Game over

Capítulo 3

Eu nunca entendi muito bem o porquê, mas aos sábados Becca sempre nos obrigava a comer cereal no café da manhã - nós nunca comíamos cereal em nenhuma ocasião, exceto pelos sábados. Ela dizia que tínhamos que criar raízes, como tradições de família, já que éramos realmente como 3 irmãs que moravam juntas.

Conheci Rebecca e Valentina no 1° período da faculdade, há 2 anos, ambas faziam arquitetura como eu. Não me lembro detalhadamente como nos conhecemos, apenas lembro que Becca ouviu o som de porquinho da minha risada e achou fofo, Tina por sua vez precisava de ajuda em uma das matérias. Eu, como de esperado, demorei um pouco pra de fato criar laços com as duas, mas acabei me rendendo quando percebi que aquelas malucas nunca iriam largar do meu pé. Tínhamos nossas diferenças quase gritantes: Becca gostava de falar sobre como o protagonista da novela estava ainda mais gato do que na novela passada; Tina acordava o mais cedo que podia pra fazer yoga no meio da sala e ascendia incensos de vez em quando; e eu, bom, eu queria muito vencer o TheFera no videogame.

Becca, tão sorridente do que qualquer coisa, despejou o cereal colorido na minha tijela e em seguida na de Tina por último colocando na sua, depois com a maior cautela do mundo despejou o leite.

- Feliz sábado, irmãs - disse se sentando na cadeira.

- Você é muito estranha sabia? - ela me olhou fazendo uma careta engraçada. Dei risada.

- Conversa de adulto! - disse Tina.

- Puxa vida... odeio conversa de adulto - fingi cansaço.

- Quando pretende destrancar a faculdade?

Havia feito 2° períodos de arquitetura e então tranquei, não me parecia ser algo que eu fosse gostar de fazer pelo resto da vida. Depois de um ano, ainda não parecia e eu também não fazia ideia do que queria, na verdade ainda estava em dúvida.

- Eu não sei se é o que eu quero - tentei me imaginar sendo uma arquiteta, e não me caiu bem - Não consigo me ver fazendo isso e sendo feliz.

- É importante - disse Becca - Mas não queremos ver você jogando seu talento fora.

- Bom, tecnicamente não estou jogando fora, trabalho no Fundom com tecnologia, o que eu gosto. Então não estou jogando fora, eu estaria se continuasse com a arquitetura.

- Pensando por esse lado é verdade.

Ouvi alguém bater na porta e me disponibilizei a atender quando Tina reclamou das suas noites mal dormidas - puro drama de quem perdia noites vendo capitulos perdidos da novela boba. Abri uma brecha da porta e levei um susto quando dei de cara com Luan.

- Você - ele disse com um sorriso de lado.

- O-o quê.... Você...?

- Quem é, Pixie? - perguntou Becca da cozinha.

Abri a porta e fui pro corredor de pressa.

- Como você soube que eu moro aqui?

- Pura intuição.

- Ah, claro - coçei a nuca - Bom, o que faz aqui então? Quer dizer, porquê resolver usar sua intuição pra descobrir onde eu moro?

- Quer dar uma volta?

- Como posso saber se você não vai me sequestrar no meio desse passeio?

- Eu te dei uma flor de origame.

- Justo - sacudi a cabeça sorrindo, ele me fazia sorrir como uma boba da maneira mais fácil do mundo - Você poderia esperar um pouquinho? Preciso me trocar.

- Por mim você está linda assim.

Sutil como um furacão.

...