– As coisas andam bem calmas pela BR, não é? -Perguntou Mateo descontraído, observando a paisagem costeira e sentindo o vento batendo no rosto.– Sim, tio, é só mato por aqui. E por ali. E ali também -Lótus falou apontando para todos os lados, Vih sorriu.
– Olha ali, meu amor -Apontou a Vih- uma alvorada de passarinhos.
A garotinha olhou e quando se virou para a Vih, estava com os olhos marejados.
– O que foi, pequena? -Perguntou Mateo olhando pelo retrovisor.
– É que eu lembrei do meu irmão. Ele amava pássaros, sabe? Ele dizia que um dia iria voar ao lado deles. -lágrimas escorreram pelas suas bochechas rosadas.
– Quem sabe um dia você voe também? -Falou a Vih
– E tem como, tia Vih? -Mateo olhou para ela pelo retrovisor com uma cara de "não crie expectativas".
– É claro que sim! Tudo é possível meu amor. Inclusive, eu acho que pode haver uma cura para essa "coisa" -Gesticulou - que está acontecendo. Ainda tenho esperanças que tudo volte a ser como era antes. -Exibiu um imenso sorriso.
– Será, tia?
– Sim! Existem pessoas que irão desacreditar, mas você não deve se importar com a opinião delas. -Vih devolveu o olhar para Mateo. Ele fingiu não reparar, focando sua atenção na pista.
No caminho viram alguns infectados que, ao perceber o carro, corriam atrás. E em todas as vezes a Lótus encolheu-se e só levantou quando a Vih disse estar tudo bem. Viram alguns cachorros espalhados pela rua porém nenhum sinal de sobreviventes. Talvez houvessem alguns vivendo como ratos, coletando comida e escondendo-se novamente. Talvez simplesmente não houvesse ninguém.
Em vários trechos da estrada era possível ver carros batidos ou tombados, tanto pelo acostamento quanto pela pista, obrigando-os a desviar. Alguns deles tinham cadáveres apodrecendo dentro e em volta. Alguns corpos já secos e desidratados pelo sol, com alguns urubus em cima devorando suas carcaças.
Depois de uns 45 minutos de viagem, após a saída da área rural, avistaram um posto de gasolina com uma lojinha de conveniências obviamente arrombada. Mateo resolveu abastecer e encostou em umas das bombas torcendo para que houvesse gasolina ainda naquele posto pois não sabia em quanto tempo achariam outro. Como não tinham mais atendentes, ele mesmo abasteceu o carro. Por sorte tinha gasolina o suficiente e Mateo encheu o tanque. Ele procurou pelo posto e pela loja de conveniência com portas quebradas alguma garrafa e achou algumas daquelas que se compra quando se quer levar gasolina para os lugares. Ele as encheu o máximo que deu caso precisassem mais pra frente.
Após algum tempo, muitas músicas foram tocadas no rádio do carro, todas dos cd's que a Vih havia guardado na mochila. A fome já estava batendo na porta e, apesar de terem frutas, queriam comer algo mais bem feito e ir no banheiro, além de esticar as pernas, o que os obrigaria a fazer uma pausa mais cedo ou mais tarde. Já haviam chegado em Feira de Santana.
– Quem vê assim, tudo vazio… -Mateo observou a sua volta - Nem imagina o quanto essa cidade era movimentada.
– Lembro quando minha mãe me trazia aqui. Se em salvador as coisas eram baratas, aqui em Feira eram quase de graça. -Disse Vih e eles sorriram.
– Tia Vih, eu tô ficando com fome e com sede -Disse Lótus pondo a mão na barriga.
– Já vamos… O que vamos fazer, Mateo? Parar? Seguir? -Mateo olhou para a Vih.
Nesse momento, uma criatura atravessou a rua correndo e gritando a 5 metros na frente do carro. Mateo ainda estava olhando para a Vih pelo retrovisor quando percebeu a sua cara de espanto olhando para frente. Ele já estava abaixando os olhos para a pista quando a criatura se chocou com o carro.
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Quarentena
FantasyEm um mundo passando por uma quarentena, onde infectados semi mortos com incríveis capacidades destroem todos que encontram, uma médica e um policial tentam sobreviver enquanto esperam isso passar. Autores: Gabriela Teixeira e Henri Sant. Capa por:...