Após aproximadamente mais uns dois dias de cuidados, Mateo melhorou bastante. Sua febre havia parado de acontecer e sua dor diminuíra consideravelmente. Ele conseguia movimentar-se melhor, apesar de estar um pouco fora de forma pelos dias que ficou parado e a dieta baseada nos miojos que a Vih conseguira. Não sabiam que horas eram, mas ainda estavam dormindo quando ouviram um estrondo muito forte no andar de cima. Ambos levantaram sobressaltados. Vih, ainda grogue, olhou pra Mateo.
–O que foi.. - e parou de falar quando ele pôs o dedo indicador nos lábios, pedindo silêncio. Ele pegou a arma dele devagar sobre a mesinha e indicou para a Vih pegar algo também.
–Acho que arrombaram a porta da frente - ele sussurrou - quer subir pra conferir?
–E tem outro jeito? - ela disse, segurando seu punhal - Parece que Dentinho e Come-come vão ganhar outro amiguinho.
Mateo desligou a luz do porão e Vih começou a subir a escada pé ante pé, evitando ao máximo fazer barulho. Abriu o alçapão devagar de forma que deixou apenas os olhos visíveis para poder ver a porta da salinha. Ainda estava fechada e a sala estava iluminada com uma luz fraca, que parecia a do início da manhã. Ouviu um estrondo que pareceu vir do primeiro andar e lembrou portas sendo arrombadas, o que era engraçado porque as portas não estavam trancadas.
–Eu acho que ele deve estar arrancando as portas do primeiro andar - sussurrou Mateo atrás dela, assustando-a.
–QU… - quase gritou - Não faz isso! Que susto! - ela sussurrou olhando pra trás, só enxergando a silhueta dele no escuro - Vamos lá olhar ou esperamos ele ir embora? A gente pode matar ele também, se ele não matar a gente primeiro.
–Melhor surpreendermos ele que o contrário. Vamos conferir.
Dito isso, Vih saiu do alçapão seguida de Mateo, que o fechou com extremo cuidado para não fazer barulho. A graça do elemento surpresa é… Adivinhe… A surpresa! eles se encostaram na parede ao lado da porta e Vih a abriu com cuidado para espiar lá fora.
–Tudo limpo no hall - ela sussurrou, fechando a porta e se virando. Nesse momento, Mateo deu um passo para trás e se esbarrou na estante de livros atrás dele, fazendo com que um livro caísse com um baque surdo. Eles se entreolharam e então ouviram passos no andar de cima, descendo pesadamente as escadas. Não podiam deixar que a porta da salinha fosse arrombada e o esconderijo deles fosse descoberto, então abriram a porta e foram para o corredor, dando de cara com o infectado terminando de descer do primeiro andar. Ele era alto e forte, usava botas, calça jeans e camisa quadriculada, bem no estilo country, parecia um fazendeiro. Pelo tamanho dos braços, não dava pra duvidar que ele levantasse uma enxada.
O infectado os viu e correu em sua direção, fazendo Mateo sacar sua arma. Vih passou em sua frente e fez sinal para que ele abaixasse a arma, correndo na direção do infectado. Levantou o punhal na tentativa de golpeá-lo na cabeça, mas ele foi mais rápido, se abaixando para agarrá-la pela cintura. Com o impacto, os dois caíram no chão perto de Mateo, segurando a cabeça do infectado, ela reclamou:
–Me ajuda! Vai ficar só olhando?
Com essa deixa, ele deu um chute na cabeça do infectado, fazendo ele cair para o lado e sair de cima de Vih, que levantou, pegando o punhal que tinha caído alí perto. Ela tentou novamente acertá-lo na cabeça com o punhal mas ele se levantou bem rápido, não dando tempo de ela conseguir esfaqueá-lo.
–Quer brincar? Vamos brincar -ela disse, aplicando uma rasteira nele, golpe que aprendeu na capoeira.
Quando ele caiu, além do barulho alto por ser pesado, ele gritou. Inédito, como se soubesse que o grito pudesse atrair outros infectados. Preocupados com essa possibilidade, resolveram dar logo um fim nele e cair fora. Mateo, que estava mais perto da cabeça, deu vários chutes para que ele ficasse desnorteado, dando tempo suficiente da Vih se aproximar e golpeá-lo no crânio, dando um fim ao mesmo. Subiram as escadas correndo e esperaram escondidos, olhando a porta para ver se mais algum aparecia. Uma quantidade muito grande de infectados veio entrando. Uns mais rápidos, outros mais lentos. Uns bem fortes e outros aparentemente mais fracos e confusos. E, é claro, ele, o da barra de ferro. Ele estava em todas.
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Quarentena
FantasyEm um mundo passando por uma quarentena, onde infectados semi mortos com incríveis capacidades destroem todos que encontram, uma médica e um policial tentam sobreviver enquanto esperam isso passar. Autores: Gabriela Teixeira e Henri Sant. Capa por:...