Mariana
Era estranho não usar a chave do meu antigo apartamento, mas seria ainda mais estranho usá-la se eu não morava mais ali. Então, pela primeira vez, apertei a campainha. Dei-me conta só naquele instante que terminar com Jonas depois de anos significava me acostumar a muitas coisas que, num primeiro momento, seriam estranhas.
Por exemplo, a noite de ontem. Eu estava tendo flashes dos meus momentos com Bianca o tempo inteiro, era até difícil de me concentrar em outra coisa. O momento que ela tinha tentado me beijar, em especial, me atormentava. Veja bem, não era inédito que alguém tentasse me beijar, mesmo quando eu estava namorando. Antes, porém, o fato de eu estar namorando, de antemão, já me impedia de sequer cogitar aceitar o beijo ou, pior, desejar o beijo com uma intensidade tal que me paralisava.
Mas agora era tudo no que eu pensava: o beijo que nunca aconteceu. Eu tinha desejado beijar Bianca. E não daquela forma casual, sob influência de álcool, que você deseja pegar alguém e seguir a vida logo depois, possivelmente nem lembrando a cara da pessoa no dia seguinte. Não era nada disso. Com Bianca, era um desejo específico pela boca dela. E era um desejo tão poderoso que parecia vibrar em cada célula minha.
E mesmo assim, na hora que estava prestes a acontecer, eu andei para trás.
Parabéns, Mariana — a voz na minha cabeça debochou da minha cara. Você se superou.
A porta do apartamento se abrindo me arrancou dos meus lamentos:
— Mariana, oi — Jonas surgiu sem camisa na minha frente e, me tomando de surpresa, me deu um beijo na testa como se fosse a coisa mais normal do mundo e como se o mundo não falasse em distanciamento social o tempo inteiro.
Você não pensou em distanciamento ontem se esfregando na Bianca — a maldita voz de novo.
— Oi. Bom dia.
Antes que eu entrasse na nossa antiga casa, meus cachorros vieram correndo para cima de mim, latindo e cheirando meus pés, os rabinhos abanando de tanta excitação. Eles não sabiam se pulavam em cima de mim ou se corriam ao meu redor e, imediatamente, me enchi de carinho por aqueles bichinhos. Se tinha algo que eu sentia falta de morar com Jonas era os cachorros e como eles me seguiam em todos os lugares. A gata de Bianca era antissocial e parecia me querer fora de casa metade do tempo.
— Por que não usou sua chave? — Jonas me questionou enquanto eu deixava tudo na porta de entrada e passava meu álcool em gel antes de brincar com os cachorros, acariciando todos atrás da orelha e rindo das respirações ofegantes depois de se agitarem tanto com meu retorno.
— Ué, eu não moro mais aqui.
Não era óbvio?
— Mesmo assim — ele cruzou os braços e me observou brincar com os cachorros, sorrindo brevemente quando eles me derrubaram e me obrigaram a sentar no chão. — Você precisou acordar muito cedo para chegar aqui? — Percebi que ele insistia em sondar sobre onde eu estava. Mas eu e Bianca tínhamos decidido não contar a ninguém por diversos motivos; o principal deles era que eu não queria ser encontrada, um sentimento muito reconfortante quando eu tinha passado dois meses superexposta na casa mais vigiada do mundo.
— Não — continuei a sentir seus olhos em mim. Levantei a cabeça para o encontrar com uma expressão, hm, peculiar. — Por que está me olhando assim?
— Você está de ressaca — ele afirmou e eu senti seu tom carregado de julgamento.
— E...?
Fingi indiferença, mas eu temia que ele pudesse descobrir e estourar a bolha que Bianca e eu tínhamos criado ao nosso redor. Jonas pareceu sentir que eu escondia algo e me encarou com o cenho franzido. Eu já sentia a energia do ambiente mudar como geralmente acontecia antes de começarmos uma discussão que não levava a lugar nenhum. Mas, por sorte, Luís apareceu:
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Quarentena em São Paulo
Fiksi PenggemarNo pós-BBB, Bianca Andrade acredita que Mariana González não queira mais manter a amizade das duas iniciada na casa. Por mais que a carioca tentasse uma aproximação com a ex-sister, Mariana parecia desinteressada e distante. Até que um dia, em plen...