Capítulo 02

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Abriu os olhos devagar, ainda se adaptando a luz, mesmo que pouca. Ao acordar, a primeira coisa que viu foi o teto e perguntou-se onde estava, recordando a memória 2 segundos depois. Fechou os olhos novamente, passando a mão pela barriga, no local dos arranhões mas, ao tocar no local, não sentiu sua pele e sim um tipo de tecido. “Mas o que…” pensou quando ouviu uma voz:

–Acordou, bonitão? - disse uma voz feminina vindo da sua direita. Assustado, sentou de súbito, fazendo doer o ferimento e assustando a mulher – Ei, tá doido? Quer me matar do coração? 

–Quem é você? - perguntou, procurando a arma na cintura - é outra infectada? - Não achou a arma.

–Tá procurando isso aqui? - ela disse, levantando a arma e mostrando a ele - Ei, vê se relaxa, ok? Vai fazer o ferimento sangrar de novo. E eu é quem deveria estar assustada, foi VOCÊ quem apareceu no meu esconderijo! Quem é você mesmo?

–Desculpe - ele disse, se ajeitando devagar pra olhar pra ela, que estava sentada no chão, bebendo um gole de água e folheando uma revista - Meu nome é Mateo.

–Hum, nome bonito. Pode me chamar de "Vih" - ela disse, fechando a revista.

–Você que cuidou de mim? - ela era bonita, tinha o cabelo grande, cacheado e preto, uma pele morena, e um porte genético de atleta.

–Uhum, pode apostar. Bom, e o que você faz mesmo, senhor assustadinho?

–Eu era policial, trabalhava para a inteligência do governo antes de tudo isso começar. Por quanto tempo fiquei apagado?

–Sei lá, acho que um mês - ela disse, dando de ombros.

–O QUE? - Mateo exclamou

–Ei - ela disse rindo- estou só brincando. Acho que um dia e meio ou dois - ela o viu soltar o ar que tinha prendido - E o que foi isso na barriga? Um infectado? - perguntou, se afastando um pouco.

–Foi, mas não se preocupe, não foi ele diretamente, eu…

–Oba, hora da história - ela parecia realmente empolgada, e pegou um biscoito na mochila.

–Então, eu estava escondido em uma casa a um quarteirão daqui, mas uma noite deixei a vela acesa e acabei pegando no sono, a vela caiu e… Bom, eu estava lendo uns jornais antigos… - ele disse, passando a mão na nuca, um pouco constrangido - os jornais pegaram fogo e isso me denunciou aos infectados. Eles invadiram a casa onde eu estava. Por sorte, eu tinha acabado de acordar…

–Nossa, e eu achei que eu fosse lerda antes de te conhecer!

–Obrigado, fico muito contente de ouvir isso. Continuando: entraram uns 3 na casa, atirei no primeiro e no segundo e consegui matá-los, mas o terceiro carregava uma barra de ferro com um pedaço de concreto na ponta…

–Ei, eu conheço esse! Somos velhos amigos, sabe? Quase me pegou, muito forte o rapazinho.

–Isso. Quando o segundo caiu, só vi o concreto vindo em minha direção, consegui abaixar e ele atingiu a parede do meu lado, acabando com ela, mas quando levantei, ele veio pra cima de mim e brigamos mano a mano. Ele me empurrou contra a parede quebrada que tinha uns ferros da construção expostos, eu caí nesse ferro, daí o ferimento. Mas na hora nem senti, adrenalina, sabe?

-Sei.. - Falou mordendo um pedaço de biscoito - Quer? 

Ele aceitou - Então, ele veio pra cima de novo e desviei, achei a arma e estourei aquele desgraçado. Mas não podia mais ficar lá porque, bom, a casa ainda estava queimando, era hora de me mandar. Então saí o mais escondido que pude e caminhei por um quarteirão até achar um local pra ficar que não estivesse arrombado. Entrei aqui procurando comida mas não tinha muita, então peguei água e ouvi passos, aí procurei onde me esconder e entrei na salinha lá em cima, achei o alçapão e cá estou eu!

– Você não é muito bom contando histórias - ela riu - te falta emoção. Cadê sua alma artística?

– É? E o que me diz de você contar uma história agora?

– Certo - ela disse, se levantando e colocando uma mão no peito - Era uma vez uma princesa…

– Engraçadinha, me conte a sua história!

– Ah, essa é mais legal - disse, sentando novamente. É o seguinte, meu parceiro: tava eu lá né, sentada no departamento de Polícia, porque eu sou uma agente infiltrada! Era... Não sei. Eu tava lá comendo meus donuts e tomando meu café, quando se ouve uma gritaria, "Mas o que será isso?" pensei, de repente... aparecem infectados de todos os lados. E foi pânico e gritaria. "SOCORRO!! DEUS NOS ACUDA!!" e sons de tiro - ela faz uma sonoplastia- “Pow Pow” “aaaaaaaah” e gritos, e sangue e mais sangue. Aí eu fugi, e estou aqui. - ela sorriu ironizando - Não, espera... isso foi uma série que eu vi. 

– Realmente, você sabe contar história, fez curso ou o quê? Tá cobrando quanto a hora? 

– Olha aqui, seu arrombado, você tá me achando com cara de quê? - Mudou a feição para irritada, colocando o dedo na ferida e apertando.

– Ai, garota - ele disse, se encolhendo - tá louca??

– Fui eu quem te curei, eu posso te “descurar” também! - Parou de pressionar a ferida.

– Inclusive, obrigado por isso. Agora, fala: quem é você de verdade?

– Eu sou uma Doutora cirurgiã, e entrei nessa casa aqui porquê estava aberta antes, os dois - apontou para cima- lá de cima, já estavam mortos, então eu descobri esse porão aqui, mas algum arrombadinho, quebrou minha porta, né!? Agora é o dobro de atenção. Obrigada, viu? Nem queria… -Ela cruzou os braços, fazendo birra.

Vih começou a mexer na mochila, "Você tá com fome? Ainda tenho bastante ‘comida’ aqui, não é lá  muito saudável, mas é melhor que passar fome, né?"

– Depende, você que vai cozinhar? - e quando viu a cara fechada dela, completou - eu tô brincando.

– NÃO, A PUT... me deixe, viu? Só tem miojo, e é o que você vai comer, se não quiser fique com fome então. 

– O banquete dos sonhos… Ok, eu quero, preciso me recuperar logo e barriga vazia não ajuda em nada. Quer que eu vá pegar água lá em cima?

– Não, parceiro, fica sussa ai, porquê primeiro: cê tá todo estropiado. Segundo: eu sei fazer um miojo. E terceiro: tome o seu remédio! - ela disse, se virando para a escada.

–Não se preocupe, vou ficar bom logo pra te mostrar que eu não sou só um rostinho bonito - ele disse enquanto observava ela ir em direção à escada.

"Rostinho bonito, vai ver na casa dele não tinha espelho" ela sussurrou, sorrindo com malícia, enquanto subia a escada e abria o alçapão com cuidado.

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