Xeque-mate

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- Com licença, primeiro-ministro Dressler... Poderia roubar a professora do meu filho por alguns instantes?

Carmen ficou surpresa quando Aragón interrompeu a dança e a conversa com Adrian Dressler. Ainda estavam no meio do baile; imaginava que o rei ainda chamaria outras aristocratas e parlamentares, mas provavelmente ela era a segunda pessoa a ser convidada, após a Rainha-Mãe.

Piscou o olho várias vezes, espantada com aquele pedido, enquanto o primeiro-ministro se afastava para deixar o rei valsar com a professora. A palavra do principal chefe do país não poderia ser negada por um dignitário estrangeiro.

- Algum problema, Srta. Calieri? – perguntou Fernando, neutro, enquanto os dois deslizavam pelo salão, uma versão instrumental de alguma música que a jovem não conseguia reconhecer.

- Nada... Eu pensei que Vossa Majestade ainda dançaria com outras pessoas... Ainda há uma ordem, uma hierarquia, certo?

- Se fosse seguir a hierarquia, Srta. Calieri, teria que dançar "Me and Mrs. Jones" com meu irmão, e ele tem dois pés esquerdos.

Alguns pares dançavam lentamente ao som da música, que não permitia corpos muito distantes; entretanto, Aragón conseguiu manter o espaço entre os dois como se estivessem em uma valsa.

- Mas ainda dançarei com todas as convidadas da festa. Infelizmente não posso excluir uma ou duas da lista, seria indecoroso como rei.

Carmen não respondeu, mas sabia exatamente de quem ele falava.

- Pensei que diria algo espirituoso, Srta. Calieri... – provocou.

- Não, por que o faria? Esta é a sua obrigação, não vou ensinar a missa ao vigário.

- Estranho, porque nos últimos meses, se tornou praticamente a diretora do seminário.

- Não acredito que vai aproveitar uma dança para discutir pormenores, Fernando-

- Não, Carmen, pelo contrário. – a música cresceu, com o naipe de metais funcionando como uma espécie de virada para o momento em que existia uma ponte. – Hoje tudo está como deveria ser. Meu irmão não está bebendo até cair, mi mamá está feliz e... Max está se divertindo.

- Max está feliz porque você o reconhece como alguém importante em sua vida. Eu já disse isso inúmeras vezes que é esse o desejo dele.

- E eu ouvi o suficiente.

Fernando soltou-se de Carmen na hora da ponte, afastando-se para logo depois girá-la mais perto dele, a saia rosa fazendo o efeito encantado que todos viam no salão. Rapidamente ele repousou a mão nas costas, mantendo a distância entre os dois, como alguém que já dançava daquela forma há muito tempo.

Continuou a conduzir a dança com passos leves, lentos, e Carmen pôde ouvir o rei cantando baixinho alguns versos da música, antes de dizer:

- Na próxima festa pedirei ao setor de eventos contratar um cantor para acompanhar a orquestra.

- Michael Bublé? - a jovem questionou, ensaiando um sorriso.

- Michael Bublé vai custar um dinheiro a mais aos cofres públicos, Srta. Calieri, mas retirarei do meu próprio bolso, já que está tão interessada.

- Eu não disse nada sobre chamar Michael Bublé para o próximo baile de gala, Majestade!

- Mas sugeriu. É um bom nome.

A música terminou e todos aplaudiram a banda, que prosseguiu com mais uma canção instrumental – e aparentemente, ninguém havia pedido licença ao rei de Azzurro para chamar Carmen para uma dança.

Coração de Rainha [livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora