Capítulo 15

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Resolvi contar tudo que estava acontecendo a Becca e Tina, desde o ocorrido há cinco anos até o ocorrido atual. Contei cada sentimentos que corroeu meu corpo por dentro ao ler todos aqueles e-mails, contei das noites que passei em claro por não conseguir parar de chorar, ou então por sentir a cabeça pesar uma tonelada. E no momento em que contava senti meus ombros um pouco mais leves, foi como se eu tivesse dado o suspiro final, o último suspiro ruim, como se o resto de angústia tivesse se dissipado do meu coração. Não era como se meus problemas tivessem evaporado, eu apenas me sentia aliviada.

– O Álvaro? – Tina perguntou, claramente chocada.

– Eu também não consigo entender porquê ele quis fazer tudo isso – respondi.

– Pixie, sério? – questionou Becca, me olhando como quem iria dizer o óbvio – Seu canal de games sempre fez muito sucesso nas redes, enquanto Álvaro tentava de tudo e não passava de um flopado. Ele fez tudo isso porque é mau caráter, amiga.

– Quando vai reconhecer a mulher incrível e cheia de talentos que é? Está claro que Álvaro tem inveja de tudo que você construiu no Fundom, Pixie, e ele quer isso.

"Algumas pessoas vão te admirar ao longo da vida", meu pai sempre dizia isso pra mim, e ele também dizia que em muitos casos a admiração nem sempre significa algo bom, pode significar que alguém vai tentar subir em cima de você e dos seus sonhos somente para alcançar os próprios objetivos. Eu nunca tinha me esquecido do que ele disse, acho que foi o que me tornou mais observadora e meticulosa com as pessoas que entravam em minha vida de repente. No entanto, depois do episódio dos insultos nos comentários dos meus vídeos de covers perdi um pouco da minha confiança em mim mesma. Tinha consciência sobre meu potencial, não sobre o quanto, até entender porquê Álvaro dedicou tanto do seu tempo e inteligência para me sabotar. E era assustador.

– Isso é tão... não sei, na verdade. Também não sei mais o que fazer, sei que não posso deixá‐lo destruir tudo que construí. Mas... como? Me sinto tão cansada de toda essa porcaria, só quero parar um pouco e respirar.

Queria que meu pai estivesse aqui.

Fechei os olhos e respirei fundo.

Minha mente fez uma viagem no tempo, de volta ao dia 16 de março de 2006. Era o dia de uma das competições de matemática mais importantes da minha vida, e eu mal sabia que no fim da noite iria levar para minha casa a medalha de primeiro lugar. Eu estava apreensiva, minhas pequenas mãos tremiam, e eu sentia que poderia jogar todo café da tarde pra fora em qualquer um dos banheiros daquela escola.

– Isabel, meu bem, – meu pai me chamou, estava ajoelhado em minha frente, o sorriso afetuoso estampava seu rosto, os olhos brilhavam como duas estrelas – precisa confiar em si mesma, você se esforçou tanto para estar aqui.

– Mas e se não tiver sido suficiente? Eu ouvi umas garotas da escola dizendo que eu vou passar vergonha. Papai, você acha que eu vou ser uma vergonha? – perguntei, minha inocência e meu medo tão delicado quase fizeram meu pai chorar, o brilho em seus olhos ficou ainda mais intenso, mas ele não estava triste.

– Eu não sei se você vai levar o prêmio principal, também não se quantas pessoas preenchem aquelas cadeiras agora, mas eu sei que, de tantas pessoas, independe de prêmio, eu sou a pessoa mais orgulhosa do mundo, meu amor – ele segurou minhas mãos – Não importa o que aconteça, sua mãe e eu sempre vamos acreditar em sua capacidade de fazer o que quiser com esse cérebro genial. Se algum dia você se esquecer da sua grandiosidade, não importa onde esteja, estaremos aqui para te lembrar disso.

Meu pai me puxou para um abraço.

– Vou ganhar o prêmio principal, papai.

– Sei que vai, meu bem.

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