Bianca
— Bianca do céu! As suas notificações! — Miguel exclamou com meu celular nas mãos. Ele nem piscava os olhos ao encarar a tela do aparelho, seu dedo frenético subindo e descendo pelas notificações que só se acumulavam após minha live com Marcela. — Tá todo mundo falando disso!
Fiz uma careta, incerta se eu queria saber o que exatamente estavam dizendo.
Eu e Marcela tínhamos acabado de transmitir um jogo de "Eu Nunca" para mais de cem mil pessoas madrugada adentro e — como era de se esperar — eu tinha bebido um bocado durante a live. Era da minha natureza me expor gratuitamente e o álcool serviu de combustível para tal. Eu me tornei a minha versão mais divertida, desbocada e kenga. Foi inevitável esquecer das cem mil pessoas e contar algumas das minhas intimidades, reviver memórias e jogar uns flertes inocentes.
Durante a transmissão, entrei em uma zona nebulosa em que eu falava tudo que atravessava a minha mente. Sem papas na língua, respondi sobre todos os temas levantados. O jogo corria rápido, evoluindo para perguntas cada vez mais picantes sobre nossas experiências sexuais. Meu cérebro, em contrapartida, funcionava devagar, os pensamentos espaçados. Era difícil de registrar tudo que saia da minha boca. Mesmo agora, apenas alguns minutos depois do seu encerramento, eu já nem mais tinha certeza de tudo que eu tinha falado na live — e, me conhecendo, talvez fosse melhor não ter.
Ainda assim, um trecho da live eu não tinha como não lembrar. Não apenas por ser memorável, mas sim porque uma evidência dele estava na minha frente, sobre a mesa da minha sala, implorando para ser notado: meu vibrador rosa.
— Eu não mostrei o pinkinho na live, não, né? — Perguntei sabendo a resposta: sim, eu tinha mostrado, acariciado e beijado meu vibrador para milhares de pessoas que assistiam a transmissão do "Eu nunca".
— Mostrou — a resposta foi curta, mas não grossa. Miguel, no fundo, estava se divertindo às minhas custas, mesmo que encenasse estar exasperado. — Não sei por que me surpreendo. Você não se preserva mesmo! Era só responder se tinha ou não vibrador, mas não... Precisou perguntar se ela queria ver!
— E qual seria a graça disso? — Rebati com um sorriso desavergonhado.
— A graça eu não sei, mas tornaria meu trabalho muito mais simples. Eu realmente mereço um aumento por toda a contenção de danos que preciso fazer quando você sai falando tudo que vem a mente — reiterou o pedido de aumento do salário, uma piadinha nossa por todo o estresse que eu o fazia passar.
— Desculpa, amigo, juro que na próxima eu me comporto — prometi. O olhar desesperado que recebi de Miguel em resposta me fez gargalhar até minha cabeça pender para trás.
— Eu me demito antes de você pensar em uma próxima vez!
— Se demite nada, você não sabe viver sem mim — afirmei e só então percebi minha voz rouca e arrastada. — Mas confessa: foi divertido, vai. A Marcela é foda, né?
— Melhor não ficar repetindo muito isso, não, ou sua namoradinha vai sentir ciúmes — provocou, apontando na direção do corredor que levava até o meu quarto, onde Mari estava.
Se eu já não sentisse aquele calor característico de quem bebeu umas, eu perceberia minhas bochechas em chamas com a lembrança que Miguel trouxe à tona. Pelo final da live, Mari surgiu — do nada! — nos comentários falando que estava com ciúmes de mim. A falta de emojis e risadas me balançou na hora. Cogitei por um segundo que ela falasse sério, mas então me lembrei de sua natureza debochada e de como nossos seguidores brincavam que éramos um casal.
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Quarentena em São Paulo
FanfictionNo pós-BBB, Bianca Andrade acredita que Mariana González não queira mais manter a amizade das duas iniciada na casa. Por mais que a carioca tentasse uma aproximação com a ex-sister, Mariana parecia desinteressada e distante. Até que um dia, em plen...