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A senhorita Torres acordou no Warren State Hospital, em North Warren. Ela olhou em volta e não viu ninguém. Em seu ombro havia um curativo e estava latejando um pouco. Kristen afundou a cabeça no travesseiro pensando em tudo o que aconteceu. Se Louise estivesse certa e ela fosse uma suspeita, encontrar a arma do crime na sua casa não ia ajudar Kristen a provar inocência alguma.

Na verdade, se esse pensamento estivesse certo, os policiais já estariam lá fora a esperando acordar para prendê-la. Nesse momento a porta se abriu vagarosamente e Kristen se viu tensa, pensando em quem poderia ser.

- Richard, ela acordou - sua mãe disse antes de entrar.

- Oi mãe - Kristen estranhou a voz que saiu da sua garganta. 

- Ficamos tão preocupados.

 Seu pai também se aproximou do leito, quanto sua mãe acariciava delicadamente sua mão direita.

- Pegaram o responsável, ele nunca mais vai te fazer mal, minha menina - seu pai disse.

- Ele foi preso?

- Não, ele foi morto pelo detetive Handerson. 

- Como? - Kristen perguntou confusa. - Ele atirou duas vezes e uma pegou só de raspão no... homem - ela se corrigiu no último instante.

- Ele atirou três vezes, o último pegou em cheio quando o homem tentava fugir pela janela.

Kristen absorveu aquelas palavras. Ela não lembrava de ouvir o terceiro tiro, mas talvez fosse porque seu corpo estava preocupado demais tentando processar que ela havia levado um tiro. Charles estava morto, levando os segredos deles junto com ele. Ela estava segura.

- A polícia acha que ele estava tentando te incriminar pela morte de Trevor Dolan, todos sabiam da amizade dos dois.

- Por quê acham isso?

- Porque ele estava com a arma do crime - respondeu a mãe. - Também encontraram vestígios de pólvora na gaveta da sua escrivaninha. Eles acham que ele iria colocar a arma na gaveta e te incriminar. 

- Só não sabem como as suas digitais foram parar na arma, mas é só uma questão de tempo.

Os olhos de Kristen se arregalaram. Digitais? Não era possível, não podia ser. Se seus pais estivessem certos e essa fosse a teoria policial, não havia motivos para se preocupar. Ou havia? Kristen odiava não ter as coisas sob controle e todos esses "e se?" eram quase uma tortura.

- O detetive subiu um pouco no meu conceito - disse seu pai.

Kristen não conseguiu esconder o riso. Mas se seu pai soubesse que, talvez, ele só estivesse usando a filha por considerá-la a principal suspeita do assassinato de Trevor Dolan não pensaria desta forma.

***

Kristen ganhou alta naquela tarde e foi para casa. Teria que usar uma tipoia no braço e isso a incomodava. Quando chegou de carro com seus pais, Nathalie estava sentada na varanda, observando. Kristen não sabia se Nathalie havia mandado matá-la, mas isso a fez pensar. Nathalie seria tão insegura por causa de Kris, que chegou a esse extremo?

Fosse qual fosse seus motivos Kristen conversaria com ela e resolveria essa história de uma vez por todas. Ela tinha um peixe muito maior para se preocupar. 

Seu celular vibrou e o nome de Marcus brilhou na tela. Agora seria meio impossível ignorá-lo, pois o cara havia salvado a sua vida, literalmente. Era uma mensagem perguntando se ele poderia ir até Beech Hill. Kristen mandou um sim como resposta e esperou.

Não demorou muito tempo ele chegou. Richard e Joana observaram pela janela do segundo andar enquanto o homem se aproximava da casa da piscina, torcendo para que mais nenhum mal acontecesse a filha deles. Kristen abriu a porta e deixou que o detetive entrasse. Marcus reparou na marca de bala ao lado da porta e notou a falta que a escrivaninha fazia na sala, pois havia sido levada para a pericia.

- Sente-se - Kristen apontou para o sofá.

- Serei rápido. Só queria ver com meus próprios olhos se você estava bem.

- Estou bem, pronta para outra - ela deu um sorriso fraco.

- Não diga uma coisa dessa - ele riu de nervoso. - Nunca passei tanto medo e me senti tão culpado em toda a minha vida.

Kristen franziu o cenho.

- Você salvou a minha vida.

- Não Kris, eu quase acabei com ela. Não foi Charles que atirou em você, fui eu. Porque eu não estava preparado para aquilo, quando vim até aqui era para saber porque você estava me ignorando e não para atirar em um homem. Eu estava nervoso demais e isso quase me tirou a coisa mais importante para mim nessa cidade.

Kristen se aproximou dele e tocou seu rosto, ele levantou o olhar e a encarou. Olhando aqueles olhos azuis, Kristen percebeu que mesmo que fosse a principal suspeita ele não a estava usando. O sentimento, o medo e o carinho estavam estampados nos olhos de Marcus. Era real para ele também. Ela só tinha medo que isso mudasse se ele descobrisse a verdade sobre ela.

Marcus deu um beijo na testa dela e disse que precisava ir. Não perguntou sobre a arma. Não perguntou sobre o motivo de Kris estar ignorado ele. Só beijou sua testa e foi embora.

Kristen queria pedir para que ele ficasse, mas precisava fazer algo. Ela foi sorrateiramente até a garagem e pegou o Volvo, tinha que sair antes que seus pais vissem. Seguiu pela Liberty St. até encontrar o celeiro Warren, mesmo com o ombro machucado. Antes o celeiro era usado pelo dono para guardar as ferramentas da fazenda, hoje estava praticamente abandonado.

Kristen foi até atrás do celeiro e pegou uma pá que estava ali, jogou no porta malas e quando foi entrar no carro ouviu alguém. Olhou em volta e viu um senhor sair de centro do celeiro. Ele pareceu surpreso em vê-la ali.

- O que procura mocinha?

- Eu precisava fazer xixi - mentiu. 

- Se quiser pode usar meu banheiro - ele apontou para uma casa mais afastada do celeiro -, é humilde, mas bem limpa.

- Não, obrigada, eu já resolvi - ele soltou uma risadinha.

- Tudo bem então.

- Preciso ir. Foi um prazer.

Kristen entrou no carro e voltou para a casa. Tirou a pá do porta malas e a trancou junto com os pneus do Nissan na casinha onde são guardados as coisas para o tratamento da piscina. Lá essas coisas estariam seguras e consequentemente Kristen também.

Principal SuspeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora