~Verdades Ocultas~

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Os dois ainda permaneciam abraçados. O silêncio que pairava entre eles não era desconfortável, mas carregado de uma emoção que palavras não alcançavam. Jungkook acariciava os cabelos da menor, os dedos percorrendo com delicadeza as mechas, como se quisesse acalmar a tempestade interna que a dominava.

— Jungkook? — S/N sussurrou, quase inaudível.

Ele parou o cafuné e a olhou nos olhos.

— Sim?

— Você pode me levar pra casa? Eu sei que hoje eu deveria dormir aqui, mas… eu só quero ir pra minha casa. — Sua voz era hesitante, como se esperasse uma negativa.

Jungkook soltou um suspiro curto e assentiu.

— Eu levo você. Mas antes… você vai ter que me contar essa história da irmã. Essa história está me deixando com um pé atrás.

Alguns minutos depois, já no sofá, S/N terminou de contar tudo. As palavras saíam entrecortadas pelo medo e pela insegurança. Jungkook a ouvia atento, com a expressão cada vez mais carregada.

— S/N, não é que eu esteja duvidando de você ou dos seus pais, mas… tem algo nessa história que não encaixa. — Ele coçou a nuca, pensativo. — Por que demoraram tanto pra te contar isso? E por que você não se lembra de nada? Uma irmã que te amava e depois queria te matar… parece que estão escondendo alguma coisa.

Ela permaneceu em silêncio, tentando digerir aquelas palavras. Será que era possível? Será que seus pais estavam mentindo… ou apenas protegendo?

— Talvez... talvez eles só tenham contado agora porque ela fugiu. Talvez sempre pretenderam morrer com esse segredo. Mas... Jungkook, eu estou com medo. — Seus olhos se encheram de lágrimas.

Ele a puxou para um abraço, envolvendo-a como se quisesse protegê-la de tudo.

— Você não precisa ter medo. Eu tô aqui. Se quiser, eu contrato seguranças, coloco o prédio inteiro sob vigilância...

— Não precisa — interrompeu ela, com um sorriso nervoso. — Eu... sinto que vou encontrá-la. E acho que preciso ouvir o outro lado da história.

Jungkook a olhou fixamente, surpreso com a coragem nos olhos dela. S/N se aproximou e o beijou. Foi um beijo suave no início, mas logo se tornou intenso, carregado de sentimentos contidos demais para serem ignorados. Desejo, confusão, carinho, medo — tudo se misturava.

— Eu... quero te sentir, S/N. Quero tocar cada centímetro seu — sussurrou ele entre os beijos. — Nunca senti isso por ninguém. E você chegou... bagunçando tudo.

Ela interrompeu o beijo e encostou a testa na dele.

— Eu também sinto isso. Mas hoje... hoje não consigo. Me desculpa. — Sua voz era quase um lamento.

Ele apenas a abraçou, como se entendesse sem precisar dizer nada.

— Então dorme aqui comigo, só hoje.

Ela assentiu e subiu para se trocar.

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[JUNGKOOK ON]

Eu quase falei. Porra, eu quase disse que a amo. O que tem essa mulher que me deixa fora de mim? Eu quero gritar, jogar esse maldito contrato fora e pedir pra ela ficar. Ficar de verdade. Sem regras, sem prazo. Só nós dois. Eu nunca fui de uma mulher só... mas por ela, eu seria.

[JUNGKOOK OFF]

— Eii, culhão! Jungkook, caralho, acorda, amado! — gritou S/N, fazendo ele sair do transe.

— O quê? Você me chamou de culhão? — perguntou confuso.

— Estou te chamando há cinco minutos, criatura. Vamos dormir logo — disse, puxando-o pela mão até o quarto.

Ambos estavam se ajeitando na cama quando o celular dela tocou. Número privado.

— Alô?

— Olá, maninha... — disse uma voz feminina, arrastada e irônica do outro lado.

S/N congelou. Sua pele se arrepiou instantaneamente.

— O que você quer comigo?

— Conversar. Contar o que seus "pais" não te contaram. Amanhã, às 07h30, no café onde você trabalha.

— Por que eu confiaria em você?

— Porque eu não sou o monstro da sua infância. E você merece saber a verdade.

Ela desligou. Jungkook estava ao seu lado, preocupado.

— Era ela? O que ela queria?

— Quer me encontrar amanhã... disse que tem a versão dela da história. — Ela suspirou, nervosa.

— Eu vou com você.

— Não vai. Hyeorin e o Lee vão estar lá, eu não estarei sozinha.

Ao ouvir o nome do chefe, Jungkook cerrou os olhos.

— Já não gostei desse tal de Lee Miho.

— Ele é meu chefe, e também um amigo. Você não tem que gostar de nada, Jungkook. Lembra que isso aqui é só um contrato?

Ela se virou na cama, deixando-o ali, engolindo a própria raiva. Jungkook ficou olhando para o teto, remoendo o ciúmes.

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[06:00 AM – Terça-feira]

S/N acordou cedo, sem conseguir pregar o olho à noite. Após se arrumar, deixou um bilhete para Jungkook e saiu. O vento frio da manhã batia no rosto dela enquanto pegava o táxi.

[07:00 AM – Café]

Já sentada, tomando café com os olhos fixos no relógio, S/N esperava. E então... ela chegou. Soraya. Mais velha, olhar intenso, um sorriso que misturava dor e ironia.

— Olá, maninha.

— Oi... Qual é o seu nome?

— Soraya. Mas isso pouco importa. Vim contar a verdade.

Ela tirou um álbum da mochila e empurrou para S/N.

— Olha com calma. Está tudo aí.

S/N abriu o álbum. A primeira foto era de um bebê nos braços de uma mulher sorridente, com uma frase rabiscada abaixo:

"Minha pequena S/N viu o mundo pela primeira vez. Estamos muito felizes com sua chegada."

Ela arregalou os olhos, sem entender. Soraya observava.

— Eles não são meus pais...? — sussurrou S/N.

— Nunca foram. Nossa mãe era brasileira. Nosso pai, coreano. Ele era da máfia. Mamãe só descobriu depois. E aí... tudo desmoronou.

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[FLASHBACK — Contado por Soraya]

Eles estavam fugindo. Homens armados perseguindo o carro. O pai desesperado, a mãe tentando proteger as duas. Depois de uma perseguição intensa, o carro caiu num barranco. Soraya conseguiu escapar e tirar S/N desacordada. Seus “pais adotivos” as encontraram pouco depois — mas levaram S/N, apagaram sua memória e esconderam tudo.

— Eles não te adotaram por amor, S/N. Eles queriam o dinheiro. O testamento do nosso pai deixava tudo no seu nome. E eu... eu seria sua tutora até você completar dezoito.

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S/N chorava em silêncio. A verdade era mais cruel do que imaginava.

— Eu acredito em você... mas não posso virar as costas pra eles. Eles cuidaram de mim.

— Porque queriam o que era seu — disse Soraya, amarga.

Antes que pudessem continuar, uma voz rouca ecoou atrás delas:

— Olha só... se não é a S/N. Que bom ver você de novo.

S/N olhou para trás e congelou.

— Olá...

A SubmissaOnde histórias criam vida. Descubra agora