Mateo acordou no dia seguinte sentindo-se renovado graças ao colchão macio que sua tia havia comprado um tempo antes de tudo isso começar. Sentou-se na cama fitando as paredes azuis que não foram pintadas uniformemente e lembrou-se de diversas coisas que vivera ali. Sacudiu a cabeça para espantar esses pensamentos. Aqui era perfeito para se esconderem, a parte ruim é que traz muitas lembranças de tempos bons os quais não se sabia se teria novamente algum dia. Principalmente se considerar que ele perdeu diversos membros da família para o vírus e que a natureza do mesmo é desconhecida.
Levantou e pegou seu relógio de pulso em cima da cômoda branca e antiga, eram 06:27. Não sabia como aquele relógio ainda funcionava e esperava loucamente que sua bateria durasse mais um tempo, visto que graças a ele com sua função de mostrar a data, ele pode contar há quanto tempo o vírus apareceu. Hoje faz 5 meses e 28 dias.
Foi até o quintal e, andando com cuidado pela terra com um pouco de limo, foi em direção ao galinheiro de madeira. Por sorte, o vírus era incompatível com os animais então todos as galinhas que sua tia criava estavam vivas, se alimentando das frutas que ficavam maduras demais e caíam das árvores. Quando entrou no galinheiro viu vários ovos, pegando alguns para preparar um café da manhã pra ele e Vih. Pelo menos algo que não envolvesse mais miojo.
Voltou e testou o fogão: ainda tinha gás. Não sabia quanto tempo duraria mas pelo menos ainda podia usar. Procurou uma frigideira no armário da cozinha e achou uma bem velha. Por não vir de uma família rica ou algo do tipo, as coisas na casa de sua tia eram, em sua maioria, velhas. Por sorte, achou alguns condimentos não-perecíveis no armário, como 2Kg de sal e alguns quilos de feijão, arroz e farinha. Muito provavelmente estiveram por lá no São João. Era uma tradição da sua família viajar para aquele lugar em épocas como carnaval e São João, enquanto sua tia-avó, dona da casa, viajava sempre que podia.
Ele lembra que viajava para lá com sua mãe, seu irmão Daniel, sua irmã Marcela, e sua avó. Sempre que saíam da área urbana, ele se perguntava como conseguiam se guiar por ali se a paisagem parecia sempre igual. Para onde olhava, via-se campos e plantações, árvores e flores, lagos e riachos, ocasionalmente umas casas. Depois que cresceu, aprendeu que era simplesmente seguir pela principal, o que os salvou dessa vez porque se não soubesse, não conseguiria ter chegado ali com a Vih.
Enquanto quebrava o ovo e o colocava na frigideira que já estava chiando, ouviu passos se arrastando em direção a cozinha. Ao olhar pra trás, viu Vih bocejando e puxando a cadeira de madeira da mesa para sentar.
– Bom dia, flor do dia - Mateo disse e recebeu um grunhido de resposta - se eu fosse você, não me jogaria dessa forma na cadeira a menos que seu objetivo seja ir ao chão pra voltar a dormir.
– Por que você está tão bem humorado?
– Por que dessa vez não preciso comer seu miojo - ele riu.
– Você é um ingrato - ela soltou - e aposto que cozinha mal também. O que está fazendo, Chefe Gourmet?
– Ovo frito. Por que está tão mau humorada?
– Essas drogas de mosquitos não me deixaram dormir. Inferno.
– Bem vinda ao interior. Ao meio do nada - ele disse enquanto colocava o ovo no prato e servia pra ela.
Ela resmungou e começou a comer o ovo. Mateo fez mais dois ovos pra ele e sentou para tomar café com ela. Ficaram em silêncio porque Vih estava de mau humor e ele estava absorto em pensamentos. O que teria acontecido com os moradores daquele local? Até então não tinham visto nenhum infectado pelas redondezas, mas também não viram nenhum humano. Era um lugar afastado mas, por ser área rural, o povo plantava e vendia na cidade, então estavam em constante contato com pessoas. Iria investigar isso.
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Quarentena
FantasyEm um mundo passando por uma quarentena, onde infectados semi mortos com incríveis capacidades destroem todos que encontram, uma médica e um policial tentam sobreviver enquanto esperam isso passar. Autores: Gabriela Teixeira e Henri Sant. Capa por:...