Cadáver

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A senhorita Torres estava extremamente nervosa, mas precisava contar.

- Tudo começou quando Louise desapareceu, ninguém se importou muito, pois ela vivia fazendo isso. Mas o que ninguém sabia era que ela havia sido sequestrada por Trevor, que não passava de um viciado. Sorte que ela sempre foi muito obstinada e conseguiu escapar dele.

"Eu estava voltando de North Warren, tinha resolvido algumas coisas e estava com pressa. Então, resolvi pegar a Liberty St. e próximo ao velho celeiro ela atravessou correndo na frente do carro. Na hora do susto eu acabei trocando os pedais e acelerei quando devia frear e atropelei Trevor, que vinha correndo logo atrás dela."

"O impacto foi tão grande que achei que o tivesse matado. Fiquei em choque e Louise também. Ela veio até minha janela e quando fui mandar ela entrar no carro para sairmos dali Trevor acordou e meio cambaleante foi atrás dela de novo. Ele devia estar muito tonto, pois esqueceu a arma."

"Quando o vi quase alcançar Louise, não pensei duas vezes, corri para fora do carro, peguei a arma e atirei. Trevor caiu desacordado e Louise já não estava ali, eu não a vi mais aquele dia. Cheguei perto de Trevor e ele estava sangrando muito, não tinha mais pulso. Eu tinha matado um homem."

Kristen finalmente cedeu a vontade de chorar novamente. Marcus apenas ouvia tudo atentamente, chocado demais para fazer qualquer pergunta. Kristen continuou, afinal tinha muita coisa a ser contada ainda.

- Eu estava sozinha, na floresta, com um cadáver ao qual eu tirei a vida. Então, eu tive a ideia mais estupida da minha vida. Decidi enterrar ele na floresta. Fui sorrateiramente até o celeiro e peguei uma pá. Antes tirei a carteira dele, com o celular e a jaqueta. Cavei o que achei suficiente e arrastei o corpo até a cova. Cobri, devolvi a pá para o lugar e apaguei todos os rastros que achei.

"Levei o carro até a oficina do Bob, pois se tem alguém nessa cidade que guardaria um segredo esse alguém era ele, mas claro que tinha um preço. Comprei a passagem para Syracuse online, entreguei as coisas para Bob e disse para que ele colocasse dentro do ônibus, assim pareceria que Trevor tinha saído da cidade, me dando tempo suficiente para pensar em como apagar todos os rastros que ficaram para trás."

"Bob me deixou em casa e foi fazer o que eu mandei. Quando eu estava em casa Harry queria falar comigo sobre como as coisas terminaram entre nós, mas eu não podia abrir a porta para ele porque eu estava cheia de terra e sangue de um homem. Não podia envolver ele nisso, não podia envolver ninguém nisso. Então, mandei ele embora e depois do banho eu peguei o Volvo para ir até o The Ross. Esse seria meu álibi perfeito: a garota triste do bar. Mas você apareceu."

- Eu estraguei seu plano? - ele perguntou tão baixo quanto um sussurro.

- Tecnicamente sim, mas o plano nunca foi um bom plano para começo de conversa. Eu beberia algumas doses e iria embora, mas você me ofereceu mais doses e eu perdi o controle. Quando fui passar o cartão para pagar a última rodada acabei passando o cartão de Trevor e não me toquei disso até você me revelar dias depois.

"Depois daquela noite percebi que seria bom ter o detetive do caso próximo. Liguei para Lou e disse para que ela não revelasse nada e ela fez exatamente isso: fingiu amnésia. Então, você confiava a mim detalhes da investigação e eu usava suas informações para tapar as lacunas do meu plano."

- O que tanto você fez com base no que eu disse? - ele perguntou se recordando daquelas conversas.

- Bom, eu troquei os pneus do carro da minha mãe, usei um aplicativo hacker para interferir nas câmeras de segurança do hotel e destruir os comprovantes. Voltei para pegar a pá no celeiro. Eu sabia que como encontraram minhas digitais na arma encontrariam na pá também, era só pensar um pouco.

- Por isso me ignorou de repente? E o que Charles tinha a ver com toda essa história?

- Eu ignorei porque Louise conseguiu me avisar que eu era a principal suspeita do caso, mas você não havia me dito nada. Eu pensei que você estivesse me usando para descobrir se era eu. Já tudo o que acontece com Charles tinha conexão com outras coisas que eu fiz, mas em nada com o assassinato. Ele apenas encontrou a arma do crime e iria usar mais isso para me subornar e conseguir mais dinheiro.

"Eu tentei esconder tudo da melhor maneira que eu pude, mas eu não sou uma criminosa. Se matar Trevor faz de mim uma assassina que seja, mas eu não poderia deixar ele machucar ainda mais minha melhor amiga. A cidade está melhor sem ele e se eu tiver que ser presa por isso eu não ligo, não mais. Chega de me esconder!"

Marcus ignorou totalmente o que sua cabeça gritava e abraçou Kristen, que por sua vez voltou a chorar em seus braços. Ela sentia como se um enorme peso tivesse sido retirado de suas costas. Ela se permitiu relaxar no abraço do homem que amava, que provavelmente a levaria presa naquela noite, mas não podia deixar de amá-lo.

- O que tanto vocês descobriram que trouxeram vocês a mim?

- O que a policia sabe é diferente do que eu sei - Kristen o encarou. - A polícia sabe que o carro da sua mãe bate com o modelo de pneu das marcas, que suas digitais então na arma e que ela estava na sua casa e que você estava em North Warren pouco antes do crime acontecer. 

- E o que você descobriu? - ele deu um sorriso fraco.

- Que você confessou quando nos conhecemos, mas eu achava se tratar de sarcasmo. Que o horário que as câmeras pararam é exatamente o horário que você estava fora do meu quarto no hotel. Que a pá e os pneus estão na casinha, junto com a roupa suja de terra e sangue - ele parou e respirou fundo. - Eu não queria acreditar, até que vi sua multa sobre o balcão, pouco antes da hora do acidente a poucos metros do acidente. Então, tudo fez sentido.

- Marcus, por que eu estou contando tudo isso para você e não na delegacia?

- Porque eu sou incapaz de te fazer mal. Naquela noite no The Ross apesar de tomar Bourbon você parecia tão frágil, que eu prometi que se você deixasse eu me aproximar eu lhe protegeria até meu último suspiro.

Kristen não pensou e juntou seus lábios aos de Marcus que respondeu com a mesma intensidade. Lágrimas brotaram dos olhos de Kris e misturaram-se ao beijo, enquanto no coração de ambos crescia uma dúvida: o que aconteceria agora?

- Eu te amo - Kristen sussurrou.

Marcus parou e a encarou de cenho franzido.

- O que você disse?

- Que eu te amo, não importa o que você faça. Não importa se eu seja presa ou não, eu te amo Marcus Handerson.

- Eu também te amo.

Marcus pressionou os lábio contra os de Kristen com mais urgência que antes, se é que isso era possível. Eles se amavam, era mútuo, mas a angustia no coração de ambos não os deixava esquecer que as chances de que tivessem um final feliz eram as mais tênues possíveis.

Nesse momento o celular de Marcus tocou e ele não queria atender e acabar com o momento de reconciliação que estavam tendo, mas precisava, uma vez que poderia ser uma ligação dizendo que estava indo para ali prender Kristen.

- Alô - disse e ficou em silêncio ouvindo o que estavam dizendo do outro lado da linha. - Estou indo para ai agora.

- O que aconteceu? - Marcus hesitou um instante antes de falar.

- Tenho que ir para o departamento de policia. Alguém confessou.

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