Capítulo 10

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Ficaram preocupados que o barulho pudesse ter atraído alguns infectados mas tinha a possibilidade de o piloto estar vivo, então a Vih bateu o pé pra eles irem o mais rápido possível.

– Mas e a Lótus? - Mateo questionou.

– Deixa ela aí, por enquanto ela está segura! - ela rebateu.

– Não é possível que ele esteja vivo, Viviana!

– Que te comeu atrás da cama -Ela esboçou um sorriso nervoso.

– É sério isso? Agora? -Mateo olhou sério. 

– Meu nome não é Viviana e temos que tentar! - ela virou e ele segurou seu braço.

– Mateo, me solta! - disse, puxando o braço.

– Não devemos ir, os infectados serão atraídos. Como vamos lutar contra todos e salvar alguém, Vitória?

– Meu nome não é Vitória! Se tá com medo, eu vou sozinha!

– Não, Violeta!

– PARA DE TENTAR ADIVINHAR MEU NOME, MATEO, QUE CARALHO! - ela gritou - olha - e apertou o nariz - se você não quiser ir, eu vou só!

– Você sabe que não posso deixar você ir só.

– Então vamos, ué?!

– Que droga! Se eu morrer, Vih, eu volto e levo você comigo. Que inferno. Vai pegar umas coisas pra gente se proteger, vou falar com a Lótus - Ele foi até a criança que estava na sala um pouco assustada com o barulho e a discussão. Mateo se agachou em frente a menina e segurou suas mãos.

-Olha, meu anjo. Eu e a Vih vamos precisar sair rapidinho mas prometo que voltamos. Você vai ficar bem sozinha? - ela acenou a cabeça devagar, devia estar com medo - promete que você não vai tentar sair?

– Prometo, tio.

– Vamos deixar tudo fechadinho. Qualquer barulho, se esconde, tá bom? Voltamos o mais rápido possível. 

– Tá bom, tio - ele beijou suas mãozinhas e bagunçou seu cabelo. Levantou e encontrou Vih fechando as portas do fundo. Ele fechou as janelas e eles se encontraram na porta da frente, a fecharam e seguiram rápido.  

Não sabiam bem onde tinha caído o helicóptero mas podiam seguir o clarão em tons alaranjados que cortavam o céu escuro. O fato de a noite não estar com a lua ajudou muito com que pudessem se esconder pelos matos enquanto seguiam em direção ao local que houve a explosão.

Quando chegaram perto, se esconderam atrás de árvores de uma plantação de laranja e ficaram observando. Mateo estava certo, o fogo e o barulho tinham atraído alguns infectados. 

Mateo puxou Vih pra perto e sussurrou:

– Temos que ir agora enquanto só tem 3. Logo chegarão mais e não daremos coisas de todos de vez. 

– Certo. Faz assim. Vamos ver se você é bom de mira, você atira naquele de chapéu de vaqueiro pra matar e atrair os outros dois. Quando vierem pra cá, eu distraio eles e mato os dois, enquanto isso você vai até o helicóptero SEM FAZER BARULHO - ela enfatizou bem essa parte.

– Fechado. Vamos.

Vih se posicionou entre as árvores, mas ainda fora do alcance da visão deles. Escondido, Mateo disparou dois tiros certeiros na cabeça do infectado com chapéu, que caiu no chão como um peso morto com um baque oco. Os outros dois se viraram e viram Vih, que estava preparada com seu punhal em uma mão e uma faca no outro.

Quando foram em direção à Vih, Mateo se afastou pela esquerda e passou por eles, indo até o helicóptero. O fogo estava alto e o piloto estava caído no chão, com metade do corpo carbonizado, mas ainda consciente, em uma mão segurava uma faca e na outra um CD. 

Quando Mateo se aproximou, ele empunhou a faca na sua direção mas, ao perceber que ele não estava infectado, abaixou a guarda. Seu rosto estava chamuscado e sujo, suado. Seu olhar era de desespero. Ele era pesado mas Mateo conseguiu arrastar ele para fora da área de visão da luta, onde Vih estava acabando com eles e se divertindo ao mesmo tempo. Quando o encostou em uma árvore ali perto, Mateo perguntou.

– Quem é você? De onde você veio?

– Eu… Tá tudo explicado… - ele fez careta de dor ao mexer o braço que estava sangrando - aqui… Pegue. - Mateo pegou o CD de sua mão.

– Vem, vamos sair daqui, a Vih vai cuidar de você- Mateo disse, tentando se ajeitar pra erguer o homem.

– Não… Eu fui… mordido - ele respirava com dificuldade - não posso ir… com vocês. Por favor… cuidem da mensagem.

No momento seguinte, Vih apareceu.

– Mateo, ele tá vivo? Temos que tirar ele daqui agora!

– Vih, ele foi mordido… Não podemos levar ele, temos que ir.

Dessa vez, ela não relutou. Não tinha mais o que salvar ali, fosse material ou pessoa. Saíram dali pelo mesmo caminho que voltaram, com um pouco de dificuldade mas acharam a principal e se situaram de volta. Pularam o portão e entraram em casa.

Quando chegaram, abriram a porta e não viram a Lótus. Se entreolharam preocupados e começaram a chamar por ela, até que viram um pequeno vulto vindo correndo em sua direção e abraçando a Vih.

– Onde você estava, meu amor?- Vih perguntou.

– É que eu ouvi barulho lá fora e me escondi - ela respondeu numa voz fofa e inocente - o que vocês acharam lá?

– Nada, meu anjo, não tinha nada… Agora vai tomar banho, ok? Tá tarde.

– Tá bom, tia Vih.

Quando a Lótus foi em direção ao quarto, Vih olhou ao redor da sala procurando o Mateo. Achou ele encaixando o som na tomada e sentando no chão.

– O que você tem aí? - ela perguntou logo atrás dele.

– O piloto me deu esse CD, pediu pra eu cuidar da mensagem - disse abrindo a capa do CD - e eu quero saber o que é isso e pra onde ele estava levando - colocou o disco no aparelho de som.

Vih sentou ao seu lado e Mateo deu play na caixa de som. De início só escutaram um ruído, então escutaram uma voz feminina.

  Oi? Já está gravando? Ok! Aqui é a pesquisadora Milena Freitas, essa mensagem é destinada ao campo de pesquisa localizado em Jequié. Se tiver alguém vivo, por favor, venham para o Centro Federal de Pesquisa de Paulo Afonso. Temos aqui um local fortificado especializado na procura da cura para essa anomalia e preparado para proteger cidadãos e pesquisadores que ainda não foram infectados. Nossa equipe precisa de pessoas e nós temos muito a oferecer. Nossa base fica numa área mais afastada da cidade, do outro lado do Rio São Francisco. Se seguir pela costa, vai encontrar uma ponte para poderem atravessar. Cuidado, ela não aguenta muito peso de vez. Esperamos vocês. Câmbio, desliga. Ah, não precisava falar isso? Para de rir, Bruno, desliga isso.

Mateo e Vih se entreolharam assim que a mensagem acabou. Por mais que não se conhecessem há muito tempo, entendiam aquele olhar: eles tinham um novo objetivo. E tinham certeza que chegar lá seria um desafio.

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