Encontros

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 Mirio passou por uma cirurgia sem complicações, se recuperando bem nos dias seguintes com visitas frequentes dos amigos. Tamaki estava presente no quarto sempre que podia, aliviado com a recuperação do namorado e oferecendo companhia para este. Midoriya compareceu à maca do cabo, com olhar entristecido e ar culpado, confessando que estava presente durante a confusão.

 Togata não o culparia nem em um milhão de anos, na ausência de uma pistola e colete à prova de balas, que bom seria mais um oficial abatido? Primeiramente acalmou o soldado, seguindo para o animar com o otimismo constante e brincadeiras habituais. Por mais que sempre aparentasse um sorriso, também tinha sido afetado profundamente pela perda, chorando sem reservas quando foi capaz de comparecer ao enterro de Nighteye ao receber alta.

 Tirou licença do trabalho, recuperando-se em casa, para Amajiki sequer foi necessário explicar a situação, Fatgum já estava ciente e lhe permitiu o afastamento do trabalho para tomar conta do loiro no apartamento que dividiam. Estava sentado do lado direito da cama de casal, observando as partes cobertas por curativos no corpo alheio, as quais consistiam da coxa esquerda e a cintura, do mesmo lado.

 Suspirou, pensando nos eventos recentes assim como o que estava por vir, empático com o entristecimento de seu sol. O outro jovem ressonava baixo, acordando com o leve passar da mão cuidadosa afagando seus cabelos, notando em seguida o olhar insatisfeito:

 — Tá tudo bem, amor? — removeu a mão dos fios amarelos para entrelaçar os dedos nos seus.

 — Desculpa te acordar. — respondeu desviando o assunto, corando e se escondendo um pouco no casaco branco que usava.

 — Não tem problema nenhum, eu provavelmente ando dormindo demais mesmo. — riu para quebrar a tensão, puxando e beijando o dorso da mão do outro, relaxando-o — Mas enfim, você parece meio triste.

 — Não é nada, eu na verdade to feliz que você tá se recuperando bem. Inclusive... — esfregou o braço direito com a palma, ato que aumentou sua aura de fofura — eu queria saber se você acha que tá tudo bem sair, tipo nós dois, daqui uns três dias... se não se sentir bem tudo bem...

 Mesmo que dissesse, o final não era completamente verdade, seu tom trazia uma leve denúncia de como queria uma confirmação, perceptível ao segundo residente. Havia algo de incomum, algo importante ligado àquela fala que não fazia ideia do que era, perdido em sua memória, soterrado pelo luto que ainda passava:

 — Acho que sim, por quê? — ergueu o tronco e sentou-se sobre o colchão macio, sentindo uma minúscula dor no ferimento da cintura.

 O homem de cabelos azuis fitou o chão, em uma expressão de certa forma desapontada, porém compreensiva da quantidade de stress que Mirio esteve sujeito a durante os últimos dias, explicando em seguida:

 — Vai ser nosso aniversário de namoro...

 De tudo que podia se esquecer, se sentiu mal por não recordar daquilo, principalmente pois vinha pensando no que fazer nesse dia por um mês, perdendo a linha de raciocínio completamente depois da morte do Capitão:

 — Poxa amor, desculpa, eu esqueci, vamos sim, o que você quer fazer?

 — Eu tava pensando em ir naquele restaurante que você disse que queria conhecer.

 — Parece ótimo. — sorriu abertamente, trazendo um de canto para o rosto do namorado — E pra fazer agora, você quer assistir alguns filmes?

 As íris escuras brilharam e o ferido foi incapaz de conter o riso com a adorável face diante de si, passar a tarde na frente da televisão abraçado com Togata era definitivamente o que mais gostava de fazer. O braço do amado passou por seus ombros enquanto Tamaki se aconchegava no local, localizando o controle remoto na mesa de cabeceira e o utilizando para adentrar o aplicativo onde veriam os programas.

 Em outro bairro, Izuku ainda trabalhava, dessa vez auxiliando uma blitz, lidando com aqueles que se recusavam a realizar o teste no etilômetro. Sem muitos resistentes ou embriagados, teve a oportunidade de relaxar e observar o trabalho realizado pelos guardas de trânsito. Eventualmente, foi parado um automóvel cinza, ficou surpreso pela coincidência de ver duas orbes heterocromáticas o encontrando em meio aos oficiais do poder executivo presentes e encarando de volta, já com o capacete guardado.

 Seguiu as orientações da fardada, provando encontrar-se completamente dentro da legislação naquele momento, ao final, comentou algo com o celular na mão, sendo seguido por uma confirmação gestual enquanto a mulher ia na direção oposta. Parou não muito longe do militar de cabelos verdes, destoando dos veículos apreendidos pela distância e a presença do dono utilizando o smartphone. Convidou para que o jovem mais velho se aproximasse com um olhar em sua direção e um sutil momento de cabeça:

 — Eu vou ali ver qual a situação daquele cara. — anunciou aos colegas, recebendo "ok"s e respostas do tipo.

 Caminhou até o mais alto, fazendo com que abaixasse o telefone:

 — Não achei que ia te ver tão cedo depois do tiroteio. — comentou o bicolor

— Nem eu, nada de casacos falsificados hoje? — questionou meio brincando, conseguindo um riso pequeno.

 — Não, tenho algumas coisas a fazer hoje. — abriu o aplicativo de contatos na tela touch — Alguma chance de eu conseguir seu número?

 — É só pra isso que você ficou aqui?

 — Na verdade eu realmente tinha que mandar uma mensagem e pedi pra moça que me deixasse ficar perto da polícia, sabe como é, aqui é cheio de pivete. — olhou ao redor por costume — Se eu puder ter seu contato fico feliz também.

 Com um suave rubor nas bochechas sardentas, decidiu entregar os dígitos, ditando e confirmando se haviam sido escritos certo. Todoroki montou na motocicleta, dando um sorriso de lábios fechados antes de colocar o equipamento de proteção e passar a dirigir, deixando Midoriya só. O adulto fez seu percurso de volta para a área de trabalho, utilizando a mesma desculpa de Shoto quando perguntado o que o rapaz peculiar fazia ali.

 Um dos assalariados chegou a dizer que parecia simpático, pelo tempo de conversa, recebendo uma confirmação do de olhos esmeralda. Fazia um tempo que alguém flertara consigo, não faria mal explorar a oportunidade que lhe caiu de paraquedas, faria?

Boku no morroOnde histórias criam vida. Descubra agora