Capítulo 20

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Uma vez meu pai me ensinou que para saber ganhar, eu também precisava saber perder, e que pra saber voar também tínhamos que cair algumas vezes. Foi em uma das minhas lembranças favoritas: estávamos preparando um bolo pro aniversário da minha mãe, meu irmão era bem pequeno, mas nos ajudava também, colocando farinha com suas mãozinhas gordinhas sobre a massa. Meu pai havia me perguntando qual era o meu sonho, eu tinha oito anos e queria voar bem alto, como as borboletas do parque que eu gostava de observar naquela época. E então ele disse:

– É um bom sonho, um sonho lindo, ser livre – ajudou Federico a jogar um pouco mais de farinha na massa quase pronta – Mas saiba que para voar também temos que cair, como quando te ensinamos a andar de bicicleta, você caiu algumas vezes, se lembra? – sacudi a cabeça positivamente – Na vida nós caímos algumas vezes, e então nos levantamos, e voamos. E as vezes a gente pode perder, e é preciso saber perder para ganhar. Nunca se esqueça disso, meu bem – sorriu e sujou meu rosto de farinha, me fazendo rir.

E eu havia perdido uma batalha contra Álvaro, batalha essa que abriu uma ferida realmente dolorosa em mim, porém, ao lado de Luan e meus amigos, me fez valente e mais forte. E como meu pai havia me ensinado um dia, eu soube perder, e então ganhei, já que agora eu estava sentada de costas para a penteadeira de Tina, e frente a ela e Becca, enquanto ambas me arrumavam para a tão esperava festa de Daisy, comemorando a marca de um milhão em seu canal.

– O que vocês estão fazendo agora? – questionei, de olhos fechados, quando senti a ruiva esfregar o pincel com cerdas até que bem macias em minha pálpebra esquerda – Eu disse que não queria nada tão exagerado.

– Você pode confiar em nós? – indagou Becca, enquanto mexia na lateral direita do meu cabelo.

– Não sei se devo.

– Tarde demais – disse Tina – Não reclame, Pixie, você perdeu no ímpar ou par – e então passou as cerdas do pincel na minha pálpebra direita.

Ainda que eu estivesse com medo do que veria no espelho assim que minhas melhores amigas terminassem, eu estava empolgada, sentia o mar calmo outra vez, me sentia em um novo caminho, em um voo sem retorno na liberdade. Pensar que há uns dias não tinha nem mesmo data para quando a festa poderia acontecer me deixava ainda mais eufórica, porque depois que as duas acabassem, e depois que eu me trocasse, era pra lá que eu ia.

Mas eu também sentia saudade, muita saudade.

– E o Luan? – Tina perguntou, ainda dava leve pinceladas em meus olhos.

– Não sei – respondi, com voz baixa e triste – Não nos falamos há dois dias, desde que ele foi. Eu mandei algumas mensagens, ele ao menos viu. Mas... prefiro pensar que ele talvez esteja apenas tentando se acostumar sem mim de novo. Pensar assim é melhor, mais fácil.

– E o que mais faz sentido – Becca começou –, considerando que ele te ama do jeito mais puro e genuíno que eu já vi.

Eu sentia falta de me perder nas palavras sofisticadas, ditas sempre no momento certo de Luan, sentia falta das mãos dele entrelaçadas nas minhas, e de quando ele beijava delicadamente minha testa para dizer boa noite. Eu sentia falta do nosso "até mais", principalmente quando era dito sabendo que nos veríamos no dia seguinte, e nos beijariamos, entrelaçaríamos nossas mãos, e seguiriamos até o Fundom juntos. Sentia falta dele por completo, mesmo que tivessem se passado apenas dois dias, e doía sentir saudade dele, porque quando se ama alguém, e não se tem aquela pessoa por perto, dói, e eu o amava muito. Me perguntava constantemente o que ele estaria fazendo, como se sentia, e as vezes uma pequena insegurança e paranoia se instalava em meu coração, será que ele já tinha se esquecido? Mas também pensava que poderia estar sendo egoísta, sufocante, e então apenas tentava ocupar minha mente.

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