Quarentena, dias 23 e 24

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Mariana

Da mesa onde eu fazia minhas anotações para levar a minha possível nova assessora, observei quando Bianca passou por mim em direção à sala e cuidadosamente ajustou o celular no tripé. Com o cabelo escovado e um moletom, ela montou o cenário: a luz indireta, a mesa de centro afastada e um funk ao fundo. E, sem nenhum aviso, começou a se filmar dançando.

Absolutamente do nada.

Eu tinha visto Bianca dançando em diversas ocasiões. Em eventos aleatórios em que nos esbarramos, ela sempre se destacava quando começava a rebolar a raba. E nem era só porque Bianca tinha uma beleza absurda e um corpo perfeito. E não era, tampouco, porque o corpo dela parecia em perfeita sintonia com toda batida do funk, quase como se a música acompanhasse os movimentos da sua bunda e não o contrário. Mas sim porque Bianca tinha um magnetismo tão intenso que era impossível fixar os olhos em qualquer coisa além dela. A sensualidade que ela irradiava era envolvente demais.

Na casa do Big Brother, eu tive a oportunidade de apreciar Bianca dançando comigo. E tinha sido uma mistura irresistível de diversão e tortura. Ela provocava com cada rebolada, suas mãos puxando meu corpo com segurança, girando o quadril e se encaixando de frente ou de trás. Era impossível não querer acompanhar e enlouquecer junto, jogando todas as consequências para o alto. Mas era igualmente impossível acompanhar; ninguém dançava como ela e ninguém se expressava tão livremente. Aquele era o show dela e ela sabia - e era aquela confiança a cereja do bolo. O que tornava assistir Bianca fascinante e inevitável.

Tentei voltar às minhas anotações, mas meus olhos não conseguiam ficar longe de Bianca dançando. Eu queria gravar cada movimento do seu corpo, desde sua coxa, subindo pela sua bunda até suas costas arqueando quando ela voltava após descer até o chão. Bianca tinha até as costas sensuais, como era possível?

Eu sabia que eu me sentia atraída por ela. Acho que todo mundo se sentia atraído. Se duvidar, até Bianca, no fundo, sabia que ela tinha quem quisesse na mão. E tudo bem. Atração era uma reação química comum, bastava ter hormônios para sentir.

O problema era que, agora, eu me sentia dominada por aquela atração. De repente, eu não queria, eu não conseguia ser racional. Por alguns instantes, todas as minhas células pareciam existir apenas para a desejar.

Desde muito jovem, eu atraía olhares e não demorei muito para aprender a usar minha beleza para conquistar os outros e, mais frequentemente, provocar os outros pelo simples prazer de instigar. Sedução era, em regra, o meu jogo.

Bianca, contudo, o inverteu totalmente. E eu sabia que ela não sabia disso ou, então, ela já teria me feito comer em suas mãos. Claro, ela sabia que eu a provocava, ela própria me disse - bêbada, mas disse. Ela sabia que eu gostava de a atiçar e que eu amava ver os sinais de excitação nela. Mas ela não sabia que minha vontade não era tão superficial assim. Minha vontade não mais terminava em brincar com os hormônios dela e ir dormir. Eu queria ir além. Eu queria tanto ir até o fim que meu corpo doía.

E aquela constatação foi tão súbita que quase deixei de respirar.

Bianca terminou de dançar antes mesmo que seu corpo começasse a transpirar. Alheia aos meus olhos, ela pausou a gravação e se sentou no sofá, atenta ao celular. Eu achava que ela podia estar postando o vídeo nos stories ou enviando a alguns amigos. Ainda sem perceber minha atenção, ela tirou o moletom, ficando apenas de short e top e deitou no sofá de bruços, apoiada em uma almofadada, seu rosto de frente para a janela enquanto sua bunda ficava virada para mim. Mesmo de longe, conseguia enxergar a linha muito fina de sua calcinha sob o short apertado que moldava o que ela tinha de melhor.

Quarentena em São PauloOnde histórias criam vida. Descubra agora