Nos tempos do colégio eu tive uma melhor amiga chamada Celina, juntas costumávamos ser uma das melhores alunas da classe. Em uma das provas de matemática tinha uma questão tão difícil que quase toda turma reclamou, foi quase impossível resolver a equação com tanta falação. Porém Celina e eu fomos as únicas a acertar. Nosso professor resolveu fazer uma gincana entre duplas, a dupla vencedora teria a oportunidade de participar de um concurso televisionado de exatas, contra outra dupla. Minha melhor amiga e eu tivemos essa oportunidade. Havia dito à Celina que estava tão ansiosa e nervosa que sentia enjoos psicológicos e frios na barriga o dia todo. No dia do concurso ela avisou que não poderia ir comigo, e eu disse que não me lembrava o local, e então ela disse outra vez. Quando meu pai estacionou o carro no destino final do endereço me deparei com um beco escuro, a rua ao lado estava deserta, tão deserta que eu podia ouvir o som dos ratos na lata de lixo.
Aquele fora o pior dia da minha vida, meu pai tentou ligar pro programa, mas não chegaríamos a tempo. Fomos avisados que Celina tinha encontrado uma outra dupla, e que estava completamente chateada com o bolo que eu tinha dado nela. Meu pai me ouviu xingar pela primeira vez, e me consolou quando chorei, disse que eu apenas tinha um coração bom quando lamentei ser tão idiota por confiar tanto naquela traíra de cabelo dourado. Senti meu coração ser arrancado pelas mãos de Celina e pisoteado com seu salto agulha do baile de primavera. Era uma oportunidade única, que foi tirada de mim como um doce de uma criança.
Aquela foi a origem pra eu nunca mais confiar em outra pessoa como confiei em Celina. Não me tornei tão dura com as pessoas como gostaria naquela época, e não me arrependia. Naquele noite eu disse ao meu pai que nunca mais séria tão boba em confiar em outra pessoa, meu pai respondeu que eu poderia me tornar difícil no quesito confiança, mas que eu nunca deixaria de ser doce e ter um bom coração – na verdade, ele estava certo.
Estava escorada no balcão da cozinha olhando para Tina, Becca, Pietro e Luan – Luan disse que Pietro estava muito abatido e resolveu chamá-lo para uma noite de jogos em seu apartamento –, ambos conversavam no sofá e vez ou outra soltavam uma risada alta. Tinha ido até lá beber um pouco de água, e, vendo meus amigos, dos quais confio de olhos fechados, os flashes daquela noite em que Celina resolveu me sacanear passaram por minha mente, oscilando entre os flashes das minhas boas memórias com Tina e Becca, as primeiras pessoas que não eram da minha família que comecei a confiar plenamente depois de um certo tempo. Olhei para elas, que ouviam atentamente o que meu namorado dizia, sorriam, Tina vez ou outra olhava Pietro de soslaio. Olhei para o garoto do sorriso galante, ele fazia gestos empolgados, sorria enquanto seus lábios se moviam, talvez estivesse os contando sobre algumas de suas teorias fascinantes sobre o universo. E então olhei para Pietro, sorria e dava gargalhadas, as vezes revirava os olhos ainda sorrindo e fazia algum comentário, provavelmente uma de suas piadinhas. Havia tido um dia difícil no trabalho, um dia sem algum sequer progresso. Os olhados atentamente tão felizes daquela bancada era como um sopro de alívio em meu coração.
– Será que a Pixie se afogou com o copo d'água? – Pietro perguntou brincalhão, eu terminei de beber a água e voltei até a sala, me sentando ao lado de Luan, que passou o braço pelo meu ombro, deixando um beijo em minha bochecha – Parece que conseguiu se salvar a tempo para a próxima partida.
Dei uma risada forçada.
– Muito engraçado – e então ri de verdade.
– Quem será o primeiro? – perguntou Tina.
– Acho justo que o último vencedor inicie a partida – Luan pegou os dois dados quando todos concordaram, sacudiu–os e os jogou sobre o tecido do jogo – dez casas, comecei bem.
Eu havia ganhado aquela segunda e última partida do jogo. Depois Pietro e Tina pediram licença para invadir a cozinha e preparar algo para comermos.
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Game over
RomancePixie nunca disse a alguém seus medos e inseguranças, ninguém nunca a observou o bastante pra perceber que havia algo errado, e ela nunca quis que alguém se envolvesse na bagunça de sentimentos que estava se tornando. Até a chegada de Luan, um rapaz...