Começos

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Esse capítulo é IMENSO e tem tudo o que vocês querem... mas não termina como vocês esperam.

Aliás, outra história começa aqui e fico muito feliz em dar o pontapé inicial, mesmo que escreva de verdade lááááá na frente...

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A biblioteca pública de Santa Cecília estava localizada em um prédio onde funcionava uma igreja, com direito a vitrais, altar e a torre alta com o sino. Quando a igreja foi reformada para que se tornasse uma biblioteca, todo o espaço onde ficava o altar e os bancos para os fiéis foi ocupado por estantes de madeira e mesas para uso geral, enquanto a sacristia se transformou na área administrativa.

Os vitrais foram mantidos, bem como o sino, que dava seis badaladas sempre às 18h, indicando que a biblioteca seria fechada. O barulho assustava os mais concentrados; e o diretor do espaço dizia, ante críticas dos frequentadores, que a ideia era "realmente assustar".

- A biblioteca tem hora para abrir e fechar; nossos funcionários não são servos de ninguém. – explicou o homem, conhecido por sua brutal franqueza em mais de 30 anos de serviço público.

Dolores Escobar já estava acostumada ao barulho das seis badaladas indicando o fim do expediente. Sempre que ouvia a primeira, já preparava a bolsa e, assim que o último som surgia, já estava na fila do registro de ponto. Ao mesmo tempo que significava o alívio de um fim de trabalho, o encerramento do serviço significava ter que voltar para casa e as eternas reclamações de sua mãe.

Mas não precisava se preocupar com tudo aquilo – estava juntando dinheiro e terminando seu primeiro livro. Registraria ali mesmo na biblioteca, onde tinha um serviço de registro de direitos autorais, e logo depois publicaria de forma independente em um site famoso. O dinheiro era pouco, mas seria dela.

Não demoraria muito para Dolores finalmente sair da casa de sua mãe e ter a própria vida.

Saiu da biblioteca junto com os outros funcionários, despedindo-se com um aceno e um sorriso, e logo ajeitou os óculos, além de aprumar a longa saia azul-marinho, limpando poeiras invisíveis na roupa.

A jovem seguiria até o ponto de ônibus a fim de esperar a condução, mas percebeu em frente ao prédio um carro simples, popular, de duas portas, e um homem encostado no veículo, de calça jeans lavada, camisa pólo verde-musgo e uma jaqueta de couro marrom surrada, mas não parecia velha, e sim estilo.

Os cabelos desarrumados de maneira deliberada e os óculos escuros davam um charme ao homem que, de braços cruzados e um sorriso no rosto, parecia estar com a postura concentrada nela. Apenas nela.

Ele se aproximou cautelosamente de Dolores, tomando cuidado para que ninguém o reconhecesse, e segurou a mão suave e cálida da bibliotecária.

- Não quero que me reconheçam, Andrômeda... – beijou a mão, de forma cavalheira, fazendo com que Dolores olhasse para todos os lados, envergonhada.

- O senhor... Meu Deus... Alteza, eu... As pessoas do meu trabalho-

- Estão ao longe, indo embora. E eu de óculos, com roupas de plebeu e esse carro lento feito um mamute, não serei reconhecido.

Bruno pediu a Oscar Benitez todas as informações possíveis sobre sua principessa, sua Andrômeda, a mulher que roubou seu coração com apenas um olhar. Era linda, fascinante, com sua timidez e o olhar inocente de anjo caído. Ela era o anjo que veio ao mundo para salvá-lo de sua própria miséria, mas para que fosse digno de Dolores, precisava ser um homem melhor – não o bêbado degradado, piada de Azzurro.

O dossiê que recebeu de sua adorável princesa indicava se tratar de uma moça trabalhadora, estudiosa, amante dos livros e que vivia de casa para o trabalho, do trabalho para casa, com algumas parcas visitas às amigas – entre elas Perseis, a rainha. Bruno soube também a respeito da mãe de Dolores, Eugenia Escobar, e seu passado como modelo na Europa, além dos relacionamentos fracassados com homens ricos que a deixaram sem dinheiro, sozinha e com uma filha pequena no colo, que não parecia tão interessada em seguir a vida da mãe.

Coração de Rainha [livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora