Principal Suspeita

Casa

Foto de Dove Cameron - Louise Warren

A senhorita Torres estava organizando os memorandos da prefeitura na casa de seus pais. A discussão na noite anterior tinha sido grande, mas ela ainda trabalhava para seu pai. Eles queriam que ela se afastasse imediata e completamente do detetive Handerson. Ela aceitou a opinião deles, mas isso não queria dizer que ela iria seguir esse pedido.

Quando terminou já se passavam das onze da noite. Guardou tudo na pasta do seu pai, para que ele levasse no dia seguinte. Quando Kristen chegou na casa da piscina, notou que havia vozes lá dentro. Abriu a porta vagarosamente  e pegou um vazo de plantas caso precisasse se defender. A voz continuava e Kristen notou conhecer muito bem aquela conversa. Era a conversa que ela havia tido com o informante sobre o concorrente de seu pai para as próximas eleições.

Ela encontrou um pendrive conectado ao seu home theater, retirou e a conversa parou. Kristen apurou os ouvidos para ver se notava qualquer ruido que indicasse que a pessoa que fizera aquilo ainda estava na casa. Não ouviu nada, mas resolveu ligar para a delegacia mesmo assim. 

Não demorou muito haviam duas viaturas e mais de meia dúzia de policiais vasculhando sua casa, além do detetive Handerson. Ela se sentia segura por ele estar ali, mas não gostava nada de um pendrive com uma conversa confidencial sua estar nas mãos da polícia.

- O que está acontecendo ai? - perguntou sua mãe pelo telefone.

- Está tudo bem mãe, alguém entrou aqui, mas a policia já está resolvendo isso.

- Como assim alguém entrou aí? Eu e seu pai estamos indo!

- Não precisa, podem voltar a dormir, amanha converso com vocês. Te amo.

Joana tentou convencer a filha por mais um tempo, mas no final acabou cedendo, afinal não havia nada que ela pudesse fazer. Kristen desligou o telefone e se sentou apoiada no balcão que separa a cozinha da sala. Esfregou a cabeça em frustração. Como aquilo tinha acontecido?

- A porta não tem sinal de arrombamento, então provavelmente o invasor entrou pela janela da cozinha. Não há qualquer vestígio de que algo tenha sido levado, mas se sentir falta de alguma coisa deve nos avisar - Marcus disse sentando-se ao lado de Kristen. - Você está bem?

 Num ato impensado Kristen jogou seus braços em torno do pescoço do detetive, num abraço apertado. Mas logo a ficha caiu de que naquele momento ele não era Marcus e sim o deretive Handerson.

- Ah meu Deus! Eu fiz isso? - Marcus assentiu rindo.

- Fez.

- Me desculpa?

- É só não fazer de novo. Pelo menos enquanto eu estiver de serviço - Kristen aquiesceu.

Marcus ficou depois que todos os policiais foram. Kristen e ele estavam sentados no deck da piscina conversando. Já era mais de meia noite e ela estava começando a ficar com sono, porém tinha medo de dormir sozinha. E se, quem quer que seja, voltasse? A quanto tempo estaria a seguindo? Ou pior, quantas outras coisas essa pessoa sabia?

- Você tem alguma suspeita de quem foi? - Marcus perguntou casualmente.

- Não, mas é alguém que não tem algo só contra mim.

- Como assim?

Kristen mordeu o interior da bochecha, não sabia se poderia confiar nele. Mas por fim decidiu contar, afinal ele ouviria a gravação e saberia da história de qualquer maneira. 

- Eu amo meu pai, mas nem sempre ele faz escolhas certas. Um antigo secretário o fez acreditar que seria uma boa ideia superfaturar alguns contratos e que não haveria problemas - ela solta um suspiro como se doesse em si contar da corrupção de seu pai. - Mas o que ele não sabia é que o secretário estava mancomunado com um rival seu. Agora esse homem tem essas acusações sobre meu pai e vai usar isso em algum momento.

Marcus ouvia tudo atentamente, feliz por Kristen estar se abrindo com ele.

- Então, eu fui arrumar a bagunça do meu pai. Marquei encontro com um informante e pedi que fizesse um dossiê desse homem, e ele o fez. Marcamos um encontro fora da cidade, mas parece que não foi o suficiente para que ninguém descobrisse. Se o conteúdo daquela conversa vazar não só a carreira do meu pai na política estará arruinada, mas também a minha como relações públicas por não conseguir abafar isso.

- Eu entendo - Marcus procurou as palavras certas. - Vou pegar essa pessoa antes que faça algum mal para você ou sua família, já notei o quanto a reputação é importante para todos aqui na cidade.

Kristen concordou com a cabeça.

- Mas, não sei se conseguirei tão logo. Tenho que me concentrar no assassino, recebemos algumas respostas da perícia e temos o rastro do veículo, é só uma questão de tempo.

- Já tem uma lista de suspeitos? - ela perguntou.

- Muito superficial, assim que descobrirmos qual é o veículo teremos coisas mais concretas.

Marcus olhou no relógio e se levantou, ajeitando a camisa e vestindo a jaqueta de couro preta por cima. Kristen não queria que ele fosse, mas não tinha coragem de pedir que ficasse e se levantou também.

- Eu tenho que ir - ele anunciou. - Tenho muita coisa para fazer amanhã de manhã, inclusive procurar um invasor.

Kristen soltou um sorriso.

Marcus a puxou para perto e lhe deu um beijo, que deixou claro que ele também não queria ir. Kristen aproveitou a sensação que o beijo dele lhe causava, como se nada no mundo pudesse atingi-la, como se os dois vivessem dentro de uma bolha e seus segredos e os segredos daquela maldita cidade não fossem atrapalhar a conexão que os dois tinham.

Mas ela estava errada.