Capítulo 31

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Thiago Santos

Já se passaram três dias que foi retirada a sedação da Alicia, mas ela não acorda. Estamos todos em volta dela naquele quarto frio. Estávamos muito apreensivos e até mesmo os médicos não compreendiam o porquê dessa demora. Como tinha esperanças de vê-la acordada trouxe comigo dona Josefa e a Laurinha.

— Tio, a tia Li tá dormindo com os anjinhos? — a quase miniatura da Alicia me perguntou.

— É princesa, ela está dormindo.

— E quando ela vai acordar tio? Quero brincar com ela — disse com a carinha triste.

— Eu não sei Laurinha, espero que seja logo.

Dona Josefa se achegou ao meu lado ouvindo a minha conversa com a menina e me abraçou.

— Minha menina tem sorte em ter você filho.

— Não dona Josefa, eu que tenho — sorri.

Saí da conversa e do sentimento de melancolia quando vi aqueles lindos olhos azuis se abrindo, meio assustados tentando descobrir onde estava.

— A tia Li acordou — Laurinha disse com um imenso sorriso.

Sim! O meu grande amor acordou.

Alicia Moreira

Sinto meu corpo dormente, uma sensação estranha se apossa de mim, aos poucos vou ouvindo conversas. Onde será que eu estou? Busco forças para abrir meus olhos, mas parece que não descanso há dias.

Sinto um incômodo na garganta e ouço barulhos irritantes de aparelhos. Não sei ao certo que tipo de aparelho é, mas cansei desse "PI".

Tento me concentrar ao máximo, e consigo abrir meus olhos, vejo que estou deitada em um quarto de hospital e todas as lembranças vem na minha mente. O sequestro, a tentativa de estupro, as pancadas, a polícia, o Thiago. Assim que minha visão fica totalmente clara ouço a voz mais linda desse universo, o que me fez pensar que estava no céu.

— A tia Li acordou.

Era ela, Laurinha. Olhei ao meu redor e vi o bando de amigos chorões que eu tenho, meus pais, meu irmão, até mesmo dona Josefa e claro o meu grande amor. Fiz menção de que queria falar, mas com aquela coisa em mim não dava.

— Calma mocinha, nós já vamos tirar isso — disse o doutor.

Aos poucos eles foram tirando, e senti uma ardência, mas não liguei, queria logo falar com todos eles. Percebi que meus pais se aproximaram com um ar de reprovação, olhei para o Thiago e com um fio de voz tentei falar.

— Eles já sabem? — ele acenou que sim com a cabeça dando um imenso sorriso.

— Sim filha, nós sabemos — mamãe disse — Nunca mais nos assuste dessa maneira, ficamos com medo de te perder.

Ela me abraçou e em seguida papai e meu irmão.

— Ali nunca mais vá pra casa de um homem sem minha permissão — disse Miguel sério — Mas, como vocês se amam não vou dar ataque, mas ele que se cuide, estou de olho.

Sorri com aquilo, minhas amigas doidas vieram me abraçar e falaram que tinham muitas novidades. Dona Josefa com aquele jeito meigo de sempre disse que sentiu minha falta nesses dias, que tinha rezado muito para minha melhora. Laurinha estava no colo do Thiago, ficamos só nós três

— Oi meu amor — me deu um beijo casto — Eu estava com saudades.

— Oi tia Li — Laura me deu um abração.

— Oi amor, oi pequena. Que saudades que eu estava de vocês.

— Tia você salvou o tio né? — ela era uma menina esperta, e sabia muito para sua pouca idade.

— Não pequena, eu não fiz nada.

— Sim princesa, ela salvou o tio, e agora o tio tem que cuidar dela, você ajuda?

— Obaaaaaaaa, claro tio — disse ela animada.

— Então está combinado! Laurinha pode deixar o tio e a tia a sós? Vai lá com o tio Miguel ok?

— Ok tio. Tia fica bem logo pra brincar de princesa comigo ein — ela me deu um beijão e me abraçou.

Assim que a minha princesa saiu, meu grande amor chegou até mim e me beijou com vontade, céus, que saudade disso.

— Você se sente bem Ali? — ele perguntou preocupado.

— Sim, minha garganta arde um pouco e estou com medo da cicatriz que ficou.

— Eu vou te amar do mesmo jeito sua boba — espalhou beijos por todo meu rosto — Eu fiquei com medo — ele disse olhando agora pro chão — Medo de ter te perdido, medo de levar essa culpa pro resto da minha vida, você não devia ter feito isso.

— Ei — puxei seu queixo e fiz ele olhar pra mim — Presta atenção, essa confusão toda aconteceu por minha causa, meu término com o Ícaro que não superou, você ia morrer por minha causa e eu não deixaria isso acontecer. Preferi que você continuasse vivendo — sorri — Mas, agora eu estou aqui, bem, falando que nem uma matraca não estou?

— Sim está, senti falta da sua voz e das suas reclamações. Ah, seus pais já sabem de tudo, tive que enfrentá-los sozinhos — riu — Mas valeu a pena, agora seremos apenas nós dois.

— Não corremos mais riscos?

— Não, eles prenderam toda a quadrilha e pelo que conheço o delegado vão ficar por lá um bom tempo.

— Obrigada por ter ido me salvar.

— Não precisa agradecer, você foi corajosa mandando a mensagem pro Rúben e enfrentando aqueles loucos — cheguei mais perto dele beijei sua testa, seu nariz e por fim sua boca, a sensação era única, era tão bom, aquilo me desligava do mundo.

— Eu te amo pra sempre — disse mordendo seu lábio.

— Menina não faz isso — eu ri — Eu também te amo pra sempre.

Ficamos conversando mais um pouco e aproveitando o momento e então meus pais voltaram, o doutor logo iria passar no quarto para falar algumas coisas. Ficamos apreensivos, mas isso não matou minha alegria e esperança que ainda estavam dento de mim.

Cerca de meia hora depois ele apareceu, disse que estranhou o fato de eu não ter acordado depois de tanto tempo sem a sedação, disse que a marca da minha cirurgia estava em bom estado, não tinha infeccionado nem nada do tipo, disse que retiraram completamente a bala e que ela não tinha se estilhaçado evitando outros problemas mais graves pra mim.

Além disso, eu ficaria mais alguns dias no hospital e logo teria alta, ele disse que eu sentiria dor e que eu não podia ficar abusando, tinha que fazer poucas coisas e bem devagar. Nada de extravagâncias.

Sorri com aquelas boas notícias e agradeci a Deus por tudo o que Ele estava fazendo. 

ALÉM DO QUE SE VÊOnde histórias criam vida. Descubra agora