BiancaEscutei da cozinha quando Tiago anunciou a eliminação do Pyong pela televisão da sala, bem como escutei as exclamações incrédulas dos participantes restantes na casa. Minha satisfação por esse resultado tão esperado foi substituída pela minha curiosidade sobre a conversa que Mari tinha, naquele instante, com sua amiga. Ela cochichava a poucos metros de onde eu fingia procurar a pipoca que eu sabia que tinha acabado. E, apesar do tom baixo da conversa, eu ainda conseguia ouvir alguns trechos:
— Eu saí de casa — escutei Mari dizendo num tom paciente, com o telefone no ouvido. Saad deve ter falado algo porque Mari começou a perder a paciência logo em seguida: — Porque eu quis!
E então emendou após mais uma fala de Saad: — Não interessa onde eu estou.
Eita. Era muito raro ver Mari tão revoltada.
Mariana ficou em silêncio por uma longa pausa, e eu, para fingir que não prestava atenção, abri gabinetes aleatórios da cozinha. — Nem tudo se resume a contrato, caramba! — Eu me assustei quando Mari exclamou no telefone. Aquele tom era tão atípico vindo dela que ela logo se desculpou: — Desculpa, amiga. Desculpa. Eu só estou estressada com tudo isso.
Mais uma pausa em que imaginei Saad do outro lado argumentando a favor do escroto do ex da Mari, provavelmente sem imaginar a expressão de desgaste que tomava o rosto de Mari. A bichinha estava acabada e era visível. Ela afundou o rosto nas mãos, frustrada, e me segurei para não ir lá confortá-la.
— Eu não preciso de tempo para pensar, Mariana. Eu não vou mudar de opinião. Eu não penso em voltar com ele — Mari falava com muita certeza. — Eu sei que vocês também são amigos dele e tudo bem, sabe. Eu não espero que ninguém o trate diferente por minha causa. Mas também não quero que, por causa dessa amizade com ambos, vocês achem que devam nos juntar porque não vai rolar.
Pausa. — Porque não vai, Mariana!
Arregalei os olhos. Era incomum ver Mariana alterada assim; ela era sempre a mais paciente e conciliadora do grupo.
Saad continuava a falar e eu não tive mais como disfarçar que eu prestava atenção naquela conversa porque, de repente, os olhos de Mari cravaram nos meus e, em silêncio, pareceram me chamar para perto.
Sentei no sofá, dando um espaço entre nós, não querendo invadir a privacidade da conversa dela, mesmo que eu estivesse fazendo exatamente aquilo segundos antes (mas era escondido, então não contava). Mas, para minha surpresa, Mari deitou com a cabeça nas minhas pernas, encarando o teto. Minhas mãos automaticamente fizeram-lhe um cafuné; era óbvio que a conversa não estava fazendo bem a ela.
Dois minutos depois, Mari desistiu da conversa, prometendo à amiga que elas poderiam se falar melhor depois quando ela estivesse descansada. Encerrando a chamada, ela jogou o aparelho no sofá com raiva.
— Produtiva a conversa? — perguntei com sarcasmo. Ela bufou.
— Eu amo minhas amigas, amo. Mas elas precisam parar de achar que eu sou incapaz de tomar minhas próprias decisões. Sabe o que aprendi na casa? — eu neguei com a cabeça, minha mão ainda em seus cabelos enquanto ela me encarava. — Aprendi que posso ser independente em todos os sentidos. Eu precisei formar minhas próprias opiniões e confiar na minha intuição para não surtar lá. Foram só dois meses, mas é foda sair agora e todo mundo querer me dizer o que é melhor para mim. Sei que eles têm as melhores intenções. E sei que o BBB abriu muitas portas para mim e que eu não posso desperdiçar essa oportunidade. Mas fui eu quem fui para casa, eu quem passei por todas as experiências, eu que fiz meus seguidores crescerem e eu que atrai mais patrocinadores por causa disso. Tudo isso sendo quem eu sou, sabe? E agora querem me dizer como gerenciar tudo isso como se não fosse uma conquista minha. Não que eu seja ingrata, não sou. Sei que meus amigos me apoiaram aqui fora, inclusive você — eu sorri para ela, ouvindo atentamente cada uma das suas palavras e me identificando com todas. — E sou muito grata. Mesmo, Bia. Mas isso não dá a ninguém o direito de me dizer como seguir com minha vida ou com quem devo ficar para manter uma imagem com apelo para as marcas. Minha intuição deu certo até aqui e não quero abandonar isso agora que estou ganhando essa confiança em mim. E se for para errar e quebrar a cara, tudo bem. Faz parte.
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Quarentena em São Paulo
FanfictionNo pós-BBB, Bianca Andrade acredita que Mariana González não queira mais manter a amizade das duas iniciada na casa. Por mais que a carioca tentasse uma aproximação com a ex-sister, Mariana parecia desinteressada e distante. Até que um dia, em plen...