Capítulo 11

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Depois de receberem a mensagem, decidiram que não deveriam sair correndo logo de imediato. Resolveram ficar uma semana pra fazer os últimos preparativos. A base não sairia do lugar e se saísse, muito provavelmente eles não iriam querer estar lá.

Com isso em mente, os últimos dias foram usados para dar algum treinamento à Lótus, mesmo que mínimo, e para conseguir comida e utensílios suficientes para essa viagem que não sabiam quanto tempo duraria nem o que iriam encontrar pelo caminho.

Mateo dedicou suas tardes a ensinar para a Lótus alguns movimentos básicos de Jiu-Jitsu que ele aprendeu na academia. Ela era boa, apenas um pouco desengonçada, mas por ser esforçada conseguia aprender os movimentos com certa facilidade, só errava um pouco na hora de aplicar. Eles teriam tempo depois para fazer ela praticar um pouco mais. 

Durante os fins de tarde e as noites, Mateo e Vih saíam para rondar as casas do local que ainda não tinham visitado para poder procurar comidas e coisas úteis. A parte boa de estar em uma área rural é que tinham muitas coisas plantadas então conseguiram uma boa quantidade de alimentos que ainda não tinham estragado e nem foram comidos pelos animais que sobraram. Procuraram também garrafas vazias com tampa de rosca para que pudessem levar bastante água na viagem, porém não acharam muitas e perceberam que teriam que fazer mais paradas do que o planejado.

Usaram tudo que tinham para guardar as coisas, como caixas, sacos e sacolas velhas que encontraram em suas andanças. Dois dias antes do grande de dia, um dos quartos da casa estava lotado de preparativos.

– Tio - disse Lótus para um Mateo absorto em pensamentos sentado na mesa - como vamos fazer para levar tudo isso? E como vamos chegar lá? Vamos andando?

Mateo não pôde deixar de rir com a ideia de ir andando até Paulo Afonso.

– Não, meu amor, não vamos andando. Temos um carro - a carinha confusa dela foi muito engraçada.

– Eu não sabia que vocês tinham um carro… Cadê?

– Escondemos, lá na entrada.

– Lá longe? -Ela apontou olhando para fora da casa.

– Não é tão longe. 

– Mas é lá lonjão!

– Não é tão longe!

– É longe sim, Mateo! -Falou a vih aparecendo na sala- Pode não ser pra você que é um camelo, mas para ela é longe.

– Tia vih! -A garota levantou e foi abraçá-la.

– Vem comigo, vem. Vamos ver umas roupinhas aqui pra você levar, no caminho a gente vai pegando mais -Ela deu a mão à garotinha e foi caminhando para o quarto- ei, Mateo, confirma os suprimentos, vê se tem mais coisas que podemos levar, tá?

– Pode deixar -disse respirando fundo e se levantando.

 Vih ficou junto a Lótus arrumando as roupas e outros afins. Mateo levou em direção ao portão duas caixas: uma continha alimentos ainda embalados e a outra algumas panelas básicas e utensílios. Voltou e pegou mais uma com itens de higiene. Vih apareceu na porta segurando mais uma caixa com roupas e a Lótus carregava outra com roupas íntimas.

– Vamos? -indagou Mateo.

– Espera! Vamos ter que dar duas voltas.

– Sim, o que tem?

– A Lótus vai ficar cansada. -Ela parou um pouco olhando as caixa .- Que tal assim, você leva umas caixas, eu e a Lótus vamos pegar alguns limões. Quando você voltar, se voltar, -Esbanjou um sorriso irônico- levamos o resto.

– Você acha que eu sou o quê, Virginia?

– Burro de carga, ué. É pra isso que macho serve. -ela sorriu - você errou meu nome de novo.

– Não é uma má idéia… Vou rápido e volto se não me chamar de "burro de carga" de novo.

 A garota abraçou ele – Volta mesmo viu, eu só tenho vocês dois, não quero mais perder ninguém. 

– Eu… -As palavras abalaram ele- Volto sim, não se preocupe -Deu um beijo na testa dela- Já volto.

– Não vai me dar um beijo também, amor? -Disse Vih fazendo um olhar triste.

– É… é… -Mateo ficou vermelho e olhou pra baixo quando Lótus deu dois toques nele.

– Ela tá te fazendo de bobo, tio. ‐Vih começou a gargalhar.

– Homens! Vai logo pra sairmos o quanto antes, vai que tá tudo engarrafado. A essa hora a estrada fica tensa.

– Deve ser sua mãe que tá atrapalhando o trânsito. 

– Olha a boca, garoto, tem criança aqui. -Ela colocou a mão na cabeça da Lótus- Vem meu amor, vamos pegar limões.

 Com a ajuda da vih, Mateo passou as caixas para o outro lado do portão e seguiu levando três delas. O dia estava claro e não havia sinal de infectado, o caminho até o carro estava limpo. Algumas borboletas voavam de flor em flor, abelhas disputavam o mel com elas, pássaros cantavam, e os sapos coaxavam numa corrente d'água que atravessava um pomar ali perto.

Vih e lótus coletaram algumas laranjas e alguns limões ainda verdes. Eles amadureceriam durante a jornada. Vih atravessou a garota e ficou esperando do outro lado do portão o Mateo chegar. 

– Olha! ele voltou, tia Vih. 

– É, ele não morreria tão fácil assim.

Mateo se aproximou – E aí,, vamos?

– Tá tudo limpo no caminho?

– Incrivelmente limpo, na verdade está até estranho. 

– Vai ver aqueles eram os últimos por aqui. Os outros devem ter debandado.

– O que é debandado? -Perguntou a Lótus. 

– É quando vão embora.

– Então nós vamos debandado?

– Nós vamos debandar também, meu amor.

 Cada um pegou uma caixa, a Lótus levou o saco com as laranjas e os limões. Chegaram ao carro sem mais problemas, entraram e começaram a nova viagem.

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