Capítulo 8

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Passar uns dias com minha família estava definitivamente me fazendo muito bem, porém já sentia falta de Tina reclamando da novela e do cheiro das velas automatizadas que ela espalhava pela casa vez ou outra, e de Becca comentando sobre o protagonista da novela de Tina e surtando com os episódios de Greys Anatomy. Eu sentia falta do Fundom, e do Luan.

Naquela manhã todos acordaram mais cedo – Samanta reclamou, claro –, eu voltaria a Argentina depois do almoço. Tomamos café todos juntos, logo em seguida meus pais foram ao mercado, Samanta foi até a casa da namorada e eu fiquei em casa com Federico.

– Em 6 meses você finalmente começa o intercâmbio na Irlanda, como se sente? – perguntei e ele tirou os olhos do notebook direcionando sua atenção a mim. Estávamos na sala, ele na poltrona do papai e eu no sofá.

– Seria muito idiota da minha parte dizer que estou com medo? Sei que já estou bem grandinho e posso me virar sozinho, mas vai ser tudo diferente. Tenho medo de não me acostumar.

– Quando tinha 7 anos chorou a noite inteira pra não ir no acampamento de férias do colégio. 4 dias depois você chorou porque não queria voltar pra casa, disse que o balanço de lá era bem mais legal do que o do nosso quintal.

– Sério?

– Sério.

– Bom, mas é diferente.

– Sim, com certeza, mas você sempre foi assim, no início sentia medo e logo se entregava e amava suas aventuras – sorri pra ele – Vai ficar tudo bem, Fed. As vezes precisamos nos arriscar.

– Quando foi que ficou tão filosófica?

– Conheci um cara.

Sorri com a imagem de Luan e seu sorriso galante vindo em minha mente.

Federico e eu tínhamos uma convivência consideravelmente boa, é claro que eu com 23 anos e ele com 20 já tínhamos passado da fase de nos sabotar. Uma vez ele escondeu minha melhor calculadora, disse que me devolveria se eu fizesse sua atividade de física até o fim do ano colegial, mas, eu sendo mais esperta, não demorei muito pra achá-la embaixo de sua cama no meio de vários brinquedos. E eu demorei um pouco pra me acostumar com a ideia de não ser mais a favorita dos meus pais quando soube que ia ter um irmão – depois de me acostumar continuei implicando com ele dizendo que eu era a favorita.

Depois de conversar um pouco com meu irmão resolvi jogar contra TheFera e ele ficou rindo.

– Se conseguir vencer esse batalha alguma vez quero que me conte – ele disse.

– E eu vou vencer, nem que seja uma vez – respondi, ainda atenta ao jogo – Trapaceiro! Te odeio, TheFera.

...

Meus pais quase choraram quando me despedi, meu irmão fingiu não dar muita a mínima, mas eu sabia que sentia minha falta, assim como eu sentia a dele – segundo ele dizer que sente saudades era contra as regras da conduta de irmãos. Samanta disse que foi bom me ver de novo, não guardava magoava de mim apesar de ter ouvido quase que a adolescência toda que eu nunca tinha sido expulsa da classe, e já tinha uma coleção de medalhas, enquanto ela só tinha uma coleção de decepções – eu me senti mal com aquilo, mas Sam disse que eu não precisava me preocupar porque era o seu humor sórdido falando.

E então voei de volta a Argentina, chegando lá ao anoitecer.

Entrei no apartamento e dei de cara com Becca – de cabelo roxo – andando de um lado pro outro com um livro da faculdade na mão; Tina meditava na sala. Estavam tão concentradas que ao menos perceberam que eu tinha chegado.

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