o país precisa de um boost, uma elevada no moral.

- O quê? Que patacoada é esta?

- Então... A economia está de vento em popa, nossos indicadores sociais melhoram cada dia mais e a distância entre ricos e pobres está reduzindo. Temos desafios ainda na educação básica pública e questões de segurança e violência urbana, especialmente em Axum, mas... Eles creem que a nação precisa sentir que as coisas estão melhorando.

Aragón cruzou os braços.

- Eu não vou gastar dinheiro com propaganda. Aí os republicanos vão e comem meu couro com aqueles posts nas redes sociais e os memes islamofóbicos me chamando de "califa do mediterrâneo".

- Teve o "#voltaparaGalícia", que ficou bem popular ano passado e saiu nos trending topics do Twitter.

O rei bufou.

- Quem foi mesmo que subiu a hashtag?

- Um grupo que se diz "nativista", defensor da "pureza" de Azzurro contra a influência "ibérica". Todos brancos.

A voz de Oscar era neutra, mas Aragón percebeu um tom de deboche quando ele falava "todos brancos".

- Carpir um lote para que, não é mesmo? O que mais eles querem, um vídeo institucional de cinco minutos passando em todas as TVs?

- Não exatamente. Eles desejam duas coisas, Majestade. Uma, é que faça uma tour pelo país ao lado de seu filho, o príncipe-herdeiro.

- O QUÊ? – Aragón se levantou, em choque. O rosto de Massimiliano era desconhecido por quase toda a população azzurrina.

Coração de Rainha [livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora