Trégua

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Jason se aproxima lentamente, como se estivesse com medo de eu atacá-lo de alguma forma. No começo não entendo o motivo, mas logo me lembro do ocorrido e mudo meu semblante.

- Vá embora! Não é bem o melhor momento pra conversarmos sobre suas mentiras!

- Eu sei! Peço mil desculpas, e sei que não são suficientes, mas sei que não está bem! Que tal esquecer por um instante as mentiras... Eu juro que tenho uma explicação pra elas! Confie em mim!

- Confiar? Em você ? - debocho - Se tem algo que não posso te dar nesse momento é confiança.

- Então apenas aceite que eu te console por este momento, e depois se quiser que eu suma, prometo que o farei!

Olho para Jason, no fundo de seus olhos e vejo a compaixão que demonstra por mim. Um olhar acolhedor, de quem realmente quer meu bem. Por trás de todas as farsas talvez haja mesmo um coração bom.

- Tudo bem... Mas não quero falar sobre isso! Só ... Fique do meu lado, por favor!

    Ele se senta perto de mim. Perto de mais! E realmente obedece o meu pedido de silêncio. Chega a ser assustador. Ele não contesta, não questiona, não tenta falar absolutamente nada.

        E derrepente me vejo exatamente no mesmo lugar que estava antes... em uma escadaria, chorando ao lado de um cara que eu mal sabia o nome, mas estranhamente confiava.

    Os meus braços cruzados apoiados em meus joelhos se cansam da posição que minha cabeça faz entre eles. Depois de quase vinte minutos olho de vagar para a direção dele e encontro olhares fixos e preocupados sobre mim. E um pedido silencioso para devolver sua voz.

        Seco minhas lágrimas e respondo ao pedido:

         - Tudo bem... Você não precisa ficar mudo também!

       Ele respira fundo e agradece. Então, ao invés de disparar perguntas ou desculpas pelo que aconteceu entre nós, ele simplesmente estende os braços pra mim, me convidando para um abraço.

       O observo atentamente. Ele parece estar sendo sincero. Realmente deseja me ver melhor, por isso aceito o abraço. Mais algumas lágrimas escorrem, e ele as enxuga.

         - Se você está assim pelo fato de achar que vai ser mandada embora, esqueça isso. Você é amiga do príncipe agora, não é? Ele não permitiria que isso acontecesse.

         - De onde você tirou que eu sou amiga do príncipe?

         - Ele a convidou para o baile, não convidou?

         - Sim, mas...

         - Ele dançou com você o tempo que pôde, certo?

          - Acho que sim!

           - O príncipe é muito ocupado, principalmente agora que está quase atingindo idade para tomar as responsabilidades do pai. Ele não faria isso se não gostasse de você.

           - Ele não gosta! Gosta de uma imagem que tem de mim... Ele pensa que sou da realeza... Pensa que sou espanhola! Não faz ideia de que eu só passo de uma plebeia que será sua professora em alguns dias. Aliás professora por um dia. Que belo não é? Da até pra escrever uma peça!

            - Você inventou que era da Espanha? Não tinha outro lugar? Um que  você pudesse fingir melhor o sotaque?- pergunta rindo de mim.

          - Eu não inventei isso,seu bobo. Ele deduziu, e eu não neguei. Só isso!

          - Ah, entendi... Então você estava brigando comigo por eu não falar a verdade... Enquanto você faz exatamente a mesma coisa. Da onde eu venho isso se chama hipocrisia.

           - Você vai mesmo querer voltar a esse assunto? Porque acho que vai de arrepender!

             Ele me olha com um ar divertido de quem só está tentando me provocar . Eu me levanto e desço os poucos degraus que faltam para retornar ao térreo. Sigo em frente pra uma parte que ainda não tinha visto. Não haviam janelas nem muitas portas, só um corredor enorme. Continuei em frente e minha sombra me acompanhando em silêncio.

           - Aposto 5 lumins que você não faz ideia de pra onde está indo.- Fala depois de alguns minutos.

            - Eu não sei... Mas você sabe, não é?

            - Sei sim! - respponde confuso sem saber onde quero chegar.

             - Então não vai me deixar ir para nenhum lugar perigoso ou proibido , certo?

            Ele para e pensa por alguns instantes. 

             -Acho que não.

             -Ótimo. 

             Sigo caminhando. Meus pensamentos se perdem naquele corredor enorme e derrepente estou de volta à minha casa dando voltas infinitas no nosso pequeno corredor e decorando promes, mapas, insignias, épocas passadas e etc.

            Caminhar sempre fez minha mente esclarecer. Sempre me ajudou a pensar, mas aparentemente nesse momento simplesmente não havia o que pensar. Era o fim de uma era, o fim de um sonho. Tudo aquilo que sempre desejei,todo sucesso que sempre disseram que eu teria. 

             Sempre fui a melhor em tudo. Meus pais não aceitariam menos que isso. A medalhista da turma. A que nunca tira menos que A+ em todas as matérias. Boletim impecável. Futuro promissor. Todos me diziam que poderia ser o que eu quisesse. Decepção, essa seria a palavra que as minhas professoras, meus pais e todos que já estudaram comigo teriam para mim agora.

              Mas então tudo começa a fazer sentido. E se realmente não era pra ser? Nunca foi algo que partiu de mim. Será que depois de todos esses anos eu não merecia escolher meu próprio destino? Esse pensamento me pareceu ingrato por um momento. Eu sabia que por mais que fossem duros comigo meus pais só desejavam o melhor para mim mas e se essa ideia toda de perfeição, essa cobrança toda pudesse finalmente acabar? Isso não seria exatamente um pesadelo.

             A tristeza se vai e dá lugar para outros pensamentos, dentre eles um que havia me esquecido.  A decisão de ser grata e aproveitar ao máximo o palácio. Quantas pessoas teriam a oportunidade que estou tendo? Morar em um castelo, mesmo que por apenas alguns dias era um privilégio sim e deveria ser aproveitado.

           - Conhece um rapaz chamado Derick?- Pergunto já tendo em mente nossa próxima parada.

  

A Governanta e o PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora